Tempos sombrios

A direita vem colhendo derrotas mundo afora. Desde o fracasso de suas guerras de conquistas à derrocada de sua política neoliberal, incluindo a quebradeira dos Estados Unidos da América, os tempos são sombrios para a direita. Mas, assim como os EUA, que não podendo mais pagar o que consome passa a tomar dos outros o que necessita, a direita brasileira, diante da perspectiva de um longo jejum de poder político, trama em tomar no tapetão o que o povo lhe negou nas urnas. Mas, agora, ela escolheu o alvo errado para atacar. O PCdoB já derrotou todas as ditaduras e todos os fascistas que tentaram lhe destruir. Os ataques ao ministro Orlando Silva serão respondidos à altura, por todos os meios.

Na sua curtíssima trajetória de organização social a humanidade já experimentou diversas formas de organização social: sociedade primitiva dos clãs, escravagismo, feudalismo, capitalismo e iniciou as primeiras experiências socialistas na Rússia, China, Cuba, Vietnam, Coréia, etc. Outros países também se proclamam socialistas cada um a seu modo.

Em cada uma dessas etapas da organização social a humanidade sempre ficou dividida entre as forças conservadoras, reacionárias, que recorrem a todos os meios para impedir mudanças e evitar a perda ou redução de seus privilégios e as forças progressistas que se batem, não raro arriscando a própria vida, para levar adiante as mudanças sociais transformadoras que possam melhorar a vida da maioria da sociedade em cada período histórico.

Esse confronto de classes sempre foi sangrento. As forças conservadoras, a direita, nunca aceitou fazer concessão ao povo sem luta. Via de regra recorre às ditaduras e a feroz repressão aos seus opositores na tentativa de impedir ou retardar as mudanças progressistas. Para tanto seus métodos combinam a perseguição política, linchamento moral, exílio, prisão, tortura e não raro execuções sumárias.

Na etapa atual de predominância do capitalismo “democrático” a direita experimentou vitórias e derrotas de caráter estratégico. O desmonte da experiência socialista na União Soviética é um exemplo emblemático dessas “vitórias”. A desmoralização da política neoliberal com a consequente quebradeira de “sólidas” economias capitalistas (aí incluído os Estados Unidos), a vitória eleitoral de forças progressistas em praticamente toda a América do Sul e a exuberância econômica e social da experiência socialista da China, estão entre as derrotas colhidas pela direita.

Para um analista menos atento era previsível que a direita de “encolhesse”. Mas a luta de classes, historicamente analisada, nos ensina que é precisamente nesses momentos que as forças obscurantistas recrudescem suas ações na tentativa de manter ou recuperar seus privilégios. Assim, intensificam seus ataques e abandonam qualquer veleidade com as normas legais ou morais – que a rigor nunca tiveram – na tentativa de eliminar eventuais obstáculos às suas pretensões.

É isso que explica, a nível mundial, a chamada “primavera árabe”, na qual o império busca se livrar de “ditadores” que ele mesmo colocou e deu sustentação, mas que, por razões diversas, já não satisfazem os seus interesses ou que eventualmente tiveram algum surto de nacionalismo e começaram a restringir a dilapidação de seus recursos naturais, especialmente o petróleo de que tanto necessitam os Estados Unidos e seus “parentes” europeus. A execução sumária de um ancião como Kadafi (79 anos) é apresentada ao mundo com a naturalidade de quem anuncia a morte de um filhote de preá. Não há mais qualquer limite ético ou legal. Vale tudo.

No caso brasileiro, a direita perdeu o controle político do país após 500 anos de mando e desmandos, aí incluídos algumas ditaduras sangrentas que ela bancou, financiou e deu guarida. Em 2002, com a vitória de Lula, ela sofreu sua primeira derrota. Mas imaginava que Lula não resistiria 6 meses. E fez de tudo para que de fato esse tempo não ultrapassasse essa “eternidade”. Mas Lula não apenas resistiu como se reelegeu, fez um mandato ainda melhor do que o primeiro e contribuiu decisivamente para a vitória de seu sucessor, no caso a presidenta Dilma Rousseff.

O desempenho da presidenta Dilma e a reafirmação, no fundamental, de uma pauta política progressista, que mescla ações sociais com a perspectiva de crescimento econômico, geração de empregos, reafirmação da soberania nacional e uma voz cada vez mais respeitada no cenário internacional faz com que a direita tema que os seis meses preconizados para Lula não se encerrem tão facilmente. Assim, dentro de sua lógica, é preciso encerrar esse governo ou no mínimo impedir que ele governe com desenvoltura.

A tática mudou, embora o objetivo seja o mesmo. No governo Lula a direita procurava associar o governo a invasões de terra diante da determinação de Lula de não criminalizar os movimentos sociais. Ao perceber que o conjunto da sociedade é simpática a reforma agrária, embora possa ter ponderações quanto aos métodos utilizados pelos movimentos sociais, ela elegeu prioritariamente a questão da corrupção como bandeira central de sua agenda política, essa sim, de grande apelo social. Sua tática, na essência consiste em passar a ideia de que todos são iguais, que os desmandos são gerais e assim nivelar o atual governo com o de FHC, recheado de corrupção e sistematicamente abafada. Só não consegue mais êxitos porque lhe falta credenciais para combater algo (a corrupção) que está umbilicalmente ligado a sua prática política.

Mas a direita não se intimida, até porque nenhum grande veículo de comunicação tem lhe cobrado essa coerência. Assim, após obter algum êxito com a exoneração de pelo menos 4 ministros (Palocci, Alfredo Nascimento, Pedro Novais e Wagner Rossi) ela imaginou que poderia escalar qualquer ministro para “cair” até chegar a vez da Presidenta que, ao que tudo indica, já tem plena consciência dessa tática.

Escolheu o alvo errado. Temos plena consciência do furor da luta de classes, da falta de escrúpulos da direita, de seus métodos nada republicanos e de sua tática golpista. Reagiremos à altura, no ataque, até porque ninguém de bom senso nesse país pode levar a sério a denúncia, sem qualquer prova material, de alguém que está sendo investigado e certamente será obrigado a devolver recursos públicos em decorrência de ação movida exatamente pelo ministro que ele acusa. Sua motivação e leviandades são óbvias demais.

A repercussão do fato se deve exclusivamente a esses tempos sombrios quando, no auge da luta de classes, não se respeita mais nenhuma regra, por mais elementar que seja, como a exigência da comprovação material de um eventual delito, embora, como afirma o nosso presidente nacional, camarada Renato Rabelo, “o nosso ministro procurou responder às acusações de forma decidida, altiva e rapidamente, mostrando que não tem o que temer. O PCdoB não vai temer diante de uma montagem como essa, se intimidar, se dobrar. O PCdoB participou de todas as lutas importantes do Brasil, contribuiu de forma significativa nas lutas populares e diante desses ataques o nosso Partido se tempera e se une. O ministro merece toda a nossa confiança, todo o nosso apoio. Eles não sabem com quem estão lidando”.

O PCdoB é indestrutível, pelo simples fato de que não se pode derrotar uma ideia a não ser com outra ideia mais justa e superior, o que não apareceu até o presente em relação ao socialismo. De nossa parte, porém, talvez seja necessário rigor ainda maior no contra-ataque.

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