Armas, pesos e medidas

Todos que realmente defendem a paz são contra a saga armamentista. São contra qualquer arma, inclusive as nucleares, as mais terríveis e perversas. Defendem, pois, que nenhum país detenha armas nucleares e que este mal seja extirpado da Humanidade.

No entanto, há que haver uma regra para todos, não dois pesos e duas medidas, como o assunto tem sido tratado em fóruns internacionais. Esta semana mesmo, a Comunidade Européia, com apoio dos Estados Unidos, decidiu suspender as compras de petróleo do Irã, diante de suspeita de que aquele país estaria desenvolvendo armas nucleares.

Vale lembrar que, há uma década, igual suspeita justificou a invasão do Iraque, com enorme mortandade, mas com bons ganhos para a indústria bélica estadunidense. Só que a bomba atômica iraquiana nunca apareceu. Agora chegou a vez do Irã.

Há países, mesmo no Oriente Médio, que têm bombas atômicas. Israel é o caso mais conhecido. E há o enorme arsenal dos EUA, por exemplo, espalhado mundo afora e disposto a repetir a enorme chacina de Hiroxima e Nagasaki no final da Segunda Grande Guerra.

Por que uns podem, outros não? O correto seria o completo desarmamento, determinado pela Organização das Nações Unidas (ONU) há 60 anos. Em verdade, uma vez mais, trata-se apenas de um argumento do imperialismo dos EUA, com respaldo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), para controle de territórios e recursos naturais.

Não se trata de apoiar este ou aquele regime do Oriente Médio. Até porque, na maior parte, são regimes que mesclam o estado com a religião, o que, no Ocidente, foi extinto desde a Revolução Francesa, há mais de dois séculos. Ou seja, o conceito de estado democrático é o do estado laico. Religião é coisa do cidadão.

De qualquer modo, o Irã é um estado independente e deve ser respeitado. A figura do aiatolá é semelhante à da rainha da Grã-Bretanha, que ninguém tampouco elegeu. Mas os EUA e a Comunidade Européia estão fechando o cerco, com sinais de que um conflito se aproxima, para alegria da indústria bélica ocidental.

A decisão européia de boicote ao petróleo iraniano pode levar o governo daquele país a dificultar o acesso de navios pelo estreito de Ormuz. Por ali passa perto de 20% do petróleo comprado pelo Ocidente no Oriente Médio, inclusive da Arábia Saudita.

Navios da OTAN já andam pela região naturalmente e agora ganharam mais reforços, o que indica intenções agressivas. O regime do presidente Hahmoud Ahmadinejad não vê com simpatia as ações das potências ocidentais e está disposto a demonstrar força militar, que de fato tem.

O Irã é, em verdade, uma das maiores potências do Oriente Médio. Seu território se equivale ao estado do Amazonas, no Brasil, e sua população é de mais ou menos 70 milhões de habitantes. Vale lembrar que Israel tem 7 milhões de habitantes, incluindo os que estão em territórios ocupados, como a Faixa de Gaza e as Colinas de Golan.

Além do petróleo, o Irã tem uma forte agricultura (cereais e frutas) e uma potente indústria de transformação. No campo cultural, além de toda história da Pérsia, o Irã hoje tem forte influência em alguns campos. O cinema é um deles. Sua forte indústria cinematográfica desenvolve produções muito apreciadas na Europa e mundo afora.

A maior parte (perto de 90%) da população iraniana se diz muçulmana, mas há uma parte de católicos e até de ateus. A educação primária é obrigatória e o país mantém vários centros de excelência científica nos mais diversos campos do conhecimento. Inclusive o nuclear.

Se o Irã tem ou não bomba nuclear, é um assunto que preocupa a todos, mas não justifica sanções internacionais. A não ser que déssemos o mesmo tratamento aos demais países que possuem ogivas atômicas, o que incluiria Israel e Estados Unidos.

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