A guerra se aproxima do Irã

Cresce a impressão de que o Irã, mais cedo ou mais tarde – talvez mais cedo que tarde – será atacado pelos Estados Unidos ou Israel ou por ambos, diretamente ou sob algum dos disfarces de habito usados quando se trata de subjugar outros povos sem parecer tão cruelmente imperialista.

O general Nikolai Makarov, chefe do Estado Maior do exército russo, menciona o próximo verão (provavelmente o verão do hemisfério norte, que corresponde ao nosso inverno) como a ocasião mais provável. Já o economista norte-americano Mark Weisbrot, co-diretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, de Washington, garante que o ataque não ocorrerá antes da eleição nos Estados Unidos, no final deste ano, para não prejudicar a reeleição do presidente Obama.

O ataque é tido, portanto, como certo. O que se discute são a data, a extensão e a profundidade da investida militar. O motivo é conhecido, vem sendo esgrimido há tempo: conter a suposta pretensão iraniana de construir um programa nuclear com fins militares. Não importa que os líderes persas garantam à exaustão que seus objetivos são pacíficos, ligados à finalidades médicas e ao desenvolvimento científico. O complexo imperalista-sionista já sentenciou o Irã, já o condenou, tratando-se agora de estabelecer a amplitude da pena previamente decretada. Ou seja: o ataque visará apenas as instalações de energia nuclear do país islâmico, como se proclama, ou aproveitará a ocasião para destruir sua infraestrutura, seu parque militar, industrial e tecnológico e, assim, enfraquecer o país?

Enquanto o ataque não ocorre, o Irã vem sendo alvo de tenebrosas pressões de uma “comunidade internacional” que de internacional não tem nada, pois reúne apenas os governos caudatários dos interesses hegemonistas norte-americanos. Recentemente o Irã apreendeu um drone (avião não tripulado) dos Estados Unidos que espionava seu território. Segundo Mark Weisbrot, “dois funcionários da administração Obama que não foram não identificados disseram à imprensa que Israel está financiando e treinando terroristas iranianos para que matem cientistas nucleares, incluindo cinco assassinados desde 2007”. Governos submissos aos interesses norte-americanos impõem sanções ao país persa que os Estados Unidos procuram intimidar concentrando frotas no Golfo Pérsico e no Estreito de Ormuz.

Talvez a mais poderosa pressão sobre o Irã, no entanto, seja o que o economista Mark Weisbrot considera “um processo de lavagem cerebral em massa” para criar na opinião pública mundial a percepção do Irã como país belicista e aliado ao terrorismo internacional. É a preparação, digamos, ideológica para a guerra, como ocorreu no Iraque e Afeganistão, para citar dois exemplos mais recentes. Um cenário absurdo em que Israel, que acusa o Irã de representar um perigo para a Humanidade, conta com cerca de 300 ogivas, embora não o confesse. Diferentemente do Estado sionista, o Irã cumpre o Tratado de Não Proliferação Nuclear e propôs na ONU o que a mídia hegemônica tratou de abafar: energia nuclear para todos, armas nucleares para Ninguém.

A verdade é que a revolução islâmica, que completou 33 anos no último dia 11, incomoda profundamente o império. Após derrubar o pró-Estados Unidos Xá Reza Pahlevi, o Irã ingressou numa fase de progresso acelerado – e soberano. Seu poderoso setor petroleiro é inteiramente nacional. “O Irã tem hoje indústria própria nos setores de automobilismo, aeronáutica, armamentos, navegação, ferrovias, tratores, petroquímico e farmacêutico”, como informa o jornalista Beto Almeida, da direção da Telesur, em seu texto “O 33º aniversário da Revolução Islâmica no Irã”.

Algo poderia irritar mais o império? Assim, por trás desse discurso hipócrita sobre a questão nuclear iraniana (que algumas vezes inclui, como sempre, a sempre conveniente questão dos direitos humanos) o que verdadeiramente os Estados Unidos pretendem na região é fortalecer seu cúmplice Israel, sangrar o desenvolvimento econômico e tecnológico do Irã, assenhorando-se do seu petróleo, o mesmo que fez na Líbia. A guerra anunciada é a derradeira tentativa de atingir tais objetivos.

A empreitada, no entanto, possui riscos bem maiores do que as incursões sobre o Iraque, Afeganistão e Líbia. Para o general russo Nikolai Makarov um ataque contra o Irã poderá se alastrar por todo o Oriente Médio numa espécie de efeito dominó, com possibilidade de se transformar num confronto internacional de imprevisíveis consequências.

Os governos democráticos do mundo precisam opor-se a isso. O Brasil, que se impõe crescentemente na ordem mundial com uma proposta de democracia e paz, deve agir fortemente neste sentido. Se obterá sucesso é outra questão. Mas não pode ficar indiferente, tampouco enredar-se no discurso hipócrita dos Estados Unidos. Tem que ser altivo, como o foi o governo Lula diante da guerra do Iraque.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor