A competência dos dirigentes sindicais

No Valor Econômico do dia 2 de outubro, a sua coluna “Águas Profundas” exaltou o sucesso da Petrobrás, empresa estatal, na busca de auto suficiência brasileira de produção e refino de petróleo. Delfim atribui esta trajetória de sucesso à “cultura” do mérito criada logo no início da empresa e que continua viva. “A Petrobrás”, disse, “nasceu de uma batalha política conduzida apaixonadamente, mas desde o berço ela foi blindada contra a interferência político-partidária”.

Delfim Netto tem a contumácia de fazer autocrítica dando lições aos outros; isto é uma virtude ou esconde um grave defeito. Continua sempre venenoso.
 

Ao mergulhar nas águas profundas ele apanha e nos mostra uma pérola, que vou transcrever: “a experiência mostra que, em geral, há uma correlação negativa entre atividade no sindicato e competência funcional”. Isto está dito assim mesmo, sem ligação com o resto do texto. Acredito que falta alguma coisa; como está, “a peróla” caiu do céu sem ostra que a engendrasse.
 

Que experiência mostra? Que correlação negativa é esta? O que é competência funcional?

Se, exatamente, “competência funcional” é definida pelas direções das empresas e a atividade no sindicato pressupõe a liderança e organização dos trabalhadores, portanto uma nova competência, a afirmação de Delfim é preconceituosa e errada.
 

Logo ele que sempre nos alerta contra as armadilhas das correlações caiu nesta esparrela infantil. Há duas ou mais “competências”, sempre. E elas têm dimensões diferentes e não podem ser singelamente comparadas.
 

O que ele talvez quisesse dizer (e não o fez por acanhamento) é um dos dogmas do reacionarismo e da “cultura” empresarial sobre a incompetência dos trabalhadores e das direções sindicais. Quem se atreveria hoje a defender abertamente esta tese?