A volta do terrorismo israelense

Depois das eleições parlamentares de março para o Knesset, com a vitória do grupo de centro denominado Kadima, do primeiro Ministro Ehud Olmert, alguns achavam que uma certa calmaria nas práticas de terrorismo de estado, usadas por pa

A retirada unilateral dos territórios palestinos da Faixa de Gaza feitas há quase um ano, na análise de alguns estudiosos, poderia iniciar um período de minimização das tensões no conflito. No entanto, se calmaria houve ninguém notou. Já a partir do mês de junho, o exército israelense retoma a violência terrorista contra palestinos.

Os ataques de junho

No último dia 9 de junho, as forças israelenses atacaram diversas praias, em uma ação que resultou em pelo menos 11 civis mortos, dos quais sete membros de uma mesma família. Nunca houve justificativa pra essa ação. O pretexto que Israel tem utilizado é a tentativa de libertar um soldado israelense seqüestrado por membros da resistência palestina, o cabo Gilad Shalit. Na verdade, como sempre tem feito, Israel age aos ataques da resistência palestina em uma proporção infinitamente maior do que as eventuais agressões a que recebe.

Não bastasse esse episódio do início de junho, no último dia 28, em uma ação que envolveu grandes contingentes de tropas do exército, conhecido como Forças de Defesa de Israel, em uma operação de guerra e cinematográfica, os soldados israelenses raptaram nada mais nada menos que oito ministros do governo Palestino, ligados ao Hamas (um terço de todo o gabinete ministerial), incluindo ai um vice-primeiro ministro, mais 24 deputados do Conselho Palestino (equivalente à nossa Câmara dos Deputados) e mais 40 chefes de municípios na Cisjordânia (equivalente aos nossos prefeitos). Um absurdo, se imaginar que é uma agressão não só a um povo, mas também a uma outra nação e a um outro país, Palestina, ainda que esta não tenha ainda constituído formalmente o seu estado nacional. Esse mês de junho foi tão sangrento para os palestinos que, até a última contabilidade a que tivemos acesso, foram mortos pelo menos 48 civis, incluindo nove crianças e uma mulher grávida e mais 174 ficaram gravemente feridos. Membros da resistência que praticaram o ato de seqüestro exigiram por parte do governo israelense, a libertação e pelo menos 95 mulheres e 313 jovens palestinos menores que se encontram presos nas masmorras sionistas de Israel.

Porquê Israel age dessa forma?

As prisões ocorridas e levadas à cabo pelo exército israelense são de extrema gravidade, pois se trata de uma prisão de membros do governo palestino por parte de outro governo, que fora eleito democraticamente em janeiro passado onde o Hamas obteve mais de 55% dos votos. Para Israel e os que os apadrinham, como os Estados Unidos, a democracia só vale se os que vencem as eleições são os aliados desses dois entes políticos. Uma verdadeira farsa. Israel anunciou que vai processar e manter presos todos os ministros que estão sob custódia militar.

A violência é tão grande que além de atingir alvos civis, mulheres e crianças, Israel vem bombardeando a infra-estrutura das cidades na Faixa de Gaza. Pelo menos uma ponte, importante elo de ligação entre regiões, foi derrubada, uma escola primária foi atacada, uma Universidade palestina e a única usina de luz foi atingida, de forma a que pelo menos 750 mil palestinos ficaram sem luz elétrica. Até escritórios do grupo político Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, foram atacados, o que também cai por terra o discurso que o gabinete israelense é contra o Hamas, e gostaria de negociar e prestigiar o grupo de Abbas, que pertence ao Fatah.

Não bastasse tudo isso, a Força Aérea de Israel fez vôos ameaçadoras no espaço aéreo sírio, país vizinho, sobrevoando o palácio de verão do presidente da Síria, Bashar El Assad. Uma outra absurda e injustificável agressão. Isso tudo porque a Síria concede asilo político e humanitário a uma série de líderes dos grupos de resistência que lutam pela libertação da Palestina da ocupação israelense.

Imediatamente o G-8 exigiu que tanto o grupo que seqüestrou o cabo israelense, bem como apelaram para que Israel contenha-se e modere a sua reação, ante a operação realizada pela resistência palestina. Até mesmo o porta voz da Casa Branca apelou para a moderação israelense, na medida que essa agressão sionista poderia resultar como efeito colateral ainda um apoio maior ao grupo Hamas.

De qualquer forma, essa ação desproporcional por parte de Israel, mostra uma coisa de forma clara: a completa inconsistência da política de “paz” levada adiante por parte de Olmert e de seu partido, o Kadima. Retirar-se unilateralmente de parte da Cisjordânia, desativando assentamentos e colônias israelenses, sem negociar e sem consultar os maiores interessados, que são os palestinos. Uma completa e total inconsistência e incoerência (1).

No Brasil, ao que pude tomar conhecimento, a embaixadora palestina no Brasil, Mayada Bamie, encaminhou carta ao embaixador Celso Amorim pedindo interferência do Brasil nesse processo e o secretariado do Partido Comunista do Brasil emitiu nota de solidariedade aos palestinos, (clique para ler http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=4739 ) condenando a brutalidade da violência por parte de Israel. Tal violência, além da incoerência e inconsistência mencionada, mostra um desespero por parte do governo, pois as vozes em todo o mundo vão ficando cada vez mais elevadas em solidariedade aos palestinos e aumenta ainda mais o isolamento do governo de Israel.

Nota

(1) ver matéria de caráter editorializada, publicada na combativa revista Carta Capital de 5 de julho de 2006, página 20, intitulada “E o rato pariu uma montanha”.

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