O Mural brasileiro de Paulo Werneck

O desenhista e muralista brasileiro Paulo Werneck, amigo de Oscar Niemeyer, Cândido Portinari e, como eles, filiado ao Partido Comunista do Brasil, está sendo homenageado com uma exposição na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

 
   
 
   
 
   
 
   
   
   
   

A exposição, intitulada "Paulo Werneck, Muralista brasileiro", faz parte de um programa de exposições temporárias em que a Pinacoteca quer apresentar a produção de artistas brasileiros que ainda não tiveram seus trabalhos devidamente reconhecidos ou estudados. Um desses artistas – um dos grandes criadores do período do Modernismo brasileiro – é o carioca Paulo Cabral da Rocha Werneck.

Paulo Werneck nasceu em 29 de julho de 1907, nas Laranjeiras, Rio de Janeiro. Com apenas 20 anos de idade, iniciou sua carreira artística como ilustrador da revista A Época, dos estudantes de Direito da UFRJ, assim como se tornou ilustrador de diversos livros. E de revistas como Fon-Fon, Para Todos, Esfera, Diretrizes, Sombra, Rio Magazine e os seguintes jornais: A Esquerda, Diário de Notícias, A Manhã, Correio da Manhã, Tribuna Popular, Para Todos e o jornal Imprensa Popular, para o qual fez mais de 300 ilustrações.

Ainda em 1938, Paulo Werneck participa da I Exposição de Arte Social, organizada pelo Club de Cultura Moderna no Rio de Janeiro. A partir daí, se dedica também a ilustração de livros infanto-juvenis, como oNegrinho do Pastoreio da editora Civilização Brasileira, publicado em 1941.

De 1942 em diante, Paulo Werneck começa a realizar grandes paineis de mosaico para inúmeros edifícios e construções, inclusive residenciais, como o da casa de Juscelino Kubistchek, a pedido do arquiteto Oscar Niemeyer. Também para Niemeyer, ele produz os paineis de azulejos do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, Minas Gerais, que inclui a Casa do Baile, o Iate Clube e o Cassino, além da Igreja da Pampulha, também do arquiteto Niemeyer, de quem se tornou um grande amigo.

Niemeyer, em seu livro "As curvas do tempo", de 1998, disse que "sempre que me permitem, convoco os artistas plásticos. Na obra do memorial da América Latina convoquei nove pintores e cinco escultores. Na da Pampulha, meu primeiro projeto, convidei Portinari, Ceschiatti e Paulo Werneck. Eram grandes artistas, bons amigos e, como é natural, a eles sempre recorri.

Foi como muralista que Paulo Werneck se destacou nas artes brasileiras, como dizia Darcy Ribeiro: "O Paulo não foi um pintor de cavalete de quadros. Ele emprestava sua arte às construções, com seus murais, dava dignidade às paredes… ”

Em Cataguases, Minas Gerais, participou da construção de um colégio secundarista junto com grandes artistas do modernismo brasileiro na década de 50: Oscar Niemeyer, Portinari, Burle Marx, Bruno Giorgi, Ceschiatti, Djanira e vários outros.Mas Werneck também estava atento às mudanças políticas que se operavam no Brasil. Diz o arquiteto e artista plástico Carlos Martins (também curador desta exposição) que Paulo Werneck era "partidário dos movimentos contrários ao crescente avanço nazifascista, e sua produção, por todos os conturbados anos 30, vai refletir suas preocupações para com uma sociedade mais justa e digna. (…) Ao evitar uma representação de cunho didático, vai registrar a relação do homem com o meio urbano e industrial, as manifestações e festas populares, as lendas e tradições regionais, sempre com um olhar idealizado e otimista."

Era um nacionalista militante. Durante mais de 20 anos, Werneck ilustra inúmeros jornais e revistas do Rio de Janeiro. Era sua maneira pessoal de participar das mudanças políticas que estavam em curso no Brasil.

Seu atelier, no bairro das Laranjeiras no Rio, era também um ponto de encontro dos companheiros de Werneck, militantes, como ele, do Partido Comunista do Brasil. Paulo Werneck foi desses artistas que, não satisfeito apenas com sua vida pessoal e artística, resolve ser um ator também das lutas pela liberdade e pela democracia. E pelo socialismo.

Werneck "marcou a paisagem arquitetônica brasileira com centenas de murais", diz o catálogo da exposição, que é também uma iniciativa da família do artista, que faleceu em 1987, doente de câncer.

Esta exposição é um dos primeiros resultados do Projeto Paulo Werneck que quer preservar e divulgar a obra desse artista que marcou a paisagem arquitetônica brasileira com centenas de murais.

A exposição vai até o dia 7 de julho de 2011, na Pinacoteca de São Paulo.

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