O Império da confusão

As inúmeras confusões envolvendo o atacante Adriano o inocentam e o condenam. Se por um lado, a cobertura da imprensa evidencia preconceitos de classe, por outro, ele parece fazer questão de se enrolar cada vez mais.

O ano de 2010 é um dos mais turbulentos para o Imperador Adriano. Suas constantes ausências aos treinos e jogos do Flamengo viraram “bolinho” se comparados aos dramas pessoais do atacante.

Adriano nasceu e cresceu na Vila Cruzeiro, favela do Complexo do Alemão, área controlada pelo Comando Vermelho. Ou seja, todos os seus amigos de infância e adolescência moram por lá e nas comunidades próximas, como a Chatuba e Nova Brasília, onde o Imperador é frequentemente visto.

Foi nos campinhos de terra da favela que Adriano desenvolveu seu talento par a o futebol, e com esses amigos. Mas nem todos tinham o mesmo talento, e mesmo se tivessem, não tem lugar pra todo mundo no futebol profissional. Como em qualquer outra favela brasileira, o futebol e a música são alternativas para condições melhores de vida.

A esse enorme contingente de moradores da favela que não se tornam jogadores de futebol as oportunidades são bastante reduzidas. Diante disso, o crime se torna um meio de vida, e os amigos da pelada se tornam traficantes, mas nem por isso deixam de ser amigos.

A moral predominante na sociedade, leia-se a burguesa, não permite que tenhamos amigos criminosos. Ou que, pelo menos, escondamos nossos amigos que praticam delitos. Mas até hoje, do que nos serviu essa moral?

A maioria da imprensa, também burguesa, reproduz o normativo de conduta da classe dominante e o difunde.

Portanto, se torna um absurdo Adriano aparecer ao lado de seus amigos de infância. Melhor seria perder treinos e jogos porque foi visto em boates na Zona Sul do Rio. Em Ipanema, Leblon, Gávea, Lagoa, onde só tem gente da estirpe que essa imprensa gosta, aí pode.

Mas se a imprensa dá seus vacilos cotidianos, Adriano também parece que gosta de provocar polêmicas. Não precisa dar uma de bom moço, mas como figura pública que é, sabe que sua vida é vasculhada pela imprensa, e que a opinião pública rapidamente se volta contra ele.

Comprar moto para a mãe de um traficante, ser fotografado com fuzil ao lado de outro, suspeito de financiar mais um, entre outras relações, não são condenáveis por si só, pois foram todas justificadas e nada, até o momento, o envolve diretamente a atividades criminosas. Mas ele poderia se preservar um pouco mais.

Com a internet, rapidamente fotos e vídeos são amplamente divulgados, e cada vez mais as relações “perigosas” de Adriano caem na boca do povo pelo pior viés, o do preconceito de classe.

Adriano já perdeu a Copa, perdeu a Libertadores e perdeu a forma física. Agora deve cuidar para que não perca sua liberdade, só para servir de exemplo aos moralistas de plantão.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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