Antes tarde do que nunca!

Desde 2001 está em cruzada pela “nova eugenia” e almeja permissão legal para criar “bebês sob medida”, sem os riscos dos “bebês feitos em casa”

“Àqueles que inferiram das minhas palavras que a África enquanto continente é de alguma forma geneticamente inferior, só posso me desculpar sem reservas. Não foi isso o que eu quis dizer (…), não há base científica para tal crença.” Palavras do norte-americano James Watson, 79, co-descobridor da estrutura helicoidal do DNA, em 1953, como retratação por ter dito que era “intrinsecamente pessimista sobre as possibilidades da África”, pois “todas as nossas políticas são baseadas no fato de que a inteligência deles é a mesma que a nossa, quando todos os testes dizem que não é”. E arrematou: “Quem tenha de lidar com empregados negros sabe que isto não é verdade”.


 



Watson foi o principal idealizador do Projeto Genoma Humano (PGH). Deixou sua direção, em 1992, por discordar do Instituto Nacional de Saúde, que solicitou o patenteamento de 3.000 genes humanos. Negou a mercantilizar o DNA. Apesar de, a cada dia, suas idéias eugenistas serem mais renitentes e descabidas, é injusto alocá-lo no pódio dos homens dos negócios inescrupulosos do DNA.


 



Watson é personagem ofuscante de si mesmo. Desde 2001 está em cruzada pela chamada “nova eugenia” e almeja permissão legal para alterar células germinais (espermatozóide e óvulo) e embriões para criar “bebês sob medida”, sem os riscos de possíveis doenças genéticas dos “bebês feitos em casa”. Deu declarações estapafúrdias e preconceituosas sobre pessoas homossexuais, obesas e feias.


 


 
Em 2003, Watson afirmou que crê (de fato é uma “crença”) que a burrice é genética. “Assim que houver um meio de melhorar nossos filhos, ninguém poderá contê-lo.”


 


 


Vive asfixiado pela impotência diante da esquizofrenia do seu filho Rufus, 37.


 



Watson foi criança prodígio; um gênio que aos 15 estava na universidade cursando biologia; aos 20, era convicto que o DNA o tornaria célebre; doutorou-se aos 22; e aos 25 era co-descobridor da dupla hélice, façanha pela qual foi agraciado, com Crick e Wilkins, com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina (1962). É inconformado com o fato de que tenha gerado um filho com limitações incuráveis.


 


 Considerado um deus da ciência, é do lugar de divindade que emite opiniões que não se respaldam nem nas suas próprias descobertas. Jamais foi descoberto algo na biologia que corrobore sua fé.


 


 
A verdade é que Watson e Crick não pesquisavam a molécula de DNA. Imaginavam modelos para ela, a partir de radiografias do DNA de Rosalind Franklin (1920-1958), cristalógrafa do DNA no King's College, que fez a fotografia que mostra o DNA como uma hélice dupla! O que fala Watson em “A Dupla Hélice – Um relato pessoal da descoberta da estrutura do DNA” sobre Rosalind é de uma crueza que dói. Conta, sem escrúpulos, detalhes do seu despeito machista e que os últimos dados de cristalografia obtidos por Rosalind não lhe foram entregues por ela. De certo modo foram surrupiados! Não foi à toa que recebeu o apelido de “Honest Jim” (Honesto Jim), quando ele e Crick eram os enfants terribles do Laboratório Cavendish (Cambridge, Inglaterra). É uma história tão bela quanto sórdida!


 



Watson, que foi à Inglaterra divulgar seu novo livro, “Evite Pessoas Chatas”, teve cancelada sua palestra no Museu de Ciências de Londres. O Laboratório Cold Spring Harbor (EUA), onde trabalha, suspendeu seu poder de chefia. É a primeira vez que instituições científicas enfrentam a falta de limites de Watson em 54 anos.


 



A descoberta da dupla hélice foi repleta de emoções, paixões e intrigas. Watson esteve no olho do furacão de todas. Era e continua inquieto, ousado e insensato.


 


Agora é também eugenista. Daí o teor racista de suas declarações. Não entender seu objeto de estudo não é uma singularidade de Watson. Na genética é mais comum do que se imagina, às custas do “culto” ao DNA, do desvio ideológico que nada “escapa aos genes” e da recusa de se render à realidade: somos Homo pela nossa condição biológica e sapiens pelas nossas culturas.


 


 


Notas


 


Os links pertinentes:



SIMPÓSIO: As novas tecnologias reprodutivas conceptivas a serviço da materialização de desejos sexistas, racistas e eugênicos?
http://www.portalmedico.org.br/revista/ind2v5.htm


 


Uma Visão Feminista Sobre os Megaprojetos da Genética Humana (PGH e PDGH)
http://www.portalmedico.org.br/revista/bio9v2.htm

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