O rumo é socialista

O 12° Congresso do PCdoB, realizado no início do mês em São Paulo, foi o estuário de uma construção coletiva sobre os caminhos da revolução brasileira, a rota a percorrer daqui até o início da construção socialista.

Esta foi, digamos, a novidade oferecida pelo congresso. Até então, as elaborações a respeito ainda eram tímidas, genéricas demais, embora o PCdoB, desde 1995, tenha apresentado à Nação um programa socialista e trabalhado fortemente em sua aplicação às circunstâncias brasileiras.

Mas, a meu ver, o essencial do congresso foi a reafirmação do rumo socialista. Isso não é pouco no mundo atual e o PCdoB o fez, lúcido e categórico. Os caminhos a percorrer decorrem desse rumo, bússola a evitar descaminhos e hesitações.

Tratei desse assunto em minha modesta e breve intervenção no congresso, preocupado com o que me parece o essencial em nossa caminhada: a luz da estratégia iluminando a tática para que não nos percamos nas armadilhas da luta de classes.

Por querer compartilhar tais idéias com mais pessoas que os 1.076 delegados ao congresso, resolvi ocupar o espaço de hoje da coluna com a íntegra da intervenção, que segue abaixo.

“Camaradas!

Há, entre este congresso e o 8°, de 1992, visíveis semelhanças pelas dimensões estratégicas que encerram.

No 8°, o partido foi tangido a refletir criticamente sobre a derrota do socialismo no Leste europeu. E o fez não só com coragem, mas também com tirocínio e profundidade. Promoveu ajustes teóricos importantes. Negou paradigmas anteriormente estabelecidos, a começar pela idéia de modelo único de socialismo.

Sem modelos, criamos para nós outro desafio: dar conta das singularidades da revolução em nosso País, construir uma alternativa de socialismo com feição brasileira. Este é,m fundamentalmente, o desafio contemporâneo enfrentado pelo 12° Congresso.

O VIII congresso enfrentou a crise do socialismo com lucidez teórica, maturidade política e firmeza ideológica, reafirmando o projeto socialista, consciente dos erros e deficiências das experiências inaugurais. E o fez sem mudar de nome, cor e símbolos, como insinuavam alguns.

O informe do camarada Renato Rabelo alentadoramente nos indica que o Partido enfrentará os desafios da luta pelo socialismo no Brasil consciente dos ricos de uma caminhada singular, mas também – e sobretudo – de suas potencialidades revolucionárias. E disposto a fazê-lo como partido comunista, marxista-leninista, revolucionário, formulador e implementador de um programa político ajustado ao objetivo estrutural e estratégico da classe operária e dos trabalhadores do Brasil, ou seja, o socialismo científico com fisionomia brasileira.

Este é, a meu ver, um aspecto fundamental – e determinante – dos nossos debates. O restante são derivações. Importantes, mas derivações. Um aspecto reforçado pela enfática reafirmação da nossa identidade presente no informe do Renato.

E é com essa inteireza política e teórico-ideológica que, no contesto do XII Congresso, reafirmamos o rumo socialista e o caminho. A equação é essa: rumo, caminho e instrumento. Nessa ordem. Porque é o rumo que faz o caminho; caminho sem rumo é descaminho. E rumo e caminho sem o instrumento de sua concretização são palavras ocas soltas ao vento.

Assim, não nos perderemos no lusco-fusco das sombras e luzes (mais sombras que luzes) que marcam – nas proféticas palavras de João Amazonas – os primeiros tempos do século presente.

Este é, camaradas, o mais legítimo e enfático tributo que poderemos prestar ao homenageado do nosso 12° Congresso: o grande e inimitável povo brasileiro”.

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