Uma grande vitória da China

Quem imaginaria, há pelo menos 15 anos, que o assunto central dos cadernos de mundo dos principais jornais do planeta seria um congresso nacional de um partido comunista? Esta questão foi muito bem respondida pelo sucesso que foi o 17° Congresso Nacional

O primeiro Congresso Nacional do PCCh, transmitido ao vivo pela Rádio Internacional da China e on-line pelo Diário do Povo (People`s Daily) e pelo Diário da China (China Daily), manteve todos os requintes que irritam os zumbis anticomunistas e antichineses de plantão: a presença da foice e do martelo ao centro e acima da mesa central dos trabalhos no Grande Salão do Povo e a execução solene de “A Internacional” ao final do Congresso.


 



Enfraquecimento ou fortalecimento do PCCh?


 


 


Por mais que este tipo de simbologia para muitos não guarde muita importância, na realidade desde que se iniciou o processo que envolve a execução da política de Reforma e Abertura em 1978, os analistas ocidentais preocuparam-se em demasia com os efeitos das reformas dentro da China. Não se trata de um fanatismo particular e sim a análise de uma parte que envolve um todo sintetizado no soerguimento da maior nação do planeta, que um dia fora esquartejada e humilhada por países e governos que inclusive hoje denunciam o caráter antidemocrático do processo de sucessão e escolha de representantes praticado na China. Interessante isto.


 


 


Trocando em miúdos, na maioria dos casos esperava-se uma evolução pacífica ao capitalismo como o ocorrido na URSS em função do acelerado andamento das reformas chinesas. Porém, o resultado preliminar demonstrado pelo 17º Congresso é um PCCh legitimado no poder e utilizando o cada vez maior poderio financeiro do Estado no rumo da viabilização de um mundo multipolar e, onde cada vez mais o exemplo chinês é determinante concreta à derrocada das experiências neoliberais, sobretudo na África e na América Latina.


 


 


Logo, um estudo aprofundado das reformas econômicas chinesas não resiste à prova empírica da principal determinação que envolve o soerguimento da nação chinesa e a atual alteração lenta e gradual da correlação de forças no mundo. A principal determinação é política e quem comanda o processo político na China é o PCCh, com todos os símbolos e requintes anexos. Independente da vontade uma porção de indigitados jornalistas e afins. De direita e de esquerda.


 


A imprensa e uma base do PCCh no espaço sideral


 


 


Com o auxílio de diários nacionais e internacionais acompanhei o andamento do 17° Congresso do PCCh. Não me impressionou o fato de – com raras exceções – o conteúdo escrito acerca deste evento não ter passado da fronteira da superfície ideológica, arraigada de preconceitos. É como se nossa civilização ocidental fosse superior à oriental. Isso se expressa nas diversas ironias repetidas acerca do processo político como ele ocorre na China. Nossos jornalistas, sem nenhum esforço para serem pelo menos um pouco diferentes, repetiam as mesmas ladainhas de sempre, como se não estivesse em jogo o destino de mais de 1,3 bilhão de seres humanos.


 


É como se as disputas internas no nível das convenções das tendências (democrata e republicana) do partido único do grande capital nos EUA fossem verdadeiros espetáculos de democracia em detrimento dos interesses intrínsecos das indústrias armamentista e petrolífera no processo eleitoral no seio do imperialismo. Ou melhor, é como se a Assembléia Nacional Popular da China fosse uma caricatura a serviço de uma ditadura implacável e a Câmara dos Deputados e o Senado dos EUA não fosse o balcão de negócios dos oligopólios e mega-especuladores norte-americanos. Qual órgão de representação é mais letal aos povos? A dirigida pelo PCCh ou a dirigida pelas tendências do partido único do grande capital? Quem a história condenaria: aquela que deu sinal verde para soltar duas bombas atômicas sobre o Japão e legislou por mais de 150 anos institucionalizando onde negros poderiam ou não entrar, ou aquela que delibera a remessa de bilhões de dólares para o combate às desigualdades sociais e territoriais na China?


 


 


Exemplificando, uma matéria assinada pela enviada da Folha de S. Paulo à Pequim dava conta dos carros de luxo (Audi A-6) que transportavam os dirigentes do PCCh ao Grande Salão do Povo, subjetivamente denunciando algo repreensível sob o ponto de vista moral. Acredito particularmente que nenhum comunista deve fazer voto de pobreza. Ao contrário da única autoridade mundial a fazê-lo, o Papa, para quem em alguns quilômetros quadrados concentra-se muito mais riqueza em seu nome do que o PIB dos 30 países mais pobres do mundo.


 


 


Já o correspondente de O Globo não vacila em nenhum momento em sua cruzada semanal contra a China e já nem consegue disfarçar sua preferência por uma China de joelhos perante o Ocidente. Em sua ânsia de agradar seus patrões situados acima e abaixo da linha do Equador, comentou de forma jocosa (e demonstrando, como sempre, um baixíssimo nível cultural, típico de nossos jornalistas) o anúncio do governo chinês de montar uma base do PCCh no espaço sideral (1), classificou tal anúncio e sua reprodução no Xinhua (agência de notícias “Nova China”) como “uma das mais insólitas reportagens da história jornalística do país” (2). Evidente que o correspondente também não demonstrou muita satisfação pela declaração de amor ao comunismo feito pelo primeiro astronauta chinês Yang Liwey reproduzida em sua matéria (3).


 


Agora vamos perguntar para ele o que acha do fato de os EUA terem satélites monitorando 24 horas por dia a vida (inclusive particular) de grandes líderes mundiais. Aliás, Ronald Reagan sabia até a hora em que Iuri Andropov retirava-se de uma certa reunião com destino ao banheiro. Isso é permitido, nada insólito…


 



Camuflando uma vitória


 


Na realidade o que acontece é um camuflamento deliberado de alguns significados inerentes à realização deste Congresso. A China continua a crescer continuamente, seus dirigentes estão centrados na correção de contradições surgidas nas duas últimas décadas, pela primeira vez na história um programa de ação de um partido dirigente insere uma elaboração acerca da necessária visão de conjunto acerca do desenvolvimento e também pela primeira vez um país pôs em execução um plano de médio prazo voltado è preservação do meio ambiente.


 


Sobre a corrupção, bom notar que esse combate de longo prazo é a maior prova de fogo à capacidade de seus dirigentes de manter o país no rumo. No passado, a URSS cresceu e se desenvolveu, assustou o mundo com seus feitos econômicos, sociais e científicos, porém sucumbiu pela incapacidade de seus políticos em lidar com essa praga, inclusive sendo engolidos por ela. Na China, a inépcia de imperadores levou os camponeses do país várias vezes nos últimos 2.500 anos a se levantarem contra o status quo. A história ilumina o presente e o futuro. Os chineses são cônscios disso.


 


A direção do PCCh foi renovada, sendo que dos quatro novos membros do Politburo, três deles estiveram envolvidos diretamente na execução de deliberações de combate à corrupção. Durante o Congresso espalhou-se a notícia de que a China havia se tornado – no mês de agosto – a primeira colocada em exportações no mundo, ultrapassando temporariamente a Alemanha, com aumento verificado com relação ao ano anterior de 20%.


 


 


Enfim, fica uma sensação irresistível de que os chineses estão vencendo, etapa por etapa, fase por fase. Essa é a grande lição imediata que pode-se tirar deste evento de alcance mundial.


 



Notas:


 


(1) Segundo Yang Liwey (primeiro astronauta chinês a entrar em órbita em 2003) já estão sendo preparados 14 astronautas chineses para o cumprimento desta missão.


 


(2) “Para PC chinês, nem o céu é o limite”. O Globo. 21/10/2007.


 


(3) Para Yang: “Como astronautas estrangeiros têm seus credos, nós acreditamos no comunismo, que também é uma força espiritual”.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor