“Pelas moedas de ouro da amizade”: Itamar por Denise

A figura humana, o amigo de longa data

Tancredo Neves disse que "Itamar guarda o ódio na geladeira" e que "a gente tem a eternidade para descansar". Com Itamar Franco no berço da eternidade, "pelas moedas de ouro da amizade", Denise Paiva, assistente social mineira de Juiz de Fora, nos deve um escrito: "O melhor de Itamar" – a figura humana, o amigo de longa data, com birrinhas e turras, de ambas as partes, uma amizade que é um número imperdível, tipo um é o frontal do outro!

Minha empatia com Itamar Franco é gratidão: foi guardião da República (1992-1994) com aquele ar blasé, topete indomável ao vento, como garantia que contra o povo jamais se insurgiria… Se provinciano, sistemático e "de lua" para os políticos, o povo o via de outro modo, vide agradecimento do MST (ele não cumpria liminar de reintegração de posse de terra!), e se deliciava com suas tiradas de ares quixotescos e "robinwoodianos", sem falar no estilo don Juan mais que perfeito!

Acolheu os movimentos sociais, criou a Ação pela Cidadania, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar, a Rede Nacional de Mobilização, a Política de Reforma Agrária (Lei nº. 8.629, de 23.2.1993), a Lei Orgânica da Assistência Social e o Plano Real. E oficializou o pão de queijo no Planalto, uai! Seduziu a Autolatina a relançar o Fusca, por quem nunca morri de amores. Quase comprei um no fuzuê itamariano, não fossem os ecos dos gracejos do Ronaldo ao comprar o primeiro carro, fim dos anos 1970! "Um fuscão preto?" Indignado, retrucou: "Que é isso, tia? Fusca é igual a bunda, todo mundo tem!".

Uma picante arteirice do presidente Itamar foi calar o boquirroto senador Antonio Carlos Magalhães, ao vivo e a cores! Não há o que pague ter visto ACM de crista baixa! Governador de Minas (1999-2002), à revelia do feminismo, tirou do colete um "Conselho da Mulher" nada a ver, o suficiente para que eu não quisesse nem dadas nem tomadas com ele!

De resto, impecável: suspendeu o pagamento da dívida do Estado; não aceitou tropas do Exército "protegendo" a fazenda de FHC em território mineiro; e guarneceu o Palácio da Liberdade com tanques de guerra argumentando que FHC desejava intervir em Minas! Pura animação televisiva!

Certa noite, saindo do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, vi Denise Paiva, com quem trabalhei no governo de Luiza Erundina (1989-1993). Nas mobilizações pelo impeachment de Collor, disse-me que trabalhara com o então vice-presidente quando prefeito de Juiz de Fora (1972); e, se ele virasse presidente, petista juramentada, iria para o governo: "Não faltarei ao Itamar numa hora assim!".

E foi! Assessora de Assuntos Sociais da Presidência da República – na prática, ministra poderosa -, pintou, bordou e orquestrou bonito! Nosso reencontro foi uma explosão de alegria: "Estás no governo de Minas?". Ela: "Não, deixei Itamar ir teimar sozinho!". Na casa dela, comilança, vinhos, gargalhadas e lágrimas. Após uma noite acordadas, fomos trabalhar. Embasbacada com os bastidores do poder por ela vividos no governo Itamar, disse-lhe: "Escreve um livro". Ela: "Vou escrever!".

Escreveu "Era Outra História – Política social do governo Itamar Franco: 1992-1994", em que exibe o DNA dos programas de renda mínima. Denise: falta um livro para o povo conhecer mais quem ousou ser um aldeão tolstoiano – "Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia" -, falando: "O poeta Fernando Pessoa dizia que o Tejo é bonito, porém mais belo é o rio que passa na aldeia da gente . Eu prefiro o rio Paraibuna ao lago Paranoá".

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