Ingressos mais caros? Para quem, ‘cara pálida’?

Recentemente, a Gaviões da Fiel, maior torcida organizada do Corinthians, protestou contra os altos preços dos ingressos. Alguns jornalistas, conceituados ou não, se colocaram contra a torcida, entendendo que o espetáculo do futebol está muito barato, fav

O protesto da Gaviões foi contra o aumento dos preços dos ingressos em jogos do Corinthians para R$ 30,00 nas arquibancadas. O setor mais nobre chega a custar R$ 150,00. Dada a reconhecida situação socioeconômica da Fiel, podemos afirmar que, pelo menos para aqueles que costumeiramente apóiam o time, o protesto é justo.


 


 


Para os jornalistas contrários a qualquer redução, os preços deveriam ser bem maiores para impedir a entrada de torcedores violentos que, segundo eles, afastam as famílias dos estádios.


 


 


Mas a questão do preço dos ingressos não está restrita à torcida do Corinthians, atinge às torcidas de todos os clubes brasileiros. Hoje se paga, em média, os tais R$ 30,00 contra os quais reclamava a Gaviões.


 


 


No Maracanã, por exemplo, paga-se R$ 20,00 por um ingresso nas cadeiras azuis, substitutas das lendárias gerais onde, não há muito tempo, chegou-se a pagar apenas R$ 1,00. Arquibancadas verde e amarela custam R$ 30,00, a branca (no centro do campo) custa R$ 40,00 e cadeiras cobertas chegam a custar R$ 120,00. Em dia de clássico, há um acréscimo de R$ 10,00 sobre o preço dos ingressos.


 


 


Se o retorno das famílias é o centro da solução para a violência nos estádios — considerando uma família, a grosso modo, formada por pai, mãe e dois filhos —, se pagaria R$ 80,00 reais por cadeiras azuis (pior visibilidade do jogo) no total, ou até R$ 120,00 para frequentar o lugar mais nobre de qualquer estádio, as arquibancadas.


 


 


Tomando por base a proposta do novo salário mínimo de R$ 465,00, cometer o “luxo” de levar a família ao estádio de futebol sangraria o seu orçamento em pouco mais de 25% do salário mínimo. Considerando que várias famílias no Brasil tem no valor do salário mínimo toda a renda familiar, pode-se dizer que seria loucura levar a família ao estádio ou, simplesmente, o estádio não é lugar para quem vive do salário mínimo.


 


 


Fica a dúvida de quais famílias estão falando os que defendem o aumento dos ingressos? Das famílias que podem pagar? Não seria mais justo dar acesso às famílias que realmente gostam de futebol e vêem nisto uma boa opção de lazer para o fim de semana? Ou será que essas famílias não podem ter boas opções de lazer?


 


 


Estas dúvidas podem ser respondidas por diversas pessoas, desde políticos até cartolas, mas tal como a situação geral do nosso povo, não interessa a muitos deles responder a tais questionamentos.


 


 


O que esses jornalistas talvez não mencionem, é o fato de que, já nos dias de hoje, os preços dos ingressos são para aqueles que podem desembolsar uma quantia razoável de dinheiro mensalmente sem prejudicar seus rendimentos. Vivemos num país dito emergente, mas ainda muito pobre, cujos preços dos ingressos ainda afugentam muitos torcedores apaixonados por futebol, mas alijados dos campos, tal como dos serviços públicos básicos.


 


 


Embora ainda denunciem os esquemas de repasse de ingressos para torcidas organizadas, dirigentes dos clubes e até policiais militares e outras autoridades — que nada tem a ver com o futebol —, olham para a realidade do povo brasileiro, na maioria das vezes, através apenas das câmeras de TV.


 


 


Falam da Europa como um modelo a ser seguido, mas desconsideram a formação social dos países do Velho Mundo, que eram metrópoles enquanto nós éramos apenas colônia, cuja exploração de nosso solo reflete até hoje na miséria do nosso povo.


 


 


Eles não citam a problemática da violência nos estádios também como parte do contexto da exclusão social no Brasil, que implica em uma progressiva ausência de perspectivas e valores, cada vez mais sepultados pela própria mídia em sua programação subliminarmente violenta.


 


 


Quando superarmos as inúmeras diferenças sociais que assolam nosso país e for dirimida a relação promíscua entre clubes, federações, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o poder público e, ainda, as torcidas organizadas, poderemos pensar em novos tempos de paz nos estádios. Dessa maneira criaremos condições para todos que amam o futebol o tenham como um excelente programa para o final de semana, sem distinções de classe.

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