Abundância é destaque na crise do sistema capitalista

Este texto vem destacar no tema da crise, a abundância.

Na obra “O Futuro do Trabalho”, edição de 2003, Domenico de Masi nos trás dados interessantes. Diz ele: “há 15 anos, a relação entre os salários mais altos e os mais baixos pagos nos Estados Unidos era de 1 para 41; hoje é de 1 para 200” (p. 15).

Ainda na mesma página destaca: “O presidente do Travellers Group ganha 413 bilhões de Liras por ano o equivalente a mais de 1 bilhão por dia!” e continua, o Presidente da Coca-cola ganha 201 bilhões de liras por ano, o equivalente a meio bilhão por dia!”.

Recentemente os Estados Unidos viveu o escandaloso “desconforto” quando socorreu a Empresa Seguradora AIG (American Internacional Group), uma das gigantes do mercado financeiro por ser a maior administradora de planos de previdência privada do mundo, que dizia estar agonizando com a crise. E seus diretores executivos deliberaram pela distribuição de bônus entre eles, chegando a ter um só executivo o bônus de 162 milhões de dólares e chegando ao total de 450 milhões em bônus. Esta empresa recebeu em socorro do governo americano a cifra de 173,3 bilhões de dólares para sair da falência.

Então, vejamos que o ambiente de crise em que está mergulhado o mundo é uma crise de abundância.

Sabidamente há consenso em diversos autores, que o socialismo demonstrou saber distribuir a riqueza, porém encontrou dificuldades em produzi-la. As bases materiais dos países que ousaram este vôo, possuíam constituição ainda feudal (Rússia, China, Cuba, entre outros).

O capitalismo desenvolveu os recursos tecnológicos, as bases materiais no mais alto nível. Demonstrou saber produzir as riquezas de maneira social, contudo, apropria os meios de produção, concentra nas mãos de poucos a riqueza produzida e nega-se a distribuí-la de modo que seja a cada um segundo o seu trabalho e a cada um segundo sua necessidade. Ou seja, não realiza a distribuição social, criando a relação de miséria de milhões de pessoas.

Em 2003, os EUA, já estava constituído de 30 milhões de cidadãos abaixo do limite de pobreza, 7 milhões de mendigos sem moradia fixa e 1 milhão e 700 mil cidadãos encarcerados.

É esse o modelo de progresso humano a ser perseguido?

O capitalismo festejava seu domínio global. O neoliberalismo tornou-se a linguagem universal da economia política burguesa para os povos, aprisionando a soberania das nações e ao mesmo tempo drenando, para o grande império e seus incautos do G -7, as riquezas produzidas nos países que decidiram assumir tal política.

No Brasil, setores estratégicos da economia, forjados com recursos estatais, portanto, público e de domínio popular foram transferidos para o capital privado internacional: Indústria de aço, Companhias de Eletricidade como a LIGHT de São Paulo, Companhia de comunicação como a Telebrás, a mineradora Vale do Rio Doce, até mesmo rodovias federais entre tantos outros setores estratégicos.

Da mesma forma, nas demais nações latino-americanas e de outros continentes, setores estratégicos passaram para as mãos privadas do capital internacional. E onde essa política de apropriação sofria resistência, o caminho foi o da intervenção militar, sob o argumento do combate ao terrorismo.

Ora, o que vemos aqui é então abundância de riqueza sendo concentrada nas mãos de poucos capitalistas que ainda utilizam o efetivo militar do Estado mãe (estado sede) para conseguir implantar a expropriação. Dados recentes dão conta de que os Estados Unidos possuem presença militar em 140 países do mundo, com efetivo de soldados que chega a 1 milhão e 400 mil homens armados, consumindo um gasto de 329 bilhões de dólares por ano.

A missão desse gigantesco exército é proteger o interesse, a propriedade privada “inviolável” das grandes empresas, que crescem ao ponto de seus ativos serem da mesma estatura de países da América latina. Atílio A. Boron nos faz uma indicação no texto “Os Novos Leviatãs” e a polis democrática. Comparando as cifras de vendas de algumas das maiores empresas transnacionais com as cifras correspondentes ao Produto Bruto dos países latino-americanos no ano de 1992. Sua análise encontrou a seguinte lista unificada de estados e empresas: Em primeiro lugar vem o Brasil com PIB de 360 bilhões de dólares; depois México com o PIB de 329 bilhões, acompanhado pela Argentina com 228 bilhões. Em seguida temos General Motors com 132 bilhões; Exxon, com 115 bilhões; Ford, com 100 bilhões, Shell com 96 bilhões; Toyota, IBM e a Venezuela aparecem com 61 bilhões e no final, a Bolívia com apenas 5,3 bilhões de dólares de PIB (dados retirados da UNRISD, 1995, p.164), citado em Pós-neoliberalismo II, Que Estado para que Democracia?, p. 49.

De 1980 a 1992, as vendas das mega-corporações cresceram mais que o dobro, ao passo que os estados sofreram as sangrias ocasionadas pela ortodoxia neoliberal, auspiciadas por estas mesmas empresas (idem, p.49).

Há, portanto, muito capital produzido. Em dinheiro, em bens e em serviços. Em dinheiro, moeda espécie é a de menor quantitativo. Por exemplo, hoje o pagamento do servidor cai em conta corrente e tudo é operado via cartão bancário. Pouco se pega em moeda específica. Há muito mais capital em bens e em serviços, porque este é constituído de relações sociais. Tais relações permitem as apostas e especulações. Criação de riqueza fictícia, papéis, títulos que viram dinheiro sem correspondência com a base real.

Justamente em meio a este festejo, o centro do capitalismo entrou em crise e ouviu de seu timoneiro, do comandante do ideário burguês, Allan Grespan, de dentro do congresso americano para o mundo, a declaração de que havia cometido um “erro conceitual” ao acreditar que “na defesa de seus interesses e dos investidores, as grandes empresas e corporações defendiam também o interesse da sociedade” e disse ainda: “estou chocado, pois durante 40 anos acreditei em algo que não funciona!”.

O mago do capitalismo, o homem que comandou durante 40 anos todo o ideário burguês no centro do sistema, no gabinete do principal banco do mundo, o Federal Americano, admitiu que o SISTEMA CAPITALISTA E SUAS LEIS DE MERCADO não funciona para defender os interesses da sociedade como um todo.

E por que não funciona? Por que a crise do capitalismo é uma crise de abundância! Quando o sistema bate recorde de produtividade, quando atinge plena produção, pleno emprego, salários elevados, pleno consumo, então entra em crise. Marx e Engels a chamaram de crise de superprodução.

Esta é a principal diferença do capitalismo para outros sistemas econômicos anteriores, onde de fato, a crise representava escassez de produtos (feudalismo e escravismo).

A prova dos nove fora é a tentativa de sair da crise, investindo na produção industrial, o famoso capital produtivo. A equação parece simples: investir na produção para aquecer a economia e combater a especulação. Esse investimento faz com que se contrate novos trabalhadores e melhore os salários dos que estão trabalhando. Com mais pessoas trabalhando e com melhores salários aumenta-se o consumo que por sua vez exige o aumento da produção. Eureka! A crise está resolvida ou então inventou-se com esta equação a roda de pedra.

O problema é que uma crise de superprodução não suporta mais produção. É necessário, é inexorável frear a produção. Reduzi-la e se preciso até mesmo Pará-la por completo. Porque é só olhar com atenção para perceber que na crise as montadoras já estão com seus pátios abarrotados de veículos, os supermercados com as prateleiras abarrotadas de produtos, as fábricas e lojas de confecções e calçados não sabem mais o que fazer com seus estoques.

A ordem então é parar a produção. É neste momento que os trabalhadores são atingidos. Parar a produção significa férias coletivas, redução de salários e conquistas sociais históricas, demissão em massa e transferência de recursos públicos para operações de salvação de empresários.

Marx e Engels afirmam que este é um processo de queima de capitais e a fogueira fica acesa até se retornar ao ponto que se permita a retomada de um novo ciclo de reprodução de capitais. A queima está acontecendo. Os pacotes de salvação nos Estados Unidos chegam as cifras de trilhões. No Brasil também foram necessário medidas de salvamento de montadoras de automóveis e de outros setores da economia. A gastança, como bem disse Renato Rabelo, Presidente nacional do PC do B é uma das formas de queima de capital.

De sorte que então, na atualidade, nós socialistas devemos refletir sobre a mudança de paradigmas trazida por esta crise atual do capital. Mesmo já sendo possível concluir ou enxergarmos que por ora, a saída para a economia política mundial seja ainda pela via capitalista, o sabor deixado no pensamento, na consciência dos povos já não é o mesmo.

O capitalismo não venceu, o marxismo está fortalecido e o socialismo triunfou em sua resistência.

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