Os Aeroportos e a Copa

A toda hora vemos e ouvimos a mídia tratar da questão dos aeroportos brasileiros, que segundo dizem não estarão em condições ideais para a Copa do Mundo de Futebol de 2014. Fala-se da infra-estrutura física, de esteiras e corredores para os aviões e seus passageiros.

É raro alguém falar, porém, de um problema que é muito mais sério. Aliás, esse sim, é o problema. É o do funcionamento dos aeroportos do ponto de vista do controle de vôos.

Não terá graça nenhuma, por exemplo, um avião de alguma seleção não poder pousar em um aeroporto por falta de informação. O de Curitiba, por exemplo, vive fechado para pousos e decolagens por causa de neblina. Não adiantará tapete vermelho se o avião não pousar.

O controle do tráfego aéreo é setor em que o Brasil muito padece. Aqui, quase todo tráfego aéreo é controlado por torres terrestres. Há pequenas áreas de “buracos negros”, onde os pilotos recorrem ao GPS (Geo-Positioning Satellites), controlado pela agência espacial dos Estados Unidos, a NASA.

Esses “buracos” ocorrem especialmente na parte Norte da Amazônia brasileira, nas proximidades do Sistema Parima de Serras, onde está, por exemplo, o famoso Pico da Neblina, o ponto mais elevado do País. Mas os grandes aeroportos têm controle terrestre, arcaico.

A solução óbvia seria um satélite geoestacionário brasileiro, que supriria todas essas informações com risco muito menor para o nosso crescente tráfego aéreo. Mas isso passa pelo Programa Espacial Brasileiro, que agora parece deslanchar, apesar das pressões contrárias no campo internacional.

Nunca é demais lembrar que os dois maiores detentores de conhecimento neste campo são os EUA e a Rússia, herdeira do aparato central da antiga União Soviética. O que eles querem evitar é que novos países entrem no grupo dos que já detêm tecnologia de Veículos Lançadores de Satélites (VLSs), um negócio de bilhões e bilhões de dólares por ano.

Atualmente, os países que formam esse grupo, além dos dois maiores, são a China, Índia, França, Israel, Japão, Ucrânia, Coréia do Norte e Irã. Dois desses sistemas têm linhagem genealógica bem clara. O de Israel é filhote dos EUA. O da Ucrânia vem da antiga URSS, mas hoje sem interferência da Rússia. Os demais têm fontes próprias, ainda que com parcerias com os maiores.

De qualquer modo, a rigor, os EUA e também a Rússia, na sua esfera de influência, jogam pesado para que os demais lançadores não cooperem com nenhum outro país. E a capacidade de lançar é meio caminho para colocar um satélite em órbita.

Nas últimas semanas, houve evoluções importantes no acordo que o Brasil mantem com a Ucrânia, para a produção de um VLS nacional, a ser lançado na base de Alcântara, no Maranhão. A explosão de três foguetes, um dos quais em terra, de causa misteriosa, não altera os planos do governo brasileiro.

O acordo com a Ucrânia inclui cláusula de transferência de tecnologia, que é feita através de universidades brasileiras com a de Dnipropetrowsky, sede das pesquisas espaciais ucranianas.

Um satélite geoestacionário no ar significa autonomia do Brasil em três campos básicos: telecomunicações (rádio, TV, internet etc.), de meteorologia e de tráfego aéreo. No caso dos aeroportos, este último é que tem relevância.

Para formatar esse satélite, foi criada, ainda no governo passado, uma comissão vinculada à Agência Espacial Brasileira (AEB), com representantes de todos os setores do governo que tenham a ver com o tema, inclusive no campo militar.

Esse órgão tem funcionado na definição das características desse satélite e mesmo de possíveis parceiros para sua construção. A execução do projeto, vale lembrar, depende de dinheiro e de vontade política.

Mas a presidente Dilma Rousseff já deu vários indicativos de que isso haverá. Só que, a essa altura, talvez seja tarde para a Copa de 2014.

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