''Te convido a acreditar quando digo futuro''

Inicia-se a campanha ao 14º Congresso da União da Juventude Socialista. É preciso dar uma viragem no Brasil para defender e avançar as mudanças. 2008 é hoje, 2010 é já já.. Como a Juventude encontrará sua ousadia e escreverá uma página nova no futuro do p

A UJS forma gerações de revolucionários



Era 1991, um ano bem difícil para os revolucionários. Eu estava com 14 anos e tinha um professor progressista de Geografia, de nome Cícero, quem nos pediu um trabalho sobre a Ditadura de 64. Por fontes diversas e inexatas soubera do papel do Partido e acabei na rua São Paulo, com Teresa Cristina, no centro de Fortaleza. Era o CR (Comitê Regional).



Fui bem recebido por Silvinho e  Meire Costa, primeiros comunistas que conheci, trabalhadores da sede e militantes. Só depois entendi como eles gostavam da juventude. E com o “Cabo” Chico tive uma entrevista. Com seu jeito simples, – de quem entre o povo é peixe n´água – me contou sua juventude e da militância contra a Ditadura. Gostei muito da conversa, do jeito do pessoal. Pensei, “Quanta coragem, que legal!” Não imaginara que os comunistas fossem assim. E recebi vários materiais, achei eles bonitos e que tava certo o que diziam. Era alguém do povo a escutar as nossas opiniões e a nossa História, e eu compreendia!



Desde o princípio, me disseram, “Você tem que conhecer o pessoal da UJS”. E eu fiquei com aquilo na cabeça. Depois fiquei super feliz quando falei – de um telefone público de ficha – com o Huston Araújo Dantas, diretor de Imprensa da UJS, e depois dele o Flávio Arruda, então nosso Coordenador Geral. Rapaz, como achei aquele negócio importante! Aos quinze já estava filiado ao Partido, e minha mãe perguntava se não era perigoso.



Já em 1992, o Huston me dizia “você é o futuro da UJS” e eu achei aquilo meio piegas, sem sentido, então. Mas, hoje, de saída, olho nossos(as) militantes mais jovens, e esta frase ecoa, tonitrua… Talvez mais exato seria que me tivesse dito: A UJS é o seu futuro.



E eis-me aqui. No 14° Congresso terão sido 17 anos de militância na UJS. Desse modo, dizer que este período é muito importante na minha vida militante é  inexato. Na verdade, pra mim a UJS foi decisiva, a mais importante escola, a escola de socialismo em que me eduquei, fiz amigos, onde moldei minhas convicções e personalidade. Que importância tem isso? Toda, porque a UJS é exatamente isto. Lugar onde jovens aprendem o valor da luta, a combatividade e a habilidade, mas também muitas outras coisas.



No mundo somos uma referência. Somos um Partido de jovens e  temos um pensamento próprio sobre a juventude. A UJS é este lugar e, ao mesmo tempo é algo muito forte… permitiu os momentos mais luminosos que vivi, minhas lembranças mais queridas, tanta coisa. E o princípio de tudo é que eles estavam lá super receptivos e acessíveis a gente como eu.



Muitos militantes que me lêem sabem do que falo, esta descoberta, a UJS. Este ambiente onde a parcela mais avançada da juventude se educa. A UJS legou centenas de quadros com idades entre 27 a 30 e poucos anos para cumprir tarefas muito importantes do trabalho partidário, inclusive na Juventude. Para os que, através dela entramos na senda da Revolução talvez seja necessário recordar estes momentos fundamentais, o início desta paixão esclarecida e vermelha, a importância da UJS enquanto Escola de Socialismo. Uma Escola que se destaca por sua capacidade de se dirigir  a parcelas amplas da juventude, mobilizando e propondo unidade e perseguindo as grandes causas nacionais.



O período que nos une ao 14o. Congresso, e a quadra política singular em que se insere, exigem  renovar nossa teoria e prática para que a UJS siga a ser este lugar de portas abertas para os jovens que querem mudar o Brasil. Nosso crescimento extensivo é fundamental. E filiado é pra se guardar do lado esquerdo do peito, porque é a partir deles e de outros milhares de jovens que conhecerão a UJS  que se renovará e consolidará o nosso contingente próprio. É necessário empoderar a militância. Responsabilidades todos deverão assumir, cada qual em seu campo de atuação e há imensas possibilidades. Urge crescer em alto e profundo, como diria Vinícius (2), incorporar milhares de jovens na luta e na direção da UJS e dar forma à Audácia que estes dias exigem.



Desafios teóricos e práticos



Quando se inicia um Congresso da UJS é diferente de outros congressos. Estes milhares de jovens se reunirão para encontrar caminhos para a atualização desta tradição da UJS de ser uma Escola de Luta onde a teoria e a poesia se amparam sobre a prática do desafiador cotidiano militante. Essa moçada que vai na escola, na universidade, estes jovens que superam tantas dificuldade e barreiras para defenderem seu desejo de um Brasil diferente. Esta galera que brilha o olho quando pensa no Che Guevara e que ama tanto o Brasil e seu povo.



Diante de si ela tem o desafio desta atualização na nossa teoria, o que exige uma elaboração coletiva consciente da qual não podemos nos esquivar. Quem não entende o seu papel no curso dos acontecimentos vacila. Ou, colocando de outro modo: sem construir conscientemente nossos sonhos será impossível realizá-los. É na UJS que a gente aprende esta convicção. Como disse Lênin (3), “Sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário” . E Marx:




“As armas da crítica não podem, de fato, substituir a crítica das armas; a força material tem de ser deposta por força material, mas a teoria também se converte em força material uma vez que se apossa dos homens. A teoria é capaz de prender os homens desde que demonstre sua verdade face ao homem, desde que se torne radical. Ser radical é atacar o problema em suas raízes. Para o homem, porém, a raiz é o próprio homem.” (4)



É possível sim entender coletivamente o lugar em que a juventude se posicionará com precisão para jogar seu papel na luta do povo para mudar em profundidade o Brasil. E este entendimento só será possível com uma campanha de massas que dialogue com amplos setores da juventude brasileira, especialmente nas escolas, universidade, nos locais de trabalho e com a juventude da periferia. Precisamos descobrir o conteúdo e a forma desta mensagem.



Duas gerações embricadas: a do relançamento da UJS e a atual



Minha geração resistiu à Queda do Socialismo no Leste, fez o Fora Collor, enfrentou a triste noite neoliberal  de demos e carcarás e elegeu o Lula duas vezes.  “Assim passou o tempo que nesta terra [os anos da juventude] nos foi dado” (5).  Mas não é o suficiente.



Minha opinião é que apenas fizemos metade do trabalho. É necessário consolidar a nova geração apoiando-a e com ela elaborando o nosso pensamento num momento de grandes desafios. Por outro lado, como o livrete Partido e Juventude observa com grande precisão é necessário “dar atenção política e pessoal aos quadros jovens; acompanhar a trajetória política desses quadros e zelar pelo seu desenvolvimento” (6). Num quadro como o atual e com o peso relativo que ocupamos na juventude e diante de uma grande renovação, esta percepção deve ser ainda mais clara.



Outro dado de realidade é que não há garantia alguma de que viveremos um avanço constante sem retrocesso e, portanto, o comodismo é o caminho certo para fracassar no intento mudancista. São tempos novos que exigem novas respostas. É preciso abrir a mente, como diriam os chineses.



Diria mais, abrir as portas para o povo, especialmente para a juventude das escolas, universidades, os jovens trabalhadores e da periferia. Sabemos com muito maior precisão como fazer isso nas escolas e nas universidades, mas mesmo aí é necessário atualizar para este momento, procurarmos inclusive bandeiras que façam sentido para ampla maioria dos estudantes e há novas demandas. Mas como faremos o mesmo na juventude trabalhadora, no movimento hip hop, e nestes milhares de jovens que se incluem através do PROUNI, do PROJOVEM e da Bolsa Família. Que graças a isso puderam estudar nos anos de Lula. É necessário perguntar-nos e conscientemente tornar a UJS ainda mais capaz de ser o lugar ideal para  que estes milhares de jovens possam encontrar seu lugar na História do Brasil.  É preciso desenhar, planejar, construir o caminho que leve a uma vitória do povo e da juventude em 2010 e isto só se fará com uma combativa, mobilizada e alegre juventude. É preciso ousadia.



Minha opinião é que nossa geração tem muitas responsabilidades assumidas, mas nenhuma mais importante que mudar em profundidade o Brasil. O êxito de cada tarefa, responsabilidade, do trabalho de cada frente e luta é medido segundo contribua para o objetivo central, a parte mais importante do nosso projeto político, que na presente quadra é consolidar “um novo projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho”.



A outra importante medida da nossa geração é passar com êxito o bastão para os que trouxemos para este caminho. A realização do Encontro Partido e Juventude será mito importante. E não posso deixar de expressar a minha confiança de que nós poderemos fazê-lo. Aprendi a respeitar a capacidade de nossa juventude e sei que será muito bonito ver toda essa galera, de quatorze a trinta e poucos anos pensando coletivamente a contribuição da juventude de luta para mudar o Brasil.



Notas:



1. O título deste texto se refere a uma linda música de Sílvio Rodrigues. Para quem deseje conhecer e tocar: http://lacuerda.net/tabs/s/silvio_rodriguez/cuando_digo_futuro.shtml
2. O Operário em Construção. http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/87332/
3. LÊNIN, V. I. Que Fazer?, disponível em http://www.vermelho.org.br/img/obras/quefazer.asp
4. MARX, Karl
5. Os colchetes são minha interpretação bem livre da frase tirada do poema “Aos que vão nascer” de Bertolt Brecht. Pode ser lido em http://www.releituras.com/bbrecht_menu.asp
6. Partido e Juventude. Resoluções e documentos do PCdoB. pp. 32

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