Ziraldo

Publico aqui artigo que fiz para o jornal Tira Prosa, editado em Cambuí (MG), impresso em São Paulo e divulgado no Brasil inteiro, por um monte de caminhos. É, em verdade, uma revista mensal. Na edição de dezembro, o Tira Prosa trará uma longa entrevista com Ziraldo e esse artigo aí sai junto. Vejamos:

Um Abraço do Brasil

Caso um dia, porventura, esse sujeito que está aí na capa deste jornal vier a morrer, será pura formalidade. É que seu nome jamais sumirá de nossa história, pois se trata de um enorme homem das artes e jornalismo, com forte importância na educação e na política, sempre em defesa de um terreiro chamado Brasil.

A começar pelo começo. Ele se tornou muito conhecido ainda na década de 1960, por criar e produzir as histórias em quadrinhos “A Turma do Pererê”, um marco na história da literatura brasileira. Em especial porque ele deu nova vida a personagens do folclore nacional, em contraponto ao que vinha do exterior.

O que tínhamos, à época, eram os Pato Donald e Mickey, do hollyhoodiano Walt Disney, que sempre levaram mundo afora a ideologia dominadora dos Estados Unidos. Mesmo quando Disney incluiu em sua trupe um personagem abrasileirado, com o nome de Zé Carioca.

Mas, por incrível que pareça, esses são detalhes na vida deste sujeito aí da capa. Só de livros, por exemplo, ele tem mais de cem publicados. É isso mesmo, quase 200. E foi um dos criadores, e, como editor, segurava a onda do jornal “O Pasquim”, do Rio de Janeiro, criado em 1969, um marco da imprensa nacional.

Em plena ditadura militar, o jornal reunia os maiores nomes do humor (e mesmo de outras áreas) do jornalismo tupiniquim para propagar uma mensagem de liberdade, de democracia, e por isso padecia. A Censura Federal era feroz, cortava dois terços do que era produzido. E os seus editores, inclusive esse de que falamos, foram presos incontáveis vezes. Mas, ele sempre sorrindo.

De suas obras, a geração recém-chegada é mais familiarizada, talvez, com o “Menino Maluquinho”, personagem por demais conhecido em revistas, TV e um filme que é um dos maiores sucessos de bilheteria nas últimas décadas no País e fora daqui.

Estamos falando, já é claro, de Ziraldo Alves Pinto, um mineiro de Caratinga, onde nasceu em outubro de 1932. Cidade que ele adora, mesmo vivendo no mundão de Deus, como diz. Eu gastaria dias e um calhamaço de páginas falando dele. Mas o jornal tem seus limites de espaço.

Ziraldo vai fazer 80 anos ano que vem. Mas não lhe passa pela cabeça pedir penico, pensar em aposentadoria. Muito pelo contrário, ele faz inveja. Para dar uma idéia de sua energia, esse desenho aí da capa, em que ele manda um abraço a Cambuí, foi ele mesmo quem fez, durante a entrevista em um hotel de Brasília.

Ele mantém seu jeito alegre, festivo, sempre bem-humorado, de bem com a vida. É um jeitão desprendido, de coração aberto, generoso ao extremo. Ele gosta de pessoas de bem em qualquer setor da vida. É amigo de empresários, de comunistas, de governantes. E muito antes de pedir qualquer coisa, prefere doar.

Até mesmo no setor pecuniário. Ele, pela sua trajetória de vida, poderia ser milionário, rasgando dinheiro. Mas não é. Sua vida é comedida, como um cidadão de classe média que tira seu sustento dos afazeres que tem. O resto, dividiu com alguém que precisava mais.

É certo que entra em aventuras, como é o caso de revista que criou há coisa de dez anos. Para satirizar a revista “Caras”, que enaltece as elites nacionais, ele criou outra revista, a “Bundas”, no mesmo formato, mas com conteúdo popular.

Gastou mundos e fundos, a revista ficou de excelente qualidade, mas com um problema. Não vendia. Pesquisas revelaram que as pessoas chegavam nas bancas e tinham vergonha de falar “eu quero a Bundas”. Resultado: o projeto quebrou.

Mas, quem pensa que Ziraldo se abalou com isso?  A todo instante, vemos novas realizações desse cara que é a cara do Brasil.

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