Força, Chávez!

A notícia da recidivado câncer que o Presidente Chávez tem na região pélvica doeu no peito de todos os internacionalistas, de todos os que entendem aimportância da unidade da América Latina, de todos os que se sentemparte de um mesmo caudal desses povos que lutam por sua emancipação,das pessoas de bem, com o mínimo de caráter para não aliar-se ao câncer.

Acostumados a ver em Chávez um fenômeno de vitalidade,energia, vida, a notícia caiu-nos como um frio na espinha, sóminorado pelo calor no peito que nos veio com a reação dopresidente do país amazônico irmão.

Chávez, tal qual Lula,tem uma identidade muito forte com seu povo, em virtudes e defeitos,mas aquelas inegavelmente superiores a estas, em especial nesses anosem que a barbárie assoma no umbral da Humanidade. Vê-los enfrentara doença como seres humanos, e nela reconhecermos o melhor em nós,cumpre um inequívoco sentido didático e humanista, algo que jáobserváramos no surpreendente José Alencar, saudosovice-presidente, brasileiro e guerreiro. Ter vivido tudo isso e,depois de um caminhar, saber dos êxitos no tratamento de Lula,fazem-nos ainda mais próximos dos venezuelanos, pois sabemos o queeles sentem. Se as dificuldades nos provam e depuram, essa atual nosirmana como nunca. Compreendemos essa quadra de dentro de nossa vidaconcreta.

Em quantos lares nãosomos atingidos pela doença, a cair como raio em céu azul, evitimar nossos entes mais queridos, a por no horizonte de nossasvidas tempestades que nos fazem duvidar se escaparemos? A maneiracomo esses líderes latino-americanos (sinistra e estranhamenteatingidos quase simultaneamente) enfrentam o câncer, humana epublicamente, falando a seu povo olhos nos olhos, isso nos toca eensina.

Toca-nos aodesmistificar o tema, que até recentemente sequer podia ser dito comseu nome. Os antigos não diziam câncer, apenas CA, tamanho o medo.Isso nos ajuda a reconhecer o problema como a batalha dura, mas nãoimbatível, em especial com os últimos avanços da ciência. Avançosque, no entanto, não podem chegar a todos, porque mediados pelomercado da saúde, em que a vida humana e o padecer de nossos entesqueridos são um detalhe ante a centralidade do lucro e adesumanização trituradora que aflige e sevicia os profissionais daárea.

E retoma a percepçãodesse frágil liame, essa chama luminosa, bruxuleante e efêmera danossa vida. E, a despeito disso e de tanta treva, seu fulgor podeencarnar esperanças coletivas nobres, seculares, imprescindíveisnesse momento. O padecer desses líderes permite perceber essaligação, essa possibilidade gloriosa e frágil, entre o frágil queé a nossa vida e a imensidão de nossos sonhos, tão à mão, mas apermanentemente escapar pelas pontas ávidas dos dedos. Aoenfrentarem o tema em praça pública, eles, voluntariamente ou não,dão-nos essa percepção de responsabilidade comum ante asconquistas arrancadas a tanto custo nesses anos. As vitóriasimediatas, eleitorais, políticas, sociais e econômicas, odesenvolvimento, a libertação das cadeias do imperialismo, aemancipação humana da barbárie do capital, a paz, são frutosdessa mescla de opção individual e potencial coletivo.Necessariamente nos ultrapassam, tornando imprescindível essaatitude de compromisso e desprendimento, de assunção deresponsabilidade e de aposta no coletivo e no futuro.

Esse papel didático daluta pela vida desses indivíduos tão em evidência deve tambémlembrar-nos da cotidianização da morte pelas guerras, das manobrasdo consórcio da mídia hegemônica, forças armadas imperialistas eoligarquia financeira. A subversão, o cerco, a guerra, a destruiçãode países e o genocídio de povos. O calculado e cínicoapropriar-se do trabalho, das riquezas e da vida de povos inteiros,levados ao desespero, à miséria, como vemos com a crisecapitalista. São também pessoas, vidas. E não é acaso o seupadecer, é o imperialismo. Assim, como à época da luta contra onazismo, os campos estão nitidamente definidos. A morte e ocapitalismo de um lado, a vida, a paz e a necessidade históricainarredável do socialismo de outro.

Todavia, é tortuosa eíngreme a trilha que permitirá às massas chegarem ao entendimentodessa encruzilhada. E outra vez somos chamados a, pessoalmente, namedida modesta de nossos esforços e limitações, ocupar nosso lugarna trincheira. Cada batalha tem seu valor. E os militantes seguemimprescindíveis.

Torcemos muito peloPresidente Chávez, que luta lindamente, está em boas mãos, temessa inquebrantável vontade e uma fé movedora de montanhas, e estácercado de milhões de orações em seu favor, em especial dos maishumildes. Vemos de soslaio a barbárie com suas podres presas imersasem sangue, os partidários da desigualdade, da guerra, das metrópolese da morte. E olhando sua vilania e caducidade, em meio àstempestades, sabemos que as trespassaremos. E 2012 será marcado pormais essa batalha heroica em que Chávez vencerá a doença e adireita, forjando no povo venezuelano esse protagonismo coletivo quefaz das revoluções realidade. Força Chávez!

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