A importância de apresentar a UJS para milhares de jovens

Um período muito importante na consolidação da minha militância e da passagem à direção estadual da UJS na primeira metade dos anos 90. Foi o período das reuniões na Rua 24 de Maio, no Centro de Fortaleza, sede do Sindicato dos Bancários. Era um lugar púb

Por anos aquele endereço foi o nosso ponto de encontro aos sábados, às três da tarde. Você queria encontrar a UJS, procurasse lá, estávamos reunidos. Esta estabilidade em reunir coincidiu com a chegada da turma do pós Fora Collor. Era o surgimento de uma nova geração de dirigentes.


 



Nesta época, primeira metade dos anos 90, em Fortaleza, a UJS era ainda exclusivamente secundarista. E era muito interessante quando chegava aquela moçada de diferentes escolas e bairros a que tínhamos chegado. Recordo o sorriso e o orgulho no rosto do Francisco, liderança imbatível do Valter Sá Cavalcante, uma escola bem distante, na Cidade dos Funcionários cujo nome homenageia uma liderança estudantil de peso, diretor da UNE. Este orgulho tinha a ver com a certeza de que éramos capazes de mobilizar centenas de outros jovens: parar o Centro de Fortaleza – já o fizéramos. Esta identidade mobilizadora, de luta, é uma característica muito importante na UJS.


 



A sociabilidade da juventude que ingressa na UJS


 


Naqueles momentos construíamos laços de amizade e convivência. Eram muitas as minhas horas de militante secundarista. Ia pra escola de manhã e só voltava à noite. Este ainda é o pique daquela moçada da UJS que vai as escolas. A luta concreta é uma grande escola. Em Fortaleza a UJS se organizava em zonais, formal ou informalmente. As lideranças viviam os bairros de suas escolas, inclusive no Centro. Meu irmão, Roberto, por exemplo, organizou a UJS na Barra do Ceará, estudante do Hilza Diogo. De sua ação surgiram várias novas lideranças, muitas delas vindas de famílias pobres. E daí surgiram alguns diretores da UBES, de um ambiente onde o movimento pulsava.


 



É muito comum, num determinado Bairro, como na Barra do Ceará, haver várias escolas próximas, um potencial incrível de mobilização estudantil. Em torno da escola com mais filiados se encontravam estudantes de todo o Bairro. A ampla maioria dos jovens com quem nos relacionávamos, aquelas centenas que iam às mobilizações, a maioria não era da UJS e havia diferentes níveis de apoio. Esta soma era a medida da nossa liderança nas escolas. Cada escola tinha a sua dinâmica, a sua política interna, os seus personagens. Era um movimento amplo, pois se dirigia aos estudantes e à comunidade que é a escola. É o que ocorre também em cursos e em várias faculdades, que têm esta força de gravidade, que encarnam um universo político e humano muito rico.


 



Tudo isto desaguava na reunião de sábado. Era lá que sabíamos o que estava rolando na UJS e no Brasil. É desse período que me recordo das ladainhas, o início das reuniões, dirigida às pessoas que não eram da UJS, trazidas por outro militante. A ladainha era o nosso ponto de conjuntura de então, a recepção às pessoas novas, as boas vindas, ela situava todos os presentes no sentido da UJS.


 


E tiramos lições das nossas ações quando as coordenamos. É quando reunimos que coletivamente identificamos a “liga”, o fio condutor do que fazemos. Minha opinião é uma direção da UJS está mais consolidada na medida em que conseguir estabelecer um funcionamento próprio, que crie um ambiente de convivência entre jovens de diversos lugares que se reconhece na ação porque toda esta experiência coletiva tem na UJS o seu lugar de encontro. É quando estamos juntos que a UJS fica mais bonita e ela é vanguarda por sua capacidade de unir a juventude por causas amplas, fator decisivo da UJS enquanto espaços de formação de lideranças.


 


Isto necessita de uma continuidade, da sistematização da nossa prática. E era isto que fazíamos, lançávamos um olhar consciente sobre o que estávamos a construir. Naquelas reuniões eu aprendi que é decisivo haver uma galera que chame a si a responsabilidade de lutar pelos direitos da juventude, que tenha raiva de injustiças, que é patriota e animada, que adora curtir e viver sua juventude. Era um compromisso, mas era legal ir – uma boa definição da UJS. E eu sentia falta de rever as pessoas. Fazer tanta coisa nos coloca muito próximos, convivendo por horas, dias, meses, anos.


 


E esta relação entre jovens tem mais qualidade se em lugares fixos, com dia e hora dedicados ao reencontro da nossa moçada. Eu lembro que estes sábados à tarde eram parte constante da minha agenda. Reunir no sindicato dos Bancários todo sábado às três da tarde foi fundamental para consolidar aquela moçada na UJS. Nós tivemos que formatar um funcionamento próprio, e definíamos como nos mover em todo um circuito político, formado pelos lugares por onde circulávamos e fazíamos o movimento, mas também por bares, festas, bairros, salas de aula, pátios de escolas, um ambiente onde desenvolvemos práticas, um aprendizado coletivo.


 


Mais à frente, quando retomamos a direção do DCE da UFC – depois de um intervalo de mais de dez anos – entendi melhor que aquele resultado foi o cume de um aprendizado cuja sala de aula mais importante fora naquelas reuniões, onde pudemos pensar a UJS por inúmeras tardes. Mas não era em tom de humor que repetíamos o relato daquilo que somos, da História, do presente da UJS. Naquela hora, ao iniciar a reunião, um membro da direção tomava a palavra e apresentava aos mais novos e dos militantes uma História da UJS. Lembro de quando o Flávio Arruda fazia as ladainhas até hoje. Era um aprendizado de falar ao público, de defender nossas idéias, de afirmar valores. Para quem chega, por outro lado, era uma sensação muito boa, uma valorização da importância daquela pessoa convidada a ingressar na UJS. Para quem falava era um comprometimento e um exercício do domínio de nossa política.


 


Coletivizar o mais importante


 


E era repetitivo mesmo, e cumpria um grande papel. O Legião Urbana consagrou uma frase: “Sei que às vezes uso palavras repetidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas?”. Apóio-me nela ao defender a massificação de nossos conceitos mais simples, as nossas opiniões mais permanentes, como o Manifesto da UJS, nossa concepção de Movimento Estudantil, nossa História, inclusive da UJS nos Estados, os pontos centrais do Congresso. Claro que é muito importante saber muito, mas é decisivo que todos saibam quem somos, como pensamos, pelo que lutamos, nosso papel no Brasil. E passar este conhecimento no debate do Congresso da UJS, na discussão da tese permite que outros milhares de jovens ajudem a escrever a história de nossa organização, porque lhes dá a base para serem ativos militantes na base, para vestir a camisa.


 



Penso que boa parte da consolidação de uma direção municipal, de um núcleo, e mesmo de uma direção estadual está em definir com o apoio de todos uma agenda, um funcionamento, criar uma dinâmica própria, que permita debater as polêmicas, construir os consensos, passar o saber militante aos mais novos, preparar um ambiente legal para centenas de jovens viverem sua opção militante. Que seja aberto para o ingresso de mais jovens do povo, capaz de atrair as lideranças naturais que existem e lhes dar um espaço de convivência divertido, produtivo, ordenado por nós mesmos, capaz de potencializar suas melhores qualidades e liderança. E um ambiente politizado, em que cada jovem participa de algo muito maior que apenas um grupo de amigos. E eu tenho amigos de quinze anos que fiz na UJS e eu os encontre entre jovens com grande potencial que mudam a realidade com seu protagonismo, uma galera rebelde, tão rebelde que defende um socialismo com a cara do Brasil e da Juventude, com samba, maracatu, com boi, hip hop e reizado.


 



A UJS está definindo sua ação nos Estados


 


Por todo o Brasil a UJS prepara as suas plenárias para lançar o 14º. Congresso. A partir delas haverá o acionar de uma grande estruturação que consolidará núcleos e direções que terão a tarefa de falar a muitos milhares de jovens, no convite para conhecer a UJS. Será um semestre em que muitos jovens sentirão o chamado a uma militância mais ativa, maiores responsabilidades.


 


Este riquíssimo momento merece táticas apropriadas, formas de falar com esta juventude. Um desafio já é falar a dezenas de milhares que já são filiados. E, para além deles, em busca de dialogar com amplas parcelas da juventude, muita gente independente nas escolas, no trabalho, nas universidades, na periferia e também em movimentos juvenis. É grande o número de adolescentes que já entendem a importância das causas, de ser voluntário, mas sem saber ainda que a militância, este voluntariado político, muda a realidade, que foi graças a eles que muitos jovens tiveram oportunidade no último período. Para que entendam isto, precisam ter a oportunidade de nos ouvir. A responsabilidade de pensar estes momentos e de criar estas oportunidades é nossa.


 


Envolver, convidar e saber se apresentar é fundamental para que amplas parcelas da juventude possam tomar parte na mudança do Brasil. Trata-se de envolver o povo na luta pela mudança. Para isto é necessário ter uma pedagogia própria. Não somos uma igreja, nem uma empresa, somos algo muito diferente e devemos entender que nossos fóruns, reuniões, plenárias devem ser construídos conscientemente, devem ter um roteiro claro para que as pessoas nos entendam e se sintam chamadas a participar, convidadas a dar sua contribuição voluntária e consciente à mudança.


 



O desafio teórico e prático de se dirigir à juventude e a construção do 14º. Congresso


 


Vários estados preparam cursos voltados às principais lideranças, cursos que ajudarão àqueles que ocuparão lacunas nos postos de direção a entenderem melhor como se tornarem lideranças. É um passo muito importante. Mais importante que este passo é, no entanto, na minha visão, elaborar ao nível dos estados e municípios, com destaque para os principais núcleos, espaços em que nos dirijamos a mais jovens de maneira compreensível, legal, segundo cada contexto, multiplicando por muitos milhares os jovens que conhecem a UJS. Fazer a militância em qualquer tarefa sempre preocupado em trazer mais gente para a UJS, especialmente lideranças. E como já opinei nesta coluna, Filiado é pra se guardar do esquerdo do peito. É um grande público a quem falar, os já filiados, os amigos que a UJS fez nas passeatas do Fora Bush, nos Congressos da UNE e da UBES, nos encontros de jovens trabalhadores e no processo da Conferência de Juventude. E falar bem a estes pode ajuda a falar para mais gente.


 


Por isto estamos elaborando o curso de Nível 1 da UJS. Será no formato de uma reunião preparada para dar boas vindas, para apresentar a UJS. De uma proposta elaborada centralmente poderão se preparar inúmeros modelos, adaptações criativas que dêem a mesma mensagem de diversas formas. Algo fácil, descentralizado e cotidiano. A partir desta idéia serão construídas versões próprias, expressão juvenil à mais juvenil das mensagens, que apresenta o socialismo à juventude e a juventude ao socialismo.


 


Que cada voz dê o tom e que possamos chegar a todos. Que seja bem dito, com a emoção da convicção e com a clareza do método e da empatia. E que dos muitos milhares que nos escutem surja a compreensão de que precisamos de mais jovens para defender as causas justas, para tomar parte na História do Brasil.

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