Luiza voltou do Canadá, Jenny voltou de Cuba

 

 
Os internacionalistas (Jenny, no círculo) em Cuba  

No final de janeiro, num comercial paraibano de um prédio residencial, um colunista social afirmou que sua mulher e filhos estavam presentes no lançamento do empreendimento, “menos Luiza, que está no Canadá”. O episódio ganhou postagens na mídia social, brincando com o fato. Dias depois, quando Luiza voltou ao Brasil, lá estava, no aeroporto, uma equipe do Jornal Nacional, da Rede Globo, dando dimensão jornalística a uma banalidade. No dia seguinte à reportagem, Jenny, uma alagoana militante do PCdoB baiano, embarcou para Cuba, numa viagem nada banal: integrava a XIX Brigada Sul-Americana de Solidariedade a Cuba.

Coordenada pelo Instituto Cubano de Amizade com os Povos, a brigada se formou com delegações da Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, somando 230 integrantes, dos quais 126 brasileiros e, destes, 13 residentes na Bahia. O objetivo foi ampliar a compreensão da realidade cubana e, ao mesmo tempo, realizar jornadas de trabalho voluntário, como aporte ao desenvolvimento agrícola na esfera produtiva do país, e como turismo político-cultural.

Ao contrário da garota da elite nordestina, Jenny e muitos outros brigadistas brasileiros fazem parte do que vem sendo chamado de “nova classe C”: vivem do próprio trabalho, alguns se endividaram para fazer a viagem e todos uniram o prazer de uma viagem turística ao empenho de fortalecer a luta pela construção de uma sociedade em que a busca do lucro e da fugaz celebridade sem causa não é o objetivo central. Antes do embarque, os viajantes compraram material escolar, produtos de limpeza, de higiene e saúde e alimentos não perecíveis. Uma forma de ajudar os insulanos a enfrentar o criminoso bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos.

Na Ilha ficaram até 5 de fevereiro. Durante o período, quando conseguia acesso à internet, Jenny postava: “Até o momento, várias emoções estão acontecendo ao mesmo tempo. Fomos para Varadero ontem, coisa linda de morrer, inacreditável existir um local como aquele. Comida e bebida inclusas no hotel com transporte por 25 cucs, mui maravilhoso. Hoje tivemos atividade de iniciação na brigada e, com todos chegando, foram feitas as reuniões, recomendações e um pouco da historia de Cuba e do que estão enfrentando atualmente. Acordamos todos os dias às 5 da manha, com o galo cantando e musica latina. Banho gelado e todos muito animados. Comida boa e farta. Palestras várias e todas emocionantes e repletas de ideologia e patriotismo. Ahhh, a net é uma porcaria.”.

Alguns dias depois: “Pessoal, tentarei ser breve. pois a net está péssima e a fila interminável. Bem, ontem fomos a Santa Clara e visitamos o Memorial do Che. Hoje fomos fazer nosso trabalho voluntário no campo. Amanhã também será no campo”. Após dois dias: “Inicialmente gostaria de dizer que o trabalho no campo realmente é extremamente pesado, ao menos para mim que não possuo prática alguma, e muito cansativo, como cortar cana. Mas muito interessante saber que os trabalhadores do campo daqui possuem nível superior, alguns em filosofia, agronomia, história e assim por diante. Somos tratados com todo o carinho do mundo por vir ate aqui e contribuir. A política daqui e totalmente diferente da do Brasil”.

Na capital, os internacionalistas participaram de uma manifestação: “Ontem fomos a Havana velha, muito parecida com o Pelourinho. Participamos da marcha das tochas, junto com a juventude cubana. Inacreditável a organização e, mais uma vez, o patriotismo de todos eles. Não dá para descrever a emoção de ver quase 20 mil pessoas caminhando com tochas, pontualidade e disciplina. Pudemos visitar o Museu da Revolução. É lindo, repleto de história viva e forte. As ruas limpas, nada aqui cheira ruim e, mesmo sendo tudo muito antigo, a organização e limpeza são de espantar”.

Enquanto a XIX Brigada estava lá, Cuba recebeu a visita da presidenta Dilma, acompanha de um batalhão de repórteres brasileiros. As emissoras de TV mandaram seus jornalistas procurarem uma blogueira pró-imperialista, queridinha da mídia reacionária, e pautou reportagens acentuando as dificuldades vividas pelos cubanos – responsabilizando a revolução, e não o cerco estadunidense, pelas vicissitudes enfrentadas. A atividade dos sul-americanos foi vitimada pela conspiração do silêncio dos que cobriram a visita presidencial.

Alheios a isso, os brigadistas visitaram a Ilha da Juventude como um de seus últimos passeios: “Lições de vida e solidariedade realmente é o que mais me impressionam no povo. A recepção que fazem para nos brigadistas é coisa de outro mundo. Não tenho palavras para descrever, apenas lágrimas nos olhos por lembrar o momento que estamos sendo privilegiados de estar vivendo aqui. Muita emoção à flor da pele. Como viveríamos melhor em uma sociedade onde o ser humano fosse o foco”, postou a comunista brasileira.

Antes de partir, os brasileiros, argentinos, chilenos e uruguaios escreveram uma Declaração de Solidariedade: “Cuba é hoje um país onde a seguridade social está garantida. Todos os cubanos e cubanas, de qualquer idade, têm direito à educação, em todos os níveis, sendo esta gratuita, totalmente subsidiada, de qualidade e avançada. O mesmo ocorre com demais direitos sociais: alimentação, saúde, pesquisa, habitação, lazer, aposentadoria, cultura, esportes”. Fazem também uma série de denúncias dos crimes perpetrados contra a Ilha socialista. Leia a íntegra da declaração no link:

http://edisonpuente.blogspot.com/2012/02/declaracao-de-solidariedade-xix-brigada.html

Os brasileiros desembarcaram de volta no dia 6 de fevereiro. A equipe do Jornal Nacional não estava lá. Globo, nada a ver.

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