Notícias de um sequestro

Empresto o nome do livro de Gabriel Garcia Marquez a este artigo para falar, ainda outra vez, sobre a crise política envolvendo o ministério do Esporte. O que se viu nas últimas duas semanas foi uma ação articulada, em bloco, que uniu a quase totalidade dos grandes meios de comunicação do país contra Orlando Silva e o PCdoB. Tudo sem nenhuma prova – ou mesmo evidência relevante – contra o ministro.

O linchamento, como todo linchamento, não conheceu limites. Começou por atacar o ministro, alvejou sua família, voltou-se contra o PCdoB. Mais um capítulo da história de perseguição aos comunistas em nosso país, algo que deve servir de alerta a todos os defensores da democracia.

Vivemos uma situação surreal na política brasileira. A oposição saiu derrotada das urnas pela terceira vez consecutiva, inclusive com força reduzida em governos estaduais e em especial no Parlamento. Sofreu a derrota na derrota com a defecção aberta pelo prefeito Gilberto Kassab e a torrente de deputados que o seguiram ao PSD. Hoje, a soma de PSDB/DEM/PPS (com a ajuda dos tucanos de bico vermelho do PSOL) não conta 100 deputados e uns tantos senadores.

Rachada, sem lideranças de estatura e sem bandeiras, a oposição sobrevive graças ao beneplácito da grande mídia. É ela quem amplifica a voz rouca dos ACM Neto e dos Caiado. É ela dá liga a uma bancada invertebrada, com pouca capacidade, sem nenhuma moral e nenhum compromisso com o país.

A verdade é que a grande mídia sequestrou a pauta política do Brasil. Sem nenhum voto para tanto. Dão ares de verdade às acusações, julgam e sentenciam. Nas palavras do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, "começam a investigação pela execução da pena".

Os grandes veículos de comunicação não fazem jornalismo, fazem política abertamente. O objetivo, óbvio, é impor a agenda negativa dos escândalos, enfraquecer o governo e a autoridade presidencial. E, ao que parece, têm obtido sucesso.

Resistência tenaz e exemplar

O caso de Orlando poderia ter desfecho diferente dos anteriores. Pela falta de uma evidência sequer contra o ministro, por sua reação firme e corajosa, pelo descrédito do acusador, pela nitidez com que CBF/FIFA mostraram seu lado, ficaram mais evidentes os propósitos políticos da crise e as intenções golpistas da mídia.

Tudo isso também possibilitou organizar a resistência do campo progressista, que ganhou corpo a partir da coesão e firmeza do PCdoB, mas extravasou as fronteiras partidárias e angariou apoios em outras legendas aliadas, personalidades, intelectuais e defensores da democracia.

Existiu um clima de resistência que poderia respaldar a manutenção do ministro pelo Palácio do Planalto. Não foi esse, porém, o entendimento da presidenta Dilma, que preferiu o recuo.

Notícias de um sequestro

Ruim para o governo, que demonstra fragilidade diante de um ataque feroz e constante. Os chacais, que não se contentaram com a queda de outros ministros, não vão parar com a queda de Orlando, porque objetivam destruir o governo.

Porque não ganharam no voto, mas querem governar através de falsas manchetes e verdades fabricadas. A verdadeira notícia, porém, é outra: é o sequestro da agenda política do governo eleito e da própria democracia. Notícias de um sequestro.

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