O tempo curto e o tempo longo

O companheiro Cid do Dieese do Paraná fez, na primeira reunião plenária da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba, uma observação que achei pertinente e compartilho com os leitores.

Ao falar sobre a crise nos países capitalistas desenvolvidos e seus efeitos no Brasil (a serem evitados e enfrentados) destacou uma diferença importante entre a crise de 2008-2009 e a atual, que é como um arrastamento da primeira.

Em 2008, começando na especulação financeira dos Estados Unidos a crise foi intensa, com efeitos imediatos catastróficos e paralisantes, propagando-se rapidamente no mundo financeiro. No Brasil suas consequências foram também imediatas (mais que uma marolinha, mas muito menos que um tsunami) porém de curta duração. Enfrentamos e superamos a crise com medidas que, corretamente apoiadas em conjuntura de crescimento, garantiram mais salários, mais créditos, menos impostos e menos juros (ainda que neste caso com um certo atraso). A resistência dos trabalhadores à crise foi decisiva, em defesa de suas reivindicações e do emprego.

Ficou na memória de muita gente o desenho da crise: uma letra V ou até mesmo uma letra W. Agora, nos países capitalistas desenvolvidos, a crise se instala no mundo da produção e do emprego, com medidas fiscais restritivas, projetando recessão ou taxas medíocres de crescimento por muitos anos; este é o quadro norte-americano, europeu e japonês e se casa com a “lenta, gradativa e segura” desaceleração chinesa. A letra agora é um L.

Os efeitos sobre a economia brasileira não têm sido tão intensos (exceto exigir das multinacionais remessas vultosas às matrizes, sugar dos turistas brasileiros bilhões de dólares e fazer disparar em alguns setores as importações) mas devem exigir um esforço prolongado e atento ao longo dos anos para garantir o desenvolvimento, qualificar o pacto produtivista, melhorar as exportações, ampliar o mercado interno, consolidar os avanços sociais e realizar arbitragens sucessivas a cada momento.

Concordei com ele. Apoiados na conjuntura que ainda nos é favorável devemos enfrentar os três grandes desequilíbrios macroeconômicos: os juros que continuam altos, o câmbio supervalorizado e a desindustrialização.

Ao fazer isso – e o movimento sindical tem tido um papel importante – devemos nos preocupar, dada a renitência da dificuldade externa, por um projeto estratégico de longo prazo para o Brasil.

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