Contra a vida das mulheres

Aécio Neves, em quem jamais votei, não consegue ser sincero em quase nenhum tema dito polêmico. Fiquei sem entender: em relação à proposta de descriminalização do uso da maconha, como um caminho para a redução do narcotráfico, o governador mineiro disse h

“Não sou a favor da descriminalização”, disse ele, “mas defendo que haja um amplo debate público sobre o assunto”. Ah, bom! Todavia, declarou: “Não me oponho à união civil entre homossexuais.”


 


E quase se saiu bem sobre aborto. Mas não teve coragem. Disse ser contrário à condenação de mulheres que fazem aborto, mas se opôs à legalização da prática (…). “Não apóio a legalização do aborto, mas não defendo que a mulher que tomou tal iniciativa seja presa” (…).


 


“Não questiono a mulher que toma tal atitude, até porque imagino que seja uma decisão muito sofrida para ela” (…).


 


Afirmou que é sabido, no Brasil, que as mulheres das famílias mais ricas conseguem fazer aborto com acompanhamento médico e em segurança, enquanto as pobres o fazem em situação degradante. Para quem sabe ler, um pingo é letra.


 


Levei quase a vida toda para perceber que o caminho para retirar as drogas ilícitas das mãos do narcotráfico e reduzir os danos do vício é a legalização delas, em concomitância com um investimento de peso em educação e outras medidas preventivas.


 


Outros temas polêmicos para uns e malditos para outros, que considero relevantes para o debate eleitoral são: questões pertinentes à plena cidadania dos gays, lésbicas e travestis; políticas de ação afirmativa e nelas, as cotas étnicas; e a legalização do aborto, inserida numa perspectiva de justiça social e de ampliação da democracia num Estado laico – que afugenta quase 100% das candidaturas ao executivo federal e estadual e a quase totalidade de aspirantes ao Congresso Nacional.


 


Estou irritada com Nilmário Miranda e sua declaração contrária à legalização do aborto. Nilmário disse ser a favor da união civil de homossexuais e da descriminalização do uso da maconha.


 


“A maconha deve ser tratada como o álcool e o cigarro, sem confundir com as atividades criminosas associadas.” Afirmou não ser favorável ao aborto, mas defendeu que todos os casos de mulheres que recorrem a serviços clandestinos sejam tratados pela rede pública de saúde.(“Folha de São Paulo”, 18/8/2006).


 


Cá em Minas, o tempo fechou. Se eu não tivesse o dever moral de votar no deputado federal Sérgio Miranda e em Lula como uma vacina para que o PT não imite a Frente Sandinista tão cedo (acaba de se declarar contra o aborto em nome de Deus!), poderia ficar mornando em minha cama no dia das eleições.


 


Não há candidatura a senador que mereça um voto de quem se respeita por ter passado mais de três décadas “caminhando e cantando e seguindo a canção”. Candidaturas a governador, não se vislumbra mais. Nilmário Miranda? Perdeu meu voto. Adotou um estilo camaleão demais para meu gosto.


 


Além das questões democráticas ditas estruturantes da vida social e política, exijo (o voto é meu, posso exigir!) que o freguês/ freguesa dele tenha posições públicas compatíveis com o que eu penso nos quatro pontos mencionados.


Sem o que, não levará meu voto, nem para impedir que o fundamentalista Alckmin chegue ao segundo turno. Não preciso dizer mais, pois de Alckmin tenho asco e piedade humanitária. Radicalizei? Ainda não. Apenas penso assim. Tenho motivos e direito.

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