A ascensão da China e a geopolítica mundial

O ano passado confirmou, uma vez mais, que os ventos que movem o desenvolvimento desigual das nações continua soprando a favor da China, cujo PIB cresceu nada menos que 8,7% em 2009, superando as mais otimistas expectativas. A taxa, exuberante e compreensivelmente surpreendente numa época castigada pela crise mundial do capitalismo, contrasta com o desempenho deprimente das maiores potências capitalistas.

EUA, Japão e Alemanha ainda estão amargando a pior recessão desde a 2ª Guerra Mundial. A produção industrial chinesa cresceu 18% no quarto e último trimestre do ano.

O desenvolvimento desigual não é sinalizado pelo indicador de um único ano. Verifica-se ao longo de décadas. Desde 1978, a economia chinesa avança num ritmo médio superior a 9% ao ano. Anteriormente crescia cerca de 6%, o que não é pouco. No mesmo período, o PIB dos EUA evoluiu a passos de tartaruga: pouco mais de 2% ao ano. A performance das potências européias e do Japão (que caiu no pântano da estagnação nos anos 1990 e dele ainda não saiu) foi igualmente sofrível.

Maior credor

Ao longo do tempo, o crescimento vertiginoso e desigual transformou a China na segunda maior economia do mundo, sob o critério do PIB medido pela Paridade de Poder de Compra (PPC). Em 2009, o país se transformou na maior potência comercial, superando a Alemanha e os EUA no ranking das exportações mundiais. Possui as maiores reservas em divisas fortes (2,3 trilhões de dólares no final do ano passado) e é o maior credor dos EUA.

A economia chinesa já é, hoje, a mais dinâmica do globo. Seu desempenho favorece o desenvolvimento de outros países não só da Ásia, mas na América Latina, na África e em outras regiões, amenizando sensivelmente os impactos da crise exportada pelos norte-americanos. Foi também em 2009 que o gigante asiático tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil, deslocando os EUA.

Tempo de transição

A mudança em curso nas economias repercute no plano político e tende a alterar a balança do poder mundial e o cenário geopolítico, colocando o planeta numa rota de transição. A vigorosa ascensão da China coloca na ordem do dia da história a necessidade de uma nova ordem mundial. Destaca-se neste sentido a demanda por um novo Sistema Monetário Internacional (SMI), com a substituição do dólar como unidade de referência internacional para preços e contratos.

O futuro parece reservar à China o papel de locomotiva da economia mundial, que os Estados Unidos, vergados pela dívida e em franca decadência, já não estão em condições de exercer. O padrão de acumulação ancorado nos desequilíbrios comerciais e financeiros da maior economia capitalista do mundo, que segundo o economista Stephen Roach constituem a raiz da crise internacional, revelou-se insustentável e, mais cedo ou mais tarde,terá de ser substituído.

Os ideólogos neoliberais e mesmo analistas de esquerda interpretam a prosperidade da China como uma consagração do capitalismo. O tema é controverso, mas não é possível negar que a nova realidade promovida pelo desenvolvimento desigual é, em grande medida, resultado da revolução de 1949, dirigido pelo Partido Comunista, que resgatou a dignidade da grande nação asiática, subtraindo-a do jugo das potências imperialistas e abrindo caminho para o desenvolvimento soberano e robusto. Gloriosa revolução que, ao contrário do que ocorreu na União Soviética e em todo o leste europeu, não foi renegada pelo governo, que define o sistema produtivo como uma “economia socialista de mercado”.

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