Pontuando alguns mistérios da vida privada de Lewis Carroll

"Há algo misterioso e perverso na história do escritor"

Um choque saber indícios de pedofilia de Lewis Carroll (1832-1898), autor de "Alice no País das Maravilhas", conto infantil de beleza singular que em 2012 completa 150 anos e cujo encanto permanece. As pistas da alegada pedofilia de Carroll têm por substrato uma declaração dele: "Gosto de crianças (exceto meninos)".

Ceibatário, fotografou meninas em poses sensuais, todas com o consentimento das mães, inclusive Alice Pleasance Liddell (1852-1934), a inspiradora de "Alice no País das Maravilhas". Tratava suas modelos por "amiguinhas", às quais escrevia cartas, publicadas sob o nome "Cartas às Suas Amiguinhas" (Companhia dos Livros, 1997).

Lewis Carroll era 20 anos mais velho do que Alice. Excelente artigo sobre a especulada pedofilia dele é o da psiquiatra Vanessa Marsden, "Uma Patografia de Lewis Carroll, autor de ‘Alice no País das Maravilhas’". Em tempo: "Patografia é um estudo retrospectivo de ‘casos clínicos focados na biografia de determinada personalidade famosa portadora de transtorno mental com o objetivo de apresentar elementos psicopatológicos interessantes e o significado desses para sua obra’".

Os pesquisadores Hughes Lebailly e Karoline Leach aventam que, na época de Carroll, o modismo de fotos de crianças nuas expressava deferência à inocência, um registro do "culto da criança vitoriana" presente na literatura e nas artes, sobretudo a "pureza virginal das meninas". Para uns, o apreço de Carroll pelas meninas que fotografava era num plano artístico e espiritual. Hipótese não descartável.

No Brasil profundo, até a década de 1970, eram costume retratos, pintados à mão, de meninos, ainda bebês, nus, exibindo os órgãos genitais: o orgulho de um filho macho! Até hoje há quem goste de ter uma foto do "machinho" de sua prole nu.

Em "A Eterna Dúvida sobre o Autor de ‘Alice no País das Maravilhas’", Ana Sousa diz: "Há algo de muito misterioso e talvez perverso na história real do escritor inglês… São dúvidas que permanecem no ar… Carroll era um solteirão que despendia a maior parte de seu tempo livre com meninas e levava sempre na bagagem um saco preto com objetos e brinquedos para estimular o interesse delas". Estranho, não é?

Alice estava com 11 anos quando houve uma ruptura definitiva entre Carroll e a família Liddell. Alguns alegam que por conta do desejo de Carroll em se casar com Alice. Foram arrancadas do diário de Carroll as páginas referentes ao período. As cartas dele para Alice foram incineradas. Outros dizem que os diários foram mutilados porque revelavam um caso de Carroll com a mãe de Alice.

Melanie Benjamin escreveu "Eu Sou Alice" (Editora Planeta), ficção sobre a vida de Alice, de criança a idosa, relatando que ela carregou o peso do rótulo de eterna criança. Katie Roiphe, autora de "Ela Ainda me Assombra", romance sobre Carroll e Alice, em artigo para o "The Guardian", escreveu: "Ele tinha pensamentos impuros, sim. O que importa, no fim, é o que ele fez deles". Ana Sousa conclui: "O veredicto final do que Carroll teria feito de seu desejo ainda é um mistério".

Alice jamais acusou Carroll de abuso sexual. Era linda e sedutora. Namorou o príncipe Leopoldo, caçula da rainha Vitória, que proibiu o romance por ser Alice "malfalada" e musa literária plebeia. Casou-se com Reginald Hargreaves. Teve três filhos; o primeiro chama-se Leopoldo e a primeira filha do príncipe chama-se Alice. Em 1928, aos 76 anos, leiloou o manuscrito de "Alice no País das Maravilhas", que a salvou da miséria. Eis o que sabemos.

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