Líbia resiste à agressão neocolonial

A mediática colonialista decretou silêncio a respeito dos crimes de guerra que os trombadões de Paris, Londres e adjacências estão cometendo na Líbia. O advogado Jacques Vergès, um dos mais notáveis protagonistas da luta anti-colonialista do último meio século, visitando Trípoli em 30 de maio, afirmou que iria processar Sarkozy por crime contra a humanidade. O presidente da França é hoje sem dúvida o maior celerado da Otan, mas cumpre reconhecer que além de seus pistoleiros aéreos, há muitos trombadinhas cor de rosa ao lado dele.

É o que a Assembleia Nacional Francesa se encarregou de confirmar, aprovando em 12 de julho, por 482 votos contra 27, o prosseguimento dos criminosos bombardeios sobre a Líbia iniciados quatro meses antes. O Partido socialista manchou-se mais uma vez, votando em peso, com honrosas, mas pouquíssimas exceções, a favor dessa sórdida guerra descaradamente colonialista. Os comunistas, ao lado de outros deputados da esquerda, cumpriram seu dever internacionalista votando contra o banditismo de Estado. O fato de que constituam hoje uma pequena minoria é tão honroso para eles como para os socialistas é desonroso retomar as piores tradições da social democracia francesa. Vale lembrar que a antiga Section Française de l’Internationale Ouvrière (SFIO), a despeito do nome pomposamente revolucionário, sustentou as mais odiosas operações coloniais, inclusive a atroz repressão aos patriotas da Frente de Libertação Nacional (FLN) argelina. Admite-se que o Exército colonial francês matou cerca de um milhão de argelinos durante a guerra de libertação nacional.

Mesmo governos que mantém certa distância em relação a mais esta expedição colonial da Otan, como o da Espanha, dão sua  contribuiçãozinha para ajudar os “rebeldes”. Os bancos espanhóis detêm mais de cem milhões de euros em fundos depositados pelo governo líbio. Khadafi pediu o descongelamento de pelo menos parte desses fundos, para adquirir medicamentos e alimentos. Foi-lhe respondido que para tanto era preciso autorização do Comitê de Sanções da ONU, que só permite uso de dinheiro bloqueado para fins « humanitários ».. O descongelamento foi autorizado, mas, explica El País (21/7/11) : « a operação ainda não se materializou, já que o governo quer completá-la com outra similar para a zona do país controlada pelo Conselho Nacional de Transição (CNT) […] Precisamente hoje visitará o país o primeiro ministro do CNT, Mahmud Jibril […] ». Difícil saber se mais hipócrita é o jornal da direita liberal pós-franquista ou o governo do Zapatero. Mas o fato é que sustaram o descongelamento não por causa da burocracia onusiana, nem muitíssimo menos por razões filantrópicas, mas para fazer média com os “rebeldes”.

Os governos colonialistas reconheceram prontamente esse « Conselho » porque sabiam que ele se compunha de um bando de bonecos de mola dispostos a todas as concessões. Frau Merckel não gasta um tostão atoa, como sabem os gregos por experiência própria. Se recentemente liberou cem milhões de euros para os “rebeldes”, é porque está confiante em que esse investimento será amplamente compensado.  

Graças ao forte, constante e criminoso apoio aéreo fornecido pela Otan, os jagunços líbios têm progredido no terreno. Em 14 de julho, desfecharam nova ofensiva sobre o porto petroleiro de Brega, que já haviam ocupado e de onde tinham sido desalojados por um contra-ataque das forças do governo. A batalha pela posse da cidade prossegue.  

É difícil fazer prognósticos sobre o curso e o desfecho do confronto, mas desde logo o presidente da França e outros pistoleiros fanfarrões, como seu ministro do Exterior Alain Juppé, que tinham anunciado uma intervenção rápida, de algumas semanas (segundo eles o bastante para derrubar Khadafi), estão engolindo suas bravatas. Abrindo os debates que precederam o voto infame da Assembleia Nacional Francesa, o primeiro ministro François Fillon, descarado como todos os prepostos de Sarkozy, alegou que «jamais dissemos ou pensamos que a intervenção na Líbia seria fácil e terminaria em poucos dias». E acrescentou : «Khadafi está acuado. O ponto de ruptura não foi ainda atingido; é agora que temos de ser mais firmes do que nunca». Mas nosso primeiro objetivo, « evitar um banho de sangue em Benghazi, foi atingido».

Mas atingido mesmo foi o general Abdel Fattah Younes. Em 1969, ele participou, ao lado de Khadafi, do levante militar que derrubou a corrupta monarquia do rei Idris, capacho do imperialismo e em particular dos trustes petroleiros. Esteve décadas a fio na cúpula do novo regime, mas virou a casaca para se pôr a serviço dos filhotes da Otan. Terminou a carreira dia 28 de julho: convocado pelo CNT para dar explicações sobre o modo como estava conduzindo a ofensiva contra o governo, foi preso e sumariamente executado por seus novos parceiros ao chegar a Benghazi, juntamente com dois de seus subordinados. O cadáver estava parcialmente queimado, sugerindo que os “rebeldes” não são tão humanitários assim. Entre eles há de tudo, agentes da CIA e dos serviços especiais francês e britânico, aventureiros, mercenários e outros bandidos profissionais, e islamistas fanáticos. Aliás, entre as desencontradas e às vezes francamente estúpidas “explicações” do assassinato de seu próprio comandante em chefe oferecidas pelos porta-vozes do cartel dos chefes “rebeldes” a soldo da Otan,  a mais insistente acusa uma tal Brigada islâmica Obaida Ibn Jarrah. Sejam quem forem os autores do crime, eles se merecem.

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