SP: as prévias tucanas são para inglês ver?

José Henrique Reis Lobo já foi um tucano de posição importante. Foi secretário do governo de São Paulo, ex-presidente da direção municipal do PSDB e é, mais relevante, da cozinha de José Serra.

Para se ter ideia, foi na casa de Reis Lobo que se realizou o encontro do núcleo serrista (participaram o ex-governador, seu ex-vice Alberto Goldman, o senador Aloysio Nunes e o anfitrião), quando Serra teria comunicado a decisão irrevogável de não disputar a prefeitura da capital paulista e a intenção de continuar voltado às questões nacionais.

Pois bem, nesta quinta-feira (9), Reis Lobo assina longo artigo na "Tendências e Debates", da Folha, desmoralizando de alto a baixo o processo de prévias tucanas para decidir quem será o postulante da legenda a prefeito.

Começa ele sem papas na língua: "As anunciadas prévias do PSDB estão metendo o partido numa encalacrada sem tamanho." Apenas o preâmbulo já dá a medida do que vem em diante, mas vale a reprodução de outros trechos. "Ganhar ou perder faz parte do processo. Mas não se pode correr o risco de perder de véspera simplesmente para cortejar as "bases" do partido (as aspas são dele).

Diz muito ainda no texto, o Reis Lobo. Para não ser cansativo, reproduzo apenas mais uma passagem, que ajuda na reflexão que pretendo levantar. "Que [a oposição] escolha um candidato competitivo e capaz de agregar apoios, sem se enfiar numa camisa de força que pode agradar alguns milhares de filiados, mas que não atende às expectativas da sociedade."

Como se vê, nem nos apelos finais dos cultos evangélicos há uma convocação tão explícita. No caso em questão, o "convocado" é, obviamente, o José Serra e a missão é impedir a derrota na cidade de São Paulo.

Reparem na gravidade das afirmações que o tucano faz. Basicamente o Reis Lobo chama os correligionários que disputam as prévias de "nanicos", diz que seu partido está numa barca furada e suplica para que Serra desça do Olimpo para se oferecer em sacrifício, salvando o povo escolhido.

Mas a pergunta que me assalta, de imediato, é outra. José Henrique Reis Lobo, homem de confiança do ex-governador e político com estrada, faria apelo tão explícito – e quase patético – sem a anuência do chefe?

Ou estariam, José Serra e seu grupo, preparando uma cena de "aclamação" com o objetivo real de ligar a seta, fazer o próximo retorno e disputar a prefeitura?

Eu não sei, evidentemente. Mas a pressão certamente está subindo no PSDB. Basta lembrar que FHC torpedeou recentemente a perspectiva presidencial do eterno candidato tucano. Muitos entenderam no gesto uma forma de empurrar Serra para São Paulo.

Como a vida interna do tucanato não é para principiantes, José Aníbal e Ricardo Trípoli declararam, ainda por esses dias, que Serra poderia se inscrever "se ainda houver prazo" nas prévias internas. Seria um ato de resistência à percepção de um movimento, mais amplo do que parece, para que o ex-governador seja candidato?

Definitivamente, o suspense reina no PSDB e, com ele, na eleição paulistana de 2012.

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