Futebol e Democracia

Todos os que defendem o esporte aplaudiram a saída do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, sem dúvidas. No entanto, pelo andar da carruagem, esse fato está muito longe de significar o advento da democracia na gestão do futebol brasileiro.

A começar por quem vai substituir o "rei da bolada" no comando da entidade suprema do futebol em nosso país.

José Maria Marin é o vice-presidente da região Sudeste na CBF (todas as regiões tem um vice) e foi escolhido por ser o mais erado de todos, seguindo o que ditam os estatutos da entidade.

Ao tomar conta do pedaço, ele foi logo avisando que ficará no cargo até o fim daquele que seria o mandato de Teixeira, que ali ficou empoleirado por 23 anos. Ou seja, o novo presidente ficará até 2015, depois da Copa das Confederações, ano que vem, e da Copa do Mundo de 2014, ambas no Brasil.

Marin foi presidente da federação paulista, vereador da cidade de São Paulo e até governador do estado, em 1982, quando era o vice biônico de Paulo Maluf e este deixou o cargo para se candidatar à presidência da República. Seu perfil é um desfiar de fatos e atitudes visceralmente afinadas com Teixeira. É unha e carne.

É bom lembrar que a CBF é uma entidade privada, uma ONG, não passível, pois, de alguma intervenção direta do governo ou do Congresso Nacional, por exemplo. Quem manda lá são os 27 presidentes de federações, dos estados e do DF, que fazem e desfazem ao bel-prazer, sem ter que dar satisfação a ninguém.

E aí entra uma questão importante, sempre ignorada. É o fato de que além dos cartolas, os dirigentes de entidades e clubes, existem as figuras do jogador e do torcedor, por exemplo. Mas esses são obrigados a se satisfazer com as jogadas dos dirigentes, que fazem e acontecem, em manobras que envolvem muita grana.

Quando foi eleito presidente da CBF pela primeira vez, em 1989, Teixeira era um empresário falido, segundo seu sogro, o cartola global João Havelange. Hoje, no entanto, seu patrimônio é de fazer inveja a qualquer milionário do mundo. Ele faz da CBF uma entidade mais que privada. É particular. E Marin é do mesmo time.

Quando se fala em clubes brasileiros, devemos levar em conta que estamos falando de uma minoria. São, quando muito, aqueles que estão nas duas primeiras divisões que têm competições nacionais. Mesmo as terceira e quarta padecem de desemparo. E há milhares de times, espalhados Brasil afora, que mal conseguem ter uniforme e sobrevivem pelo suor de alguns abnegados.

Esse futebol é solenemente ignorado pela CBF. É alvo apenas dos olheiros, que rodam o País em busca de garotos que se destaquem em alguma várzea e são levados para escolas de clubes maiores. Na maioria dos casos, essa transferência é feita numa relação direta com as famílias dos meninos (e agora também meninas).

É certo que a legislação esportiva brasileira melhorou bastante nos anos 2000. Mas, na prática, no que diz respeito ao futebol, a novela é a mesma. Sair Teixeira para entrar Marin é trocar seis por meia dúzia.

Falta mudanças na estrutura, para democratizar esse esporte em todas as suas escalas, inclusive nas entidades que nele mandam e desmandam. Alguns cartolas ricos, milhares de jogadores e times pobres — é assim que prosseguimos.

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