O Papel da Mídia

Quando o alemão Johannes Gutenberg inventou a máquina de impressão, em torno de 1450, ele não tinha idéia do quanto seu invento iria modificar a Humanidade. Mas, de todo jeito, ele imaginava que tinha democratizado as comunicações. Doce ilusão.

É certo que sua máquina de impressão, com tipos móveis, não chegava a ser uma novidade completa. Ele se inspirou nas impressoras chinesas, que já nas primeiras décadas dos anos 1000 divulgavam assuntos diversos, impressos em espécies de pergaminhos e em madeira.

A máquina de Gutenberg, genial, ficou, entretanto, muito longe do povo. Na Inglaterra, centro do mundo de então, os primeiros jornais impressos surgiram por volta de 1750. Ou seja, 300 anos depois. Mas já nas mãos de grandes grupos econômicos.

No Brasil, o primeiro jornal, com o nome de Gazeta do Rio de Janeiro, surgiu em 1808, como porta-voz de D. Jõao VI, que havia vindo para o Brasil para fugir dos espanhóis e mudou nossa capital de Salvador, na Bahia, para o Rio. Mas não era permitido a particulares possuir máquinas impressoras, o que seria a chamada liberdade de imprensa.

Naquele mesmo ano, o brasileiro Hypólito da Costa, que morava em Londres (Inglaterra), começou a editar o Correio Braziliense, um jornal mensal, que ele mandava para o Brasil como contrabando, em navios. Mas o jornal não tinha cunho político. Hypólito era maçom e fazia um jornal literário, sem se contrapor à monarquia que por aqui imperava. O que ele queria era imprimir, e aqui não podia.

Décadas depois, passaram a ser impressos livros, mas sempre sob o controle do estado. Ou seja, liberdade de imprensa não havia e demorou muito a chegar, pois, quando foi dada a possibilidade de ter máquina impressora, a compra de papel ficou sob controle estatal. E é disso que eu queria falar, por causa das recentes medidas do governo argentino. Mas, isso, mais adiante.

É claro que, no meio do caminho, ainda no século 19, surgiu a fotografia e logo depois a fotografia em movimento, que é o cinema. De novo, o povo mesmo nunca teve acesso. E, na verdade, o cinema foi um dos mais poderosos instrumentos da propaganda imperialista dos Estados Unidos mundo afora.

Isto vale para os filmes românticos, para os faroestes ou para as estórias infantis de Walt Disney. O controle sobre a produção hollyhoodiana sempre foi rígido. Qualquer ator ou diretor classificado como de esquerda, anticapitalista, era banido das produções.

Um caso marcante é o do ator e diretor Errol Flynn, que foi o maior ídolo de Hollyhood na década de 1950. Seus personagens, como o mascarado Zorro e vários outros, faziam furor do mundo inteiro. Só que seus interesses políticos o colocaram na berlinda.

No final da década de 1950, na revolução em Cuba, Flynn virou amigo de Che Guevara e Fidel Castro. E passou a divulgar os propósitos da revolução. Fez, aliás, um documentário de longa metragem, em 35mm, sobre a Revolução. Resultado: foi massacrado pela mídia dos EUA, tratado como “alcoólatra comunista” e destruído profissionalmente.

Com o rádio, também surgido na virada do século 19 para o 20, foi a mesma coisa. Quem pensava que os meios de comunicação iriam se democratizar enganou-se. De novo, os meios ficaram nas mãos dos poderosos, a serviço do imperialismo. As rádios Voz da América, dos EUA, e BBC, de Londres, ambas estatais, passaram a fazer a cabeça do mundo, com seus potentes transmissores em Ondas Curtas.

E, quando surgiu a Televisão, que no Brasil é filhote do rádio (nos EUA, a matriz principal é o cinema), foi imposto o mesmo caminho. O grosso da produção sempre foram os enlatados importados e, quando surgiu um programa jornalístico nacional de peso (primeiro no rádio, depois na TV), chamava “Repórter Esso”, pelo patrocínio de uma americana das Sete Irmãs do petróleo.

E agora, na era da internet e do celular, o controle continua igual. É claro que substituiu as funções dos Correios e do fax, por exemplo, mas está longe de ser um meio liberto de controles. A internet e o celular podem ser tirados do ar a qualquer momento por quem controla o sistema e os satélites.

O Brasil tinha satélites alugados, do programa Intelsat, administrado pela empresa Embratel, que o dr. FHC fez o favor de privatizar. Hoje, esse sistema é controlado pela americana Verizon. Nosso sinal de telecomunicações é absolutamente vulnerável.

A saída seria o Brasil ter seu próprio satélite geoestacionário. Para isto, entretanto, temos que viabilizar seu lançamento, o que está a cargo da Agência Espacial Brasileira. Mas três foguetes já explodiram, sem muita explicação, o último dos quais, em 2003, matou 21 técnicos e cientistas brasileiros na Base de Alcântara, no Maranhão.

A aí, voltamos ao papel do papel de imprensa, que a presidente Cristina Khirchner está impondo controles. Ela enfrenta oposição dos dois principais jornais argentinos. E resolveu ampliar a participação do governo na única fábrica de papel de imprensa do país. E está certa. Os órgãos de imprensa são, em tese, de todos os cidadãos.

As emissoras de TV e de rádio, mesmo no Brasil, são concessionárias de serviço público. Aqui, a Globo, por exemplo, teve sua concessão renovada por Lula, no último ano de governo. Na Venezuela, Hugo Chaves não renovou a concessão da Globo de lá, que saiu do ar. Era um órgão de propaganda pura e simples, contra os interesses populares.

Na Argentina, os dois principais jornais, agora, vão ter de medir sua propaganda conservadora, pois dependem do papel. A liberdade de imprensa (ou seja, de ter a máquina) nada tem a ver com liberdade de expressão, que está no campo dos direitos humanos, coisa que essas empresas não respeitam.

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