A China do Campo

Em 1949 o exército popular, composto essencialmente de camponeses e sob a liderança de Mao Tse Tung, conquistava o poder político na China. Iniciava, assim, a construção da nova sociedade socialista e inaugurava a teoria do “cerco da cidade pelo campo”, o que acabou sendo copiado mecanicamente em varias partes do mundo sem que se levasse em conta a particularidade chinesa, ou seja, um país essencialmente rural.

A China de então era um país feudal, atrasado, com milhões de miseráveis. Cometeu erros e acertos, sem dúvida, na sua trajetória de construção da nova sociedade. Mas avançou! E do país feudal e miserável de 1949 a China se converteu na 2ª potência mundial. Isso em apenas 60 anos – tempo simbólico – em se tratando de um país de cinco mil anos de história.

O que vi na China de 2012 revela que o país, sem abrir mão de suas raízes históricas, busca aprimorar o processo produtivo no campo e, ao mesmo tempo, ampliar a planta industrial urbana, inclusive com o deslocamento de milhões de camponeses para as cidades – isso mesmo, 200 milhões, segundo se comenta por lá. Um país que produz 580 milhões de toneladas de grãos!

As providências para manter esse equilíbrio são se várias ordens. Consideram tanto medidas de ampliação de benefícios e de direitos para os camponeses, como medidas preventivas de apoio social aos que eventualmente migrarem para as cidades. Essas medidas consideram, dentre outras questões, o fato de que a China só dispõe de 140 milhões de hectares agricultáveis, dos quais mais de 110 milhões já estão em uso, e que algo como 70% da população chinesa ainda vive no campo.

Assim, para incentivar a migração do campo para as cidades, eles estão construindo 10 milhões de unidades ao ano para receber esses novos habitantes e, evidentemente, preparando a necessária capacitação para transformar camponeses em operários.

As medidas destinadas ao campo são, dentre outras, o direito das famílias passarem a terra aos seus descendentes, subsídio da atividade produtiva no patamar de 30%, beneficiamento da matéria prima, modernização tecnológica, apoio sócio cultural, habitacional, educacional e sanitário. Além de políticas de comercialização, escoamento, armazenamento.

O papel e a importância do camponês e do setor primário de maneira geral na China podem ser mensurados pelo destaque que o governo chinês dar aos eventos do campo. Fomos a uma feira agrícola na cidade de Heze, uma “cidadezinha” de 9,8 milhões de habitantes. A pompa que ali observamos era digna dos maiores eventos em qualquer parte do mundo. Estavam presentes os maiores dignitários da região, gente, muita gente – o que é redundância na China – equipamentos de toda natureza a preços acessíveis e, surpresa, salvas de canhão para inaugurar a feira.

Nessa área, por razões óbvias, eles veem os brasileiros como parceiros estratégicos, tanto pelo que o Brasil já exporta, como pelo enorme potencial do país: possibilidade de 3 safras ao ano, imensa maioria de seus solos agricultáveis e dono de uma razoável tecnologia. Isso exige que não apenas entendamos, mas tiremos consequência dessa avenida aberta.

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