A “raça” latino-americana em jogo

Lamentavelmente a Copa América de futebol não entusiasma muito o brasileiro, ao contrário dos demais “hinchas” (torcedores) da América Latina que a consideram uma grande celebração. No Brasil, os jogos sequer são transmitidos pela TV aberta. Exemplo maior de nosso descaso talvez seja o fato de as seleções Argentina e Uruguaia terem, cada uma, quase o dobro de conquistas que o Brasil (14 para a Argentina e 15 para o Uruguai que neste domingo, contra o Paraguai, levantou o seu 15o troféu).

Também os times latino-americanos são disparados mais vencedores da Copa Libertadores da América, que homenageia o “Libertador Bolívar”, do que os clubes brasileiros que só de uns anos para cá têm dado bola para a competição, atraídos mais pelos dólares e a chance de disputar o Mundial Interclubes com algum escrete europeu, que propriamente pelo sentimento de latinidade.

Apesar de comemorarmos já o vigésimo aniversário do Mercosul e termos avançado muito na integração econômica com nossos vizinhos, culturalmente ainda nos mantemos muito distantes e isolados do restante do continente. E o futebol ilustra bem esse afastamento.

Enquanto em qualquer loja de materiais esportivos pelo Brasil afora é fácil encontrar camisas de vários times da Europa, não existe no mercado nacional nenhuma camisa do glorioso Peñarol (que acaba de decidir a final da Libertadores com o Santos). Até o Cosmos dos EUA tem mais itens à venda no Brasil que Boca Juniors e River Plate juntos.

Poderia se acrescentar no “As veias abertas da América Latina” do autor uruguaio Eduardo Galeano, que também no esporte mais popular do país, o Brasil mantem-se de costas viradas às nações de seu próprio continente, mirando hipnotizado para a Europa, assistindo nossos melhores talentos serem saqueados cada vez mais precocemente. Crianças vestindo o uniforme do Real Madrid são comuns em todo o território nacional. Já as camisas do Cerro Porteño, Nacional de Montevidéu, América de Cali, LDU, Colo Colo, Estudiantes e tantos outros gigantes do futebol mundial, são desconhecidas por toda a molecada.

Pouco assistida por brasileiros, a Copa América chegou ao seu fim. Teve uma final eletrizante entre duas pequenas nações, Uruguai (com uma população similar a da Grande Belo Horizonte) e Paraguai. Ambas tiveram o mérito de eliminar dois gigantes do futebol mundial: Argentina e Brasil, respectivamente.

Certamente o Uruguai, com seus quatro títulos mundiais (duas copas do mundo e duas olimpíadas) não é nenhuma zebra. Mas jogou contra os donos da casa, a Argentina, cuja seleção de astros e estrelas quase equivale a sua dívida externa (!!!). Venceu jogando com um homem a menos desde os 38 minutos do primeiro tempo. Mais uma façanha de uma seleção que, assumindo ter sérias limitações, é acostumada a se valer da coletividade e da sua raça peculiar para realizar proezas inimagináveis. Já o Paraguai, é até desnecessário comentar. A maioria dos brasileiros viu, ao vivo e a cores, que se faltou técnica, sobrou garra e vontade de vencer aos paraguaios.

Esta Copa América sepultou os considerados grandes do futebol. Fez jus ao estádio de Santa Fé, que tem o apelido de “cemitério de elefantes” e viu Argentina de Messi, Higuaín, Agüero, Tevez, Pastore e Gago ser enterrada frente há quase 60 mil compatriotas.

Nas vésperas da Copa do Mundo, fica o exemplo para reflexão. Outro Maracanazo seria uma tragédia para um elefante da envergadura de uma seleção anfitriã pentacampeã do mundo, que precisa assimilar (literalmente) a raça latino-americana.

Parabéns ao Uruguai!

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