A Venezuela uma vez mais surpreende o mundo

Na Venezuela os mais pobres sofreram uma derrota – de imediato, aparentemente. Mas, ao mesmo tempo, alçaram o debate a um outro capítulo da luta do povo venezuelano por sua liberação. E esta luta tem significação mundial pela ousadia da Venezuela Bolivari

Quero chamar a atenção para o que existe de experimental no processo Bolivariano.


 


A Venezuela faz as coisas a seu modo, e como todo povo, faz as coisas como pode, com as forças que têm e com sua criatividade. No geral, têm desafiado todos os prognósticos e se retroalimentado. Mas para quem quer denegrir ou fazer caber em fôrmas conceituais herméticas, aí não dá. Nisto, muitos trotsquistas e direitistas têm pleno acordo em seu antichavismo.


 


 


O que mais lhes irrita é que Chávez não é fácil de entender. Tem ousadias que surpreendem, é alegre, engraçado, alguém tremendamente popular. E ao mesmo tempo diz coisas que desconcertam e tocam, retoma debates e faz coisas novas. A fauna ideológica é impressionante e a sociedade Venezuelana é mais plural que nunca, pois na Venezuela há milhões de pessoas vivendo apaixonadamente a política. E quando Chávez assumiu as três da manhã a derrota, equilibrado e tranqüilo, determinado e de pé, abismou ainda mais o mundo, simplesmente por não vestir o figurino que a mídia cacofonicamente lhe aplicou!


 


 


E como será possível agora sustentar o discurso de demonização do “Ditador”,  “Coronel”,  “Chávez”?  Claro que a mídia vai continuar a fazê-lo, mas o povo viu e está impressionado. Não cola mais. Com este movimento, Chávez volta de pé ao centro do tabuleiro. A vitória da oposição tem o revés de trazer em si mesma a legitimação do primado democrático da Revolução Bolivariana – e aqui não se compreenda concordância. Mas o fato é que esta oposição é a mesma que atirou contra a multidão, seqüestrou um presidente, dissolveu um congresso, cassou uma corte suprema e cortou os cabos da TV Estatal. É esta oposição que se obrigou assumir as regras do jogo democrático proposta por este mesmo Hugo Chávez.


 


 


O fato é que a vida segue normalmente e a democracia da Venezuela deu um exemplo ao mundo, e o debate continua.


 


 


Nem sempre é assim. Em março de 1991, 76% dos soviéticos decidiram em plebiscito pelo não desmembramento do território da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas foi vencido pelo desejo de unidade. O povo votou pela manutenção pela unidade da URSS e o capitalismo não hesitou em impôr seus apetites pelos tanques. Alguns anos depois, Ieltsin bombardeou o Congresso assassinando deputados. É claro que ninguém se lembrou de questionar nestes episódios sobre a democracia.


 


Mas na Venezuela, o presidente que defende uma revolução pacífica, mas não desarmada, e democrática, socialista aceitou o resultado e parabenizou a oposição. Chávez e a esquerda Venezuelana aprenderão demais com este episódio, que não é o primeiro revés no caminho e decerto não será o último. E Chávez desafia as visões pessimistas assumindo inteiramente, mas somente “por agora” a derrota.


 


 


E o povo organizado segue no combate. Há neste momento em centenas de milhares de lares militantes a pergunta: “Quais as razões?”, e isto se debaterá em todos os lugares e bibocas. Observemos a reflexão do povo Venezuelano pelo fenômeno riquíssimo que é em si mesma. E tenho a convicção que este imenso caldeirão criador gerará interessantes respostas.


 


 


De um lado os revolucionários e amplas massas mobilizadas. De outro, uma direita diversificada e rica, apoiada pelo exterior e legítima representante das oligarquias que aspiram ao retorno de sua vida de nababos. Mas há muito mais. A abstenção correspondeu a quase um terço do eleitorado e o ano foi cheio de vendavais políticos, inclusive no campo chavista que evolui internamente no sentido de uma crítica mais profunda à corrupção, a busca de uma identidade ideológica socialista. Foi, por tudo isto, um ano muito intenso e há uma imensidão tática a estudar no que se viveu no ano de 2007 na Venezuela. E todos os personagens seguem em campo em plena luta política!


 


 


Minha aposta é que o Chávez e os amplos setores que o apóiam tirarão muitas lições exatamente no momento da consolidação de sua ferramenta orgânica, o PSUV. A arena está armada e os contendores em cena. Quem diria que tão cedo estaríamos vendo lances tão emocionantes da luta do povo por sua libertação?! A Venezuela está escrevendo páginas inéditas deste trajeto, e o povo e a Revolução Bolivariana merecem nosso apoio e respeito, pelo inusitado e criador esforço que realizam.


 


Tentar, acertar, errar, criar, desvelar caminhos.

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