Sobre a produtividade

O dicionário de economia de Paulo Sandroni nos ensina que “é difícil quantificar globalmente a taxa de produtividade do trabalho, pois ela varia conforme a empresa, a região e outros fatores”.

O conceito de produtividade do trabalho presta-se, pois, a grandes manipulações técnicas e ideológicas dependendo dos interesses em jogo.

Para quem quer reduzir os salários ou atrasar sua recuperação é essencial “demonstrar” que o salário tem subido mais que a produtividade e que, portanto, empurra a inflação.

É o que se constata no levantamento do Banco Central (ver Valor 30 de maio, página A4) para quem, no conjunto da economia, os salários médios reais cresceram 10,7% e a produtividade 3,1% entre 2007 e 2010, com uma diferença de 6,7 pontos percentuais (8,5 se considerarmos apenas os serviços).

A matéria do jornal, assinada por João Villaverde, encarrega-se de “sandronizar” esta afirmação com depoimentos de alguns especialistas que confirmam como é fluida a relação salário/produtividade/inflação no caso concreto brasileiro.

Também os dirigentes sindicais estão atentos ao tema. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e vice-presidente da Força Sindical, Miguel Torres, que dirige a campanha dos metalúrgicos de São Paulo, em matéria recente do Jornal da Força Sindical afirma que “toda vez que os salários perdem de goleada para a produtividade quem ganha é a concentração de renda nas mãos dos mais ricos”. O que ele fala foi quantificado também na mesma matéria pelo economista do Dieese Airton dos Santos com os números industriais acumulados de 2009 e 2010: enquanto a produção cresceu 2,32%, o emprego e as horas pagas caíram respectivamente 1,77% e 1,42% e a produtividade cresceu 3,76%.

Depois da crise de 2009 e da forte recuperação de 2010 existe uma “folga” entre produtividade e salários a ser preenchida sem empurrar a inflação.

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