A CUT diante de um futuro incerto

Reflexões sobre o 9º Concut

Encerrou na tarde deste sábado, dia 9 de junho, na cidade de São Paulo, o 9º congresso nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Depois de um longo e duvidoso processo de disputas nas

A questão central que mobilizou todo o processo congressual foi a disputa interna
da corrente majoritária, a Articulação Sindical. Desde o inicio dos preparativos do congresso a divisão no interior da Artsind era evidente. De um lado o Presidente da CUT, o professor João Felício, na outra ponta da disputa, o Secretário Geral, o eletricitário Arthur Henrique.
Aparentemente a disputa pela presidência da CUT e demais cargos de direção, se dava no campo pessoal ou no eterno jogo de poder que marca a  história da central, patrocinada sobretudo pela articulação sindical. No entanto, a batalha travada entre estes dois personagens, não deve ser encarada de forma simples e rotineira. Para compreender com mais profundidade esta disputa, algumas questões precisam ser devidamente elucidadas.
1 – O que determinou a disputa entre João Felício e Arthur Henrique;
2 – Que caminho seguirá a central neste próximo período;
3 – O que representou a não inclusão da Frente de Esquerda Socialista (FES) na direção da Central;
4 – Qual o papel da CSC neste próximo período.
A disputa entre João Felício e Arthur Henrique não tem precedentes nas clássicas disputas travadas em outros congressos no interior da Artsind. A disputa entre os dois candidatos é a sedimentação, no interior da Articulação, de duas concepções sindicais que evoluíram para posições muito distantes e antagônicas. Esta diferenciação foi acumulando e aumentando ao longo do último mandato, com divergências de fundo, entre os principais dirigentes da Artsind. As diferenças de posições entre os dois grupos ficaram patentes em vários temas da conjuntura política e sindical, expondo-os quase que cotidianamente em posições opostas, o grupo do João e o grupo do Arthur.
De um lado João Felício que representa uma posição mais social democrata na relação da CUT com o Estado e os patrões, com postura mais de luta e classista. O grupo propõem também uma prática sindical mais autônoma e independente em relação ao governo Federal e aos patrões. Esta postura se expressa. talvez com mais nitidez, pelo fato do dirigente representar historicamente a ação sindical dos professores do setor publico de São Paulo, à frente da toda poderosa Apeosp (maior sindicato da América Latina), que mesmo depois de muitas décadas de lutas, ainda vive às turras para alcançar um mínimo de dignidade na relação de trabalho dos professores com Estado de São Paulo, fundamentalmente depois de 12 anos de tucanato e neoliberalismo. Esta posição pode ainda se expressar na formação político-sindical cristão, que preserva posições de um sindicalismo mais combativo e classista. Outra justificativa plausível consiste nos objetivos da ação sindical entre a Apeoesp e o núcleo de poder constituído a partir do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo (setor privado x setor público). Este distanciamento (função dos sindicatos diante dos governos), aumentou ainda mais com a vitória do Presidente Lula.
Já o dirigente Arthur Henrique, aproximou-se desde o inicio de sua carreira sindical ao núcleo dirigente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e do Sindicato dos Bancários de São Paulo, os principais formuladores da política sindical da articulação. O dirigente é vinculado ao pequeno sindicato dos eletricitários de Campinas no interior paulista. Ao longo de toda a gestão, que encerrou neste sábado, ou mesmo quando dirigente da CUT-SP, Arthur e seu grupo vêm rompendo com posições históricas da CUT e assumindo posições claramente sociais liberais. A manifestação pública que expressa com maior nitidez esta adesão à concepção social liberal, foi observada no período de preparação da proposta de reforma sindical (PEC 369) no Fórum Nacional do Trabalho.  Entretanto sua adesão à posição social liberal não ficou restrita a esta matéria, mas em diversos momentos de debates no interior da central.
Ainda em relação ao novo Presidente da Central, pesa a falta de uma estrutura sindical forte, transformando-o em mero porta voz dos metalúrgicos e bancários, portanto sem autonomia na relação com os dois principais sindicatos que financiaram sua eleição. O que é mais grave neste processo é que os dois principais dirigentes dos Metalúrgicos e Bancários são respectivamente, Luiz Marinho, Ministro do Trabalho e Ricardo Berzoini, atual Presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, que são do núcleo de poder do Governo Federal. Neste sentido a possibilidade da CUT se transformar em correia de transmissão do governo Federal no próximo período é muito grande, o que poderá enterrar de vez o projeto histórico da central.
A postura de independência e autonomia frente ao atual governo do Presidente Lula ganhou força no Congresso da central e será decisiva para o fortalecimento ou enfraquecimento da entidade no próximo período, fundamentalmente com a possível vitória do atual ocupante do Palácio do Planalto. Durante os debates que definiu a posição da CUT na disputa eleitoral deste ano, três opiniões ficaram expressas:
1 – Apoio acrítico ao Governo Lula e a defesa de um segundo mandato. (Artsind);
2 – Apoio critico ao Governo Lula e a defesa de um segundo mandato. (CSC);
3 – Oposição ao Governo Lula e contra um segundo mandato. (FES).
Com uma resolução política ambígua, acoplada a uma plataforma mudancista, saiu vencedora a tese de apoio à reeleição do presidente Lula. No entanto entre o desejo de mudanças e as possibilidades de mudanças existe um grande fosso.Vivemos ainda um governo contraditório, que em determinadas ocasiões ainda relança idéias de cunho neoliberal. Os trabalhadores estão conscientes da pressão exercida contra o governo pelo grande empresariado nacional e internacional, que exigem insistentemente contra-reformas na área trabalhista e sindical ou mesmo dos banqueiros e fundos de pensão que propõem uma profunda reformulação na previdência publica e do regime geral. Qual será o comportamento do Presidente CUT e do núcleo majoritário da articulação frente a estas possíveis reformas. Qual o comportamento da Central frente à manutenção da atual política macroeconômica. Qual a posição da central frente às reformas microecomicas que vem sendo aplicadas cotidianamente.
Estas e outras questões estratégicas deverão ser enfrentadas pelo movimento sindical no próximo período, que precisa estabelecer a mais ampla unidade dos trabalhadores do campo e da cidade. No entanto, o congresso aprofundou ainda mais a já precária unidade no interior da CUT. Os delegados do congresso excluiram da direção da central, com posição única, exclusiva e majoritária da Artsind, a corrente FES (Frente de esquerda socialista). Com uma posição hegemonista e exclusivista de não permitir a quebra da proporcionalidade mínima para ingresso na direção, posição apoiada por todas as outras correntes internas, a articulação sindical, decretou na prática, a exclusão de mais uma parcela de sindicatos e dirigentes da entidade. Esta exclusão poderá fortalecer o campo oposicionista do Conlutas, que realizou recentemente seu congresso ou de outras articulações que vem sendo construídas no meio sindical, dividindo ainda mais os trabalhadores.
Em meio a váias incertezas e lacunas, consolidou-se no interior da central a Corrente Sindical Classista (CSC) como segunda maior força. Durante todo o congresso a CSC expressou suas posições de apoio critico ao governo Lula. A necessidade de repactuar um novo projeto de desenvolvimento nacional, com soberania e valorização do trabalho. Deixou clara a necessidade de construir uma ampla unidade da classe trabalhadora para avançar nas mudanças que o país precisa, sobretudo através de uma nova ordem econômica. Combateu o hegemonismo e o exclusivismo da Artisind. Deixou muito nítida a postura que terá de independência e autonomia frente ao governo e aos patrões. Ao final do congresso a CSC construiu uma aliança eleitoral com setores da esquerda petista, numa chapa que obteve 30% dos votos, demonstrando na prática uma postura critica a todo o processo congressual.
Depois destas considerações iniciais ficam ainda algumas perguntas sem respostas, que serão inevitavelmente decifradas no próximo período:
1 – A concepção social liberal, presente na articulação sindical, será vencedora na disputa interna;
2- A indicação de João Felício para a Secretaria de relação internacional isolará ainda mais a corrente social democrata no interior da Artsind;
3 – A falta de independência e autonomia levará a central a uma profunda crise;
4 – A CUT será capaz de desenvolver amplas mobilizações para defender os direitos traabalhistas e previdenciários dos trabalhadores;
5 – A CSC aglutinará forças para pressionar a Artsind para posições mais classistas e de luta.
Estaremos vigilantes e alertas para cada passo da central, daqui para frente.

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