Sarney, diabo? Virgílio e Heráclito, anjos&santos?

Lá se foi o primeiro semestre. O Brasil suportou razoavelmente os efeitos destrutivos da crise capitalista. Mas, a mídia impôs uma pauta negativa. As crises da Câmara dos Deputados e do Senado dominaram o noticiário. 2009 é uma réplica de 2005. A  gu

Quem interpretar a crise do Senado tão somente pelo olfato, isto é, pelo mau cheiro que exala dos descalabros da Câmara Alta,  fará um leitura distorcida. A fetidez é real, todavia é seletivamente usada como arma política. Sem discurso, sem bandeiras, a dupla PSDB-DEM parece ter concluído que a fedentina é o único combustível que lhe resta para tentar reaver o poder no próximo ano.


 


 


Nada de novo. Lembra-se o internauta de 2005? O presidente Lula era apresentado como chefe de uma quadrilha, atolado na lama até o meio da canela. E as velhas raposas da oposição, gente inclusive com folha corrida na polícia, apareciam na TV com auréola de anjos&santos.


 


 


O presidente do Senado, José Sarney, sofre uma implacável caçada. Na Praça dos Três Poderes, a oposição e a grande mídia ergueram um patíbulo. A sentença já foi lavrada. “Eis o responsável pela sujeira. Que seja enforcado o quanto antes, para o bem do Poder Legislativo.”


 


 


O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), apresentado como espécie de guardião do templo, foi o ungido para, em nome do conluio, proclamar o veredicto. Todavia, dias antes, sem rubor no rosto, reconheceu na tribuna, que viajara à França. Merecidas férias. Desafortunadamente, teve “problemas” com os cartões de crédito. De fato, Paris é encantadora mas, lastimavelmente cara. Então, os seus diletos assessores foram ao todo poderoso ex-diretor geral do Senado, Agaciel Maia que, gentilmente, socorreu o senador com um empréstimo de 10 mil reais, ou 10 mil dólares. Há controvérsias. Graças à benevolência de Maia, Virgílio pode concluir seu descanso no Velho Mundo.


 


 


Depoimento solene, mostrado no horário nobre dos telejornais. Depois, o âncora diz, “vamos ouvir nossos comentaristas”. E os doutos especialistas não dizem uma só palavra sobre a confissão de sua excelência. E repetem, em ladainha, a sentença que lhes interessa: “Sarney, a bem da sua biografia,  do sossego de sua família, do Senado, tem que sair da presidência. Bem está com a razão, o líder do PSDB…” Na manhã seguinte ao episódio, os jornalões fizeram o mesmo. Artur Virgílio, o paladino da moral, pedia a cabeça de Sarney. Nenhuma linha, sobre o empréstimo de Agaciel Maia ao tucano.


 


 


 


O que veio à tona golpeia a credibilidade do Senado. Ao que parece a Casa, com o beneplácito de senadores, se tornou refém de uma casta de burocratas, de conduta nada recomendável. Mas, quem é o culpado? Sarney ou somente Sarney? Vejamos. A primeira-secretaria do Senado é uma espécie de “prefeitura” da instituição. O seu titular é o responsável pela administração da mesma. Pois bem. Desde 1993, o PFL, depois, DEM, ocupou este posto por cinco mandatos da mesa diretora. Os atos secretos, nomeações irregulares e demais mazelas tiveram o mando ou a chancela dos titulares da primeira-secretaria. Logo, jogar nos ombros do senador Sarney a responsabilidade única e exclusiva do lixo que vem à tona é pura manipulação política. O senador Heráclito Fortes, do DEM, atual primeiro-secretário, traz a si e ao seu partido a perífrase de “o moralizador”. Uma pantomimice que ninguém merece.


 


 


 


Sarney, porque apóia o governo Lula, porque é uma das lideranças que pode contribuir para que o PMDB integre a coligação governista que buscará eleger o sucessor de Lula, é apresentado, pela mídia, como espécie de diabo. Virgílio e Heráclito, em processo sumaríssimo, são beatificados e canonizados, elevados, por obra da mídia, à condição de santos&anjos.


 


 


Não basta, portanto, o olfato para se compreender a crise do Senado. É preciso recorrer ao conjunto dos sentidos. Estão em jogo a governabilidade e as futuras composições partidárias à sucessão presidencial. Oposição e mídia, seletivamente, direcionam a crise do Senado para desgastar o presidente Lula e seus aliados. 


 


 


Todavia, o presidente do Senado, José Sarney, e a base mais avançada do governo do presidente Lula na Casa, precisam tomar medidas para eliminar o mau cheiro que exala da Câmara Alta. Adotar reformas, medidas que combatam a corrupção. Estabelecer regras e estatutos que dêem transparência ao seu funcionamento. Expurgar a podre casta de burocratas. Que o Senado volte, para o bem da democracia, a cumprir o que lhe determina a Constituição.

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