Um ministro contra a Educação

O que se espera de um ministro da Educação é a defesa das universidades públicas brasileiras e não a sua desmoralização.

As universidades brasileiras, ao contrário da realidade de muitos países, são relativamente jovens. Diferentemente da Universidade de Bologna, considerada por muitos a mais antiga do mundo, com quase mil anos de existência, ou mesmo a Universidade de Santo Domingo, na República Dominicana, que data do início do Século XVI. No Brasil, as primeiras experiências que substituem as faculdades isoladas e constituem um modelo de universidades parecido com o atual, surgem apenas no início do século passado. E, ao invés de fortalecer essas instituições como pilares da produção cientifica e cultural do país, como fizeram outros países, o governo federal tenta a todo momento desmoralizá-las e entregá-las à iniciativa privada.

No início do governo de Jair Bolsonaro o ex-ministro da educação, o colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, chegou a afirmar em uma entrevista que universidade não deveria ser para todos os brasileiros. Vélez ficaria chocado com os dados divulgados na última semana, que demonstram que pela primeira vez os negros são maioria entre os matriculados das instituições federais de ensino superior. A adoção de sistemas de reservas de vagas para estudantes negros e oriundos de escolas públicas no ensino médio ajudaram a quebrar a extrema elitização do acesso às universidades públicas no Brasil, especialmente nos cursos de maior concorrência. Tal democratização se mostrou acertada, pois o desempenho desses estudantes nos cursos é igual ou superior aos dos não cotistas.

Atualmente o ministro da Educação Abraham Weintraub, na linha de seu antecessor, tem desferido uma série de ataques às universidades públicas com o intuito de pavimentar o caminho para a privatização. O Future-se, uma espécie de financiamento privado para as universidades, pretende copiar mecanicamente modelos norte-americanos de universidades, desconsiderando completamente a realidade do Brasil. O que o ministro realmente quer é minar as bases da autonomia universitária conquistada na Constituinte de 1988, e que garantem autonomia plena das instituições, sobretudo, liberdade de cátedra, de pesquisa e de gestão financeira.

Ao afirmar de forma leviana que as universidades se utilizam da autonomia universitária para plantar maconha e produzir metanfetaminas em seus laboratórios de química, o ministro desce ao mais baixo nível e ataca instituições que são na verdade responsáveis por produzir conhecimento e inovação científica. Foram elas que propiciaram ao Brasil desenvolver tecnologia para a exploração de petróleo em águas profundas, ser recordista na produção de alimentos e de proteína animal, produzir vacinas e medicamentos para o mundo, como o Captopril e, exportar sua engenharia para países menos desenvolvidos. A produção acadêmica e científica das universidades brasileiras é um ativo insubstituível para o desenvolvimento autônomo do Brasil.

É preciso compreender que essas instituições, patrimônios do povo brasileiro, são fundamentais para o desenvolvimento nacional, para a construção de uma sociedade com melhores condições de vida, para a concretização do estado laico e para o aperfeiçoamento da democracia. Por isso os dias atuais exigem dos estudantes brasileiros e de toda a comunidade acadêmica uma dura luta contra o desmonte da educação.

O que se espera de um ministro da Educação é a defesa das universidades públicas brasileiras e não a sua desmoralização. Mas na visão do governo não pode haver autonomia porque as instituições discordam das políticas governamentais. Entretanto, isso é algo típico de regimes autoritários. A verdade é que é contra o pensamento crítico e sua disseminação que o ministro se levanta, e é em defesa desse pensamento que devemos lutar!

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor