A Segurança no Rio

 O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, sempre teve muita sorte com as pessoas que lhe aparecem na vida. Mas, em dois casos, é sorte para valer. Uma foi sem escolher, veio de nascença. A outra, não, foi nas minúcias, com sensibilidade e visão pública apurada.

O primeiro caso é o pai que tem, um marco da cultura nacional. Segundo, é ter escolhido José Beltrame para ser secretário de Segurança Pública de seu governo, sujeito que está promovendo uma verdadeira revolução neste campo não só no Rio, mas no Brasil inteiro.

A implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em áreas conflitadas da capital carioca e arredores parece ser o caminho óbvio, só que ninguém antes teve coragem de fazer. Tenho amigos que moram ou atuam nesses lugares e todos, ainda que com algumas críticas (no sentido positivo), são testemunhas de que as coisas já mudaram, e muito.

Beltrame frequenta diariamente a mídia nacional. Mas, na última segunda-feira ele foi o personagem do programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, e se estendeu com mais vagar sobre suas idéias e concepções. E mais: ele próprio faz críticas ao andar dos acontecimentos.

Algumas dessas avaliações coincidem com as dos amigos de quem falei. A principal delas é a de que de nada adianta tirar os bandidos das ruas das favelas se, junto, não vierem os serviços públicos, a começar pela educação, o que inclui a formação profissional, e a saúde, o saneamento básico e por ai vai.

Ou seja, muitas pessoas das comunidades estavam ligadas ao crime, mas como forma de sobrevivência. Cabe agora principalmente ao poder público criar novas alternativas para a sustentabilidade dessas pessoas, das suas famílias e de todas as comunidades.

Por outro lado, boa parte dos comandantes do crime organizado dali nunca morou em favelas. São engravatados que circulam livremente na Zona Sul do Rio ou até com direito a algum refúgio no plano federal. Mas isto é um assunto da Polícia Federal e de outros órgãos.

Tem outro problema, porém, que está lá, na muvuca, nas barbas do poder. É o da criminalidade na própria polícia carioca, tanto na civil quanto na militar, que estão sob o comando de Beltrame. E aí é um trabalho de limpeza talvez mais difícil do que tirar a bandidagem das ruas.

Mas, nisso também, o secretário de Segurança leva alguma vantagem. José Mariano Manincá Baltrame, gaúcho de Santa Maria, com 57 anos, é delegado da Polícia Federal desde 1981, mas tem larga formação na área da inteligência, inclusive na Escola Superior de Guerra.

É formado em Direito e num monte de outras coisas, mas seus dois maiores pendores estão na habilidade para comandar em situações adversas e no conhecimento no campo do serviço secreto.

Ele deixa claro, pois, que sabe onde estão os policiais bandidos. Mas argumenta que, para pegá-los, tem que ter provas ou abraçá-los com a boca na botija. E isto tem sido feito, em alguma escala. Só na PM do Rio têm sido expulsos e punidos dezenas de policiais apanhados em atos criminosos. Mas o caminho é longo, porque a bandidagem é muita no pedaço.

O fato é que o trabalho que tem sido feito nesse campo, no Rio, deixa claro que não é apenas para colocar a casa em ordem para eventos esportivos como a Copa de Futebol, em 2014, e a Olimpíadas, em 16. É para as pessoas dali viverem em paz.

Por isso tudo, merece aplausos.

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