Dinho & Nardélio: seus assassinos serão punidos?

A morte de trabalhadores rurais na Amazônia, lamentavelmente, é uma rotina. E de maneira geral essas mortes são seletivas, se voltam contra as suas principais lideranças, sugerindo que os mandatários desses assassinatos tem presente à assertiva de Karl Marx no Dezoito Brumário, para quem “os camponeses não conseguem representar a si mesmo, precisam ser representados”.

Assim, pensam e agem essa horda de foras da lei que infestam os mais remotos rincões da Amazônia. Ceifam a vida das lideranças para, na prática, ceifarem o próprio movimento e assim reinarem impunemente. Contam com a ausência do estado, a absoluta ausência de regras legais e a cumplicidade de certas “autoridades” para praticarem os mais hediondos crimes como os que ceifaram a vida, dentre outros, de Paulo Fonteles, João Batista e da família Canuto, no Pará; de Chico Mendes, no Acre, e de Dinho e Nardélio, no Amazonas/Rondônia.

O ultimo desses heróis do povo a tombar foi Nardélio, líder inconteste da comunidade de Matupy às margens da rodovia Transamazônica, que foi assassinado no dia 30 de novembro em Humaitá, no sul do Amazonas.

O assassino de Nardélio foi o desempregado Paulo Sérgio Teixeira Fidelis que se encontrava foragido e somente se apresentou à justiça no último dia 11 de dezembro, devidamente acompanhado por um advogado e após expirar o prazo de flagrante e da comoção popular que varreu Matupy, onde mais de 3 mil pessoas compareceram ao enterro do presidente da Associação dos Produtores de Matupy (Aspromat).

Ninguém teve a curiosidade de perguntar onde um desempregado, sem posses conhecidas, arrumou recursos para contratar um advogado e tampouco como alguém que alegou razões pessoais – passionais, portanto – se comportou com tanta racionalidade após o assassinato para de forma meditada escolher dia e hora para se entregar a justiça.

O fato apenas reforça a suspeita que já esbocei em artigo anterior, pela qual esse enunciado pretexto pessoal não passa de mais uma execução sumária de lideranças que ousam defender os trabalhadores, exigir o ordenamento legal da área e na prática fazer o papel que o poder público nunca exerceu naquela região, salvo em espalhafatosas operações policialescas como a que tinha acabado de ser executada na área pelas policias federais e agentes do Ibama.

Operação semelhante, aliás, tinha sido executada na região de Extrema (Rondônia/Amazonas), onde alguns dias depois Adelino Ramos (Dinho), líder do Movimento Camponês Corumbiara, foi assassinato no meio da rua, também por um “desocupado”.

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