Belo afronte

 

“De globais a Hollywood: veja quem protesta contra Belo Monte”. Esta é a chamada do portal Terra, postado no dia 23 de novembro. Bom seria se as pessoas que estão fora das telas, no mundo real, fossem também ouvidas sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, que promete ser a terceira maior do mundo.
 

O espaço dado pela mídia a artistas e atores nacionais famosos como Maitê Proença, Paulo Vilhena, Ísis Valverde, Cissa Guimarães, Sérgio Marone, Bruno Mazzeo, Adriana Esteves e Cássia Kiss, todos contra a construção de Belo Monte, repercute favorável aos que defendem a corrente santuarística de “proteção” ao meio-ambiente. Em um mundo cada vez mais cinematográfico, atores que vivem blindados em seus carrões climatizados que fazem no máximo oito quilômetros por litro de um combustível fóssil, são agora porta-vozes da sustentabilidade.
 

Mas o que os chamados ribeirinhos têm a dizer sobre tal obra? Sugiro que se faça uma pesquisa séria com todos aqueles “atingidos” pelas barragens no Brasil com uma simples pergunta: sua vida melhorou ou piorou com construção das represas? E o resto da Nação, se beneficiou ou se prejudicou com tais obras? Pode-se dizer que a questão é mais complexa, mas uma coisa é “líquido” e certo: sem energia o país colapsa e o povo sucumbe.
 

De acordo com o Grzybowski (1991), há três frentes nos movimentos de barragens (não necessariamente concomitantes): a primeira está ligada às barragens do Rio São Francisco, no nordeste; a segunda na bacia dos Rios Paraná e Uruguai e, a terceira frente, é representada pelo movimento da barragem de Tucuruí, construída pela Eletronorte. O que pensa o povo destas três regiões, inclusive aqueles que foram deslocados de suas áreas “originárias” acerca de Sobradinho, Itaipu e Tucuruí? Em que pese os impactos ambientais que obviamente existem e não são poucos, estas regiões se desenvolveram imensamente e contribuíram decisivamente para que o Brasil ousasse sacar mais de 30 milhões de brasileiros da linha de pobreza com a geração de novos postos de trabalho que, logicamente, necessitam de energia.
 

 Particularmente conheci de perto a primeira e a terceira regiões citadas. Morei no Pará, próximo a Marabá, e em Alagoas, ao lado de Xingó e Paulo Afonso. Em sala-de-aula fazia questão de perguntar aos meus alunos como eles imaginariam seus familiares vivendo sem estes empreendimentos que hoje geram milhões de empregos diretos e indiretos que não somente a pesca ou a caça. Essas pessoas devem ser ouvidas, mais que um tal James Cameron, que a despeito de seu talento como diretor de ficção, pouco entende da vida real brasileira.
 

E é justamente essa visão fictícia do mundo real que venceu na Bolívia. Foi a corrente santuarística que impôs enorme derrota ao projeto desenvolvimentista que ameaçou vingar com Evo Morales. Até a construção de rodovias capaz de integrar fisicamente o país e o continente foi boicotado em nome da mãe-natureza.
 

Os marxistas não podem vacilar. Como bem afirmam Doti et al. (2011), a sociedade futura não se pode pautar pela pobreza: o socialismo é o reino da riqueza. Mais adiante estes mesmo autores alertam que “as forças produtivas mais desenvolvidas correspondem a um maior controle sobre as condições naturais. Isso significa controlar o tempo de produção de materialidades mais complexas. Agir sobre o tempo e a matéria no sentido de produzir materialidades mais sofisticadas nada mais é que controlar a natureza”.
 

Esperemos que esse filme tenha um final feliz a favor do Projeto de Nação que aspiramos.

Literatura citada:
GRZYBOWSKI, C. Caminhos e descaminhos dos movimentos sociais no campo. Editora Vozes. 3a Edição, pp 25-30. 1991.
DOTI, M. M; GUY GUERRA, S. M. Eficiência tecnológica, forças produtivas e classes sociais. Herramienta, debate y crítica marxista. http://www.herramienta.com.ar/herramienta-web-9/eficiencia-tecnologica-forcas-produti vas-e-classes-sociais. Acessado em 23/11/2011.

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