Os Dribles de Ricardo Teixeira

O (ainda!) presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, consegue, uma vez mais, driblar os agentes da lei e se mantém no cargo, e fora das grades. É certo que tem suas malas prontas para se mandar pros Estados Unidos, onde já está sua família e a dinheirama que surrupiou nos seus anos de CBF.

É certo que seu projeto de chegar à presidência da FIFA já naufragou. Era a estratégia montada por seu ex-sogro João Havelange, chefe da gangue que comanda a entidade maior do futebol mundial há décadas, num suceder de jogadas quase sempre nebulosas.

No livro “Os Descaminhos do Futebol”, publicado há anos, eu já contava a história dessa dinastia. Mostrava, inclusive, como o então falido empresário Ricardo Teixeira entrou no mundo do futebol, pelas mãos de seu então sogro, mas eterno comparsa, o Havelange, com ajuda de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

Pelé, aliás, já havia sido peça chave na eleição de Havelange presidente da FIFA, em 1974. Ele ajudou a realizar, aqui no Brasil, o “mundialito” de 72, uma mini-copa, sem a participação dos europeus, mas atraindo a simpatia de países de outras partes do mundo.

Ele também rodou o mundo criando muitas entidades esportivas nacionais (as CBFs de países africanos e asiáticos). Assim, arregimentou novos membros da FIFA para Havelange se eleger, no plano global.

A trajetória financeira de Teixeira na CBF foi meteórica. Já em 93, nas eliminatórias da Copa dos Estados Unidos, quando o Brasil ia aos trancos e barrancos, a imprensa o assediou, antes do jogo contra o Uruguai, no Maracanã. Um repórter perguntou:

– E se o Brasil for desclassificado?

Teixeira foi curto e grosso:

– Pra mim, nada. Vocês é que vão ter problemas, porque não vão ter o que fazer. Eu sou um homem rico.

Diante do dito, o jornalista Armando Nogueira recheou seu texto, sempre brilhante, com uma frase que resumia tudo, e entrou pra história: ‘Sou um homem rico, não. Fiquei rico’. E foi isso mesmo, vapt-vupt.

Pelé contou inúmeras vezes que, quando Havelange lhe procurou para propor o nome de Teixeira para a CBF, seu argumento tinha dois pilares básicos. Um: embora sendo de outro ramo, seu genro tinha boas idéias para o futebol brasileiro. Dois: além disso, enfrentava muitas dificuldades como empresário.

O patrimônio de Teixeira, hoje escancarado por parte da imprensa brasileira, é de fazer inveja a qualquer milionário do mundo. Ele fez da CBF uma entidade mais que privada. É particular. Boa parte do dinheiro da entidade está em suas contas ou nas de parentes seus, os laranjas, em paraísos fiscais mundo afora.

Um exemplo é o de seu tio Marco Antônio Teixeira. Esse sujeito ficou cinco anos na folha de pagamentos da CBF, sem fazer nada, ganhando a bagatela de R$ 88.070,04 por mês. E, segundo o jornal Folha de S.Paulo, quando foi demitido, recentemente, usou de artifícios contábeis na rescisão para abocanhar mais de R$ 1.620.000,00. Isso mesmo, mais de um milhão e meio.

Parte desse dinheiro, que é lavado lá fora, volta para o Brasil e aplicados nos inúmeros empreendimentos de Teixeira, que vão de ricas fazendas a luxuosos restaurantes. Nisso, ele se beneficia da generosidade da legislação brasileira sobre sonegação fiscal e dinheiro de origem duvidosa, ou melhor, criminosa.

Em seu livro “A Privataria Tucana”, sobre as falcatruas nos governos de Fernando Henrique Cardoso, o jornalista Amaury Ribeiro Jr. trata profundamente dessa questão. E dedica bom espaço a Ricardo Teixeira, como exemplo de lavador de dinheiro sujo.

Mas, tanto no caso dele como no da gangue de FHC, que vendeu empresas públicas para embolsar o dinheiro, a legislação brasileira é branda. Nossas leis estão mais voltadas para recuperar o dinheiro (o que nunca consegue) do que punir os ladrões.

Teixeira, no entanto, está bem mais enrolado, pois há inúmeros casos comprovados de recebimento de propinas para favorecer empresários do futebol. Um caso é o de uma gorjeta de R$ 10 milhões, dada pela empresária Vanessa Precht, que superfaturou o jogo da Seleção brasileira com a de Portugal, em janeiro de 2009. Caso já comprovado.

A desgraça é que, desde a chegada de Teixeira, em 1989, a CBF se emporcalhou e, o que é pior, contaminou a maioria das federações estaduais. Vale lembrar que, até o início da década de 70 o futebol fazia parte da Confederação Brasileira de Desporto (CBD), comandada desde 1956 por Havelange.

A separação foi forçada pelo governo federal justamente para ver se acabava com a roubalheira que existia na entidade geral dos esportes. O desvio de dinheiro do “mundialito” de 72, por Havelange, chegou a irritar o então presidente República, general Ernesto Geisel, a ponto dele determinar a separação. Esforço em vão.

Teixeira teve seu atual mandato esticado para chegar à Copa de 2014, no Brasil, mas teve seu poder esvaziado pela presente Dilma Rousseff no comando dos preparativos do evento. E tudo indica que vai pedir o boné antes que o caldo engrosse. Mas fica o problema de sua sucessão. Seu vice, José Maria Marin, com mandato igualmente estendido, está com 80 anos e com a saúde fragilizada.

As pessoas de bem no futebol defendem que, agora, em vez de nomearem alguém, que sejam realizadas eleições. E que estas, desta vez, sejam limpas. Vamos torcer.

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