Depois da Líbia, a Síria

A aprovação pela Assembleia Geral da ONU no dia 16 de fevereiro passado de nova resolução não somente condenando o governo sírio, mas também preconizando a renúncia do presidente Bashar Al Assad foi motivo de júbilo nos meios imperialistas e facho-sionistas.

Sarkozy, o gnomo maligno francês e seu parceiro britânico Camarão estavam entre os mais exultantes. Graças a sete meses de “bombardeios humanitários”, sempre em nome dos “humans rights” e da “democracy”, eles deram impulso decisivo à sedição reacionária que derrubou Khadafi e carta branca aos marginais políticos que agora mandam e desmandam na Líbia destroçada. A morte atrozmente ignominiosa que infligiram a Khadafi dá a medida da qualidade moral e do espírito humanitário da tropa mista de mercenários e de fundamentalistas islâmicos a serviço do feudalismo petroleiro árabe e do neocolonialismo do “Ocidente”.

A Líbia, sabemos todos, foi apenas o mais recente capítulo da ofensiva neocolonial lançada pelo mesmo “Ocidente” desde que o desaparecimento da “ameaça soviética” permitiu aos valentões do Pentágono, que tinham se acalmado um pouco após a vergonhosa debandada diante dos patriotas vietnamitas, recuperar plena agressividade. Sempre em nome da “democracy” e dos “human rights”, dois valores que a propaganda bélica da Otan prostitui cada vez mais descaradamente e que após o esmagamento da Sérvia, do Afeganistão, do Iraque e da Líbia, quer agora “aplicar” na Síria e em seguida no Irã.

Em março de 2003, o jornalista Rui Namorado Rosa lembrando no artigo “As armas de destruição maciça chegam a Bagdá” (publicado em http://resistir.info.) que “durante meses a fio fora-nos anunciado que o mau ditador” (Saddam Hussein) “teria armas perigosíssimas” preparando-nos assim para “aceitar, como o menor dos males, que o bom ditador” (Bush) “fizesse uso das suas”, constatava que “agora que bombas e mísseis, as novíssimas armas dos arsenais dos EUA e do Reino Unido, são lançadas sobre Bagdá e outras cidades do Iraque, começou o longamente encenado ato de destruição maciça”. Estas foram-nos ditas “inteligentes” (smart), precisas, cirúrgicas, com efeitos “colaterais” mínimos”. Mas “os comandantes políticos e militares das forças agressoras não têm pudor em enaltecer o enorme poder destrutivo que estão a pôr ao serviço dos seus planos de guerra. E as imagens aterradoras das noites iraquianas revelam de facto, em vista da cor das explosões, da dimensão e projeção vertical das colunas de poeira e fumo, que estarão a ser utilizadas potentíssimas e inovadoras armas, entre as quais “bombas explosivas de ar–fuel” (FAE), bombas MOAB (Massive Ordnance Air Blast), bombas e mísseis perfurantes e de profundidade, com cargas explosivas de centenas de toneladas equivalentes de TNT, cargas explosivas essas que poderão ser nucleares (mini-nukes)”. Em síntese, as únicas armas de “destruição maciça” existentes no Iraque eram as que os bandoleiros anglo-estadunidenses para lá levaram e despejaram em escala genocidas.

Foi baseado em mentiras semelhantes que o rolo compressor da Otan, com a cumplicidade dos sheiks do petróleo, articulou a ofensiva visando a derrubar o presidente Bashar Al Assad. Entretanto, embora tenham feito muitos estragos, os bandos armados que operam a partir da fronteira da Turquia, do Líbano e da Jordânia não lograram avançar além de suas bases iniciais de mobilização. Para dar uma boa empurrada na sedição, o cartel bélico tentou usar o Conselho de Segurança da ONU, como já o fizera com êxito para massacrar a Líbia. Mas a China e a Rússia, que não se assustam com cara feia, vetaram o projeto de resolução contra a Síria, fechando o caminho aos “bombardeios humanitários”. O cartel decidiu então apelar para a Assembleia Geral da ONU, onde conseguiu 137 votos a favor de uma “recomendação” facciosa, que atribuiu a responsabilidade pela violência e pelo terrorismo exclusivamente ao governo sírio. Embora não tenha consequência prática, essa resolução confortou os intervencionistas. Houve 12 votos contrários, a começar da China e da Rússia, mas também dos países mais firmes da Alba, além do Irã, da Argélia, do Líbano, da Coréia do Norte. Houve também 17 abstenções, entre as quais a da Índia. A embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Viotti, que engrossou a tropa dos pró-Otan, pretendeu justificar seu voto com a acaciana declaração de que as “violações aos direitos humanos são inaceitáveis, assim como o desrespeito aos princípios democráticos”. O princípio é bonito, mas o uso que dele fazem “nossos aliados” da Otan e dos Emirados é muito feio.

A reforma constitucional anunciada há vários meses por Bachar al-Assad foi submetida a referendum no dia 26 de fevereiro. A participação atingiu 57,4% dos eleitores (8,37 milhões num total de 14,58 milhões) e foi aprovada por 89,4% dos votantes. Embora a luta armada desenvolvida pelos sediciosos esteja concentrada em três cidades (Hama, Homs e Idlib), suas ameaças contra quem comparecesse às urnas, além da insegurança generalizada e dos violentos confrontos em curso, explicam em boa medida, a baixa taxa de comparecimento às urnas. As autoridades estadunidenses classificaram o referendum de palhaçada. Coisa séria são as prisões humanitárias de Abou Ghraib, Guantanamo e tantas outras. Sem esquecer os quatro soldados do Pentágono urinando sobre o cadáver de três afegãos…

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