O papa e a origem de tudo

O papa Bento XVI parece estar cumprindo a previsão que o escritor português José Saramago fez dele, quando foi ungido Sumo Pontífice: é a Inquisição que chega ao poder supremo. Neste início de setembro atacou a ciência e também o islamismo, valendo-se

Deixando a briga religiosa para os religiosos, vale abordar uma pergunta e a resposta dada a ela pelo próprio Ratzinger dia 12, durante cerimônia religiosa em Ratisbona, sul da Alemanha. Questionou ele: ''O que existe na origem? A razão criadora, o espírito que opera em tudo e proporciona o desenvolvimento, ou a irracionalidade que, despojada de toda razão, produz estranhamente um universo ordenado de maneira matemática, assim como o Homem e sua razão?”. Antes que algum aventureiro o fizesse, tratou ele mesmo de responder: “Como cristãos, dizemos: ‘Creio em Deus Pai, Criador do céu e da terra’, creio no Espírito Criador”. E já retrucou uma possível resposta negativa, caso alguém ousasse fazê-la: ''Sem Deus, os cálculos sobre o homem não encaixam e os cálculos sobre o mundo, sobre todo o vasto universo, não encaixam sem Ele''.


Além de suas convicções arraigadas, o papa revela, com esse arrazoado, sua profunda ignorância em assuntos científicos (já que está fora de questão que o chefe da Igreja Católica aja de má fé). A ciência recente não considera o universo “ordenado de maneira matemática” – isso é abastardar o argumento materialista. Além do quê, caberia a ele dizer que tipo de cálculos está realizando que “não encaixam” sem o fator Deus e quais os cientistas que estão realizando essas operações matemáticas…


Para os marxistas, a resposta ao questionamento feito pelo chefe da Igreja, “o que existe na origem?”, é: a matéria. O materialismo dialético parte da observação da realidade para propor teorias – não pressupõe uma teoria (a Idéia, Deus, o Criador) para, a partir dela, explicar a realidade. Escreveu Friedrich Engels, no Anti-Dühring: “Os princípios não são o ponto de partida da investigação, mas o seu resultado final; estes princípios não se aplicam à natureza e à história da humanidade, mas são abstraídos delas; não são a natureza e a humanidade que se conformam com os princípios, mas, pelo contrário, os princípios só são verdadeiros na medida em que correspondem à natureza e à história. Esta é a única concepção materialista do problema”.


Esta concepção não se invalida, pelo contrário, consagra-se a cada nova descoberta da ciência: “Na teoria do conhecimento, como em todos os outros domínios da ciência, deve-se raciocinar dialeticamente, isto é, não supor o nosso conhecimento acabado e imutável, mas analisar de que modo da ignorância nasce o conhecimento, de que modo o conhecimento incompleto, impreciso, se torna mais completo e mais preciso”, pontuou Vladimir Lênin no Materialismo e Empiriocriticismo.


As duas concepções fundamentais da existência, a idealista e a materialista, deblateram-se há milênios e os posicionamentos não versam apenas sobre a teoria do conhecimento, mas extrapolam para a vida política e social, manifestam-se na luta de classes – como o demonstram as guerras religiosas e a perseguição à ciência e aos materialistas através dos tempos.

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