Maconha no futebol é doping?

A FIFPro (Federação Internacional dos Atletas Profissionais de Futebol) solicitou à FIFA que retirasse da lista de substâncias proibidas para a prática do esporte a planta Cannabis Sativa, popularmente conhecida por maconha, e uma infinidade de outros. Argumenta que ela não traz nenhum benefício ao usuário no jogo. Ao contrário, prejudica. Mas afinal, qual é o debate a ser feito?

A questão, a princípio, tem origem científica e estatística.

Porque considera que o uso da maconha por jogadores de futebol, ao contrário de outras substâncias, não resulta em ganhos físicos para o atleta. Até atrapalha, pois reduz a capacidade de concentração e os reflexos necessários para a disputa de uma partida. E também porque o número de suspensões por uso de maconha no futebol é responsável por mais da metade das punições por doping.

Em contrapartida, o médico brasileiro Eduardo De Rose, respeitado doutor do controle antidopagem no Brasil, afirmou que há sim vantagem para o usuário de maconha. Isto porque a maconha, segundo o doutor, encoraja o jogador a enfrentar uma situação adversa que normalmente não enfrentaria, como a pressão vinda das arquibancadas em um estádio lotado.

A contradição entre as versões nos leva a um cenário interessante. Imagine uma cobrança de pênalti feita por um atleta sob efeito de maconha. O cara toma distância, parte para a bola e, sem nenhum temor diante da torcida, chuta a redonda para as arquibancadas, bem longe do gol. Talvez até acerte um torcedor que ele jurava de pés juntos que dava risadas da cara dele.

Quem sabe até, sob efeito da planta, os marcadores param de dar botinadas nos atacantes? O futebol ficaria muito mais bonito, embora muito mais lento. E coitados dos preparadores físicos, com uma dificuldade imensa de controlar a fome e manter o peso dos jogadores.

Ambas as versões encobrem um outro debate, que passa pelo esporte mas vai muito além dele. Sobre a “imoralidade” do uso da maconha.

Como todo mundo sabe, a maconha é proibida por lei na maioria dos países do mundo. Tanto o plantio, quanto a venda e o consumo. Portanto, se o debate for feito nestes termos, teremos um melhor panorama do que está realmente em debate.

É fato que a retirada da maconha como substância dopante no futebol, ou em qualquer outro esporte, abre um flanco gigantesco no debate sobre a descriminalização ou legalização da erva.

E aí temos a grande questão, tudo isso passa por uma discussão que está quente em todo o mundo, e nesse momento os dois lados estão medindo forças através do esporte mais popular do planeta, e quem conseguir ganhar pontos nesse round, se fortalece para vencer a luta.

Tratar usuários de drogas como criminosos não recupera nenhum deles. Pensá-los como pessoas que precisam de tratamento ou, principalmente, como cidadãos comuns que possuem o direito indisponível e individual de usar qualquer substância, desde que não prejudique a relação entre os membros da coletividade ao qual pertencem, para satisfazer alguma necessidade sua, é uma forma muito mais razoável de abordar o tema.

No esporte, o controle deve ser feito sobre substâncias que, de fato, influam no rendimento do atleta, colocando-o em condição superior aos demais na disputa. Dentre elas estão as anfetaminas, que são estimulantes e redutoras de apetite, e fartamente comercializadas nas drogarias mais próximas da sua casa.

Portanto, o que está em debate é a edificação moral do exemplo de atleta. Mas é necessário que os contrários ao uso da maconha, seja para a prática esportiva, seja em qualquer outra situação, sejam diretos, sem interpretações cômicas para o tema.

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