Frente Amplíssima Democrática para combater a extrema-direita

A ofensiva golpista do Imperialismo não dá sinais de arrefecer. Pelo contrário. Brasil, Bolívia, Chile, Venezuela, Uruguai vivem sob o espectro golpista de forças antinacionais, inimigas da democracia e das gentes latino-americanas. Para não perder viagem e oportunidade, é bom nomeá-las: latifundiários, banqueiros, grande mídia, capital estrangeiro norte-americano e europeu.

Os comunistas marcaram um tento no STF: sua Ação Direta de Inconstitucionalidade, por, além de pertinente, ser bem montada, articulada e operada, deu ao tribunal superior a chance de repor as prerrogativas cidadãs e democráticas do artigo 5º da Constituição Federal. Com a vitória da votação no plenário do Supremo, Luiz Inácio saiu do cárcere.

Esta vitória e a consequente liberação do líder operário e de outras personagens não é produto restrito, como alguns consideram, de vigílias à porta de celas ou de campanhas pela liberdade de um homem. Liberdade e conquista são filhas da luta democrática que importantes setores levam no atual ambiente envenenado que a extrema-direita instalou e permanentemente alimenta.

A libertação de uma liderança não é também o ponto de virada, como outros tantos acalentam. Se ela é produto da ação de amplos setores que souberam navegar nas contradições de uma realidade política mutante, ela, por outro lado, não foi capaz de alterar significativamente a correlação de forças ao ponto de se dar por certo o retorno em 2022 dos partidos progressistas ao comando do executivo federal.

As vitórias, não há muito tempo, de Evo Morales na Bolívia e do peronismo na Argentina; as manifestações radicalizadas no Equador e no Chile; e as perspectivas eleitorais no Uruguai, somadas à libertação do dirigente petista no Brasil, alimentaram em muita gente ilusões travestidas em compreensíveis esperanças. No entanto, a vida demonstra mais uma vez que aparência não corresponde à essência. Mal foi anunciada a vitória de Evo, a Bolívia foi golpeada na tradição dos golpes mais nefandos. A Venezuela de Maduro continua sob o torniquete de uma direita raivosa amparada pelo imperialismo. O Chile mergulhou na lógica do contra todos e tudo, o Uruguai vai a um segundo turno imprevisível, e o Brasil segue na marcha de uma insensata polarização que apenas interessa à extrema-direita e seu capitão de fancaria. Como ficará o governo democrático argentino num ambiente assim?

Diante de um quadro destes, de ofensiva sem tréguas do imperialismo na América do Sul, de ataque sistemático do bolsonarismo à democracia, aos direitos do povo e à soberania nacional no Brasil, é uma irresponsabilidade sem par nestas matas propor articulações políticas restritas, seletivas, e insistir numa polarização entre o partido da estrela e a malta fascista.

O ex-presidente Lula sai da prisão sem nada ter aprendido. Faz o velho discurso egocêntrico, focado no “eu nunca dantes neste País”. Em outro canto do ringue, Ciro Gomes faz evoluções com rebenque e peixeira, arrotando asperezas pra cima do peão do ABC. Ambos parecem meninos no larguinho do bairro, bradando um pro outro: cospe aqui se tu for macho.

Enquanto isso, a direita nada de braçada. Aprova o que quiser e bem entende para bagunçar a vida do povo, arrancar o couro ao trabalhador, privatizar a riqueza nacional e encher as burras dos banqueiros. Expoentes da extrema-direita, canil irracionalista e autoritário das classes dominantes, chegam ao luxo de baterem boca entre si nas redes, confiantes de que não terá oposição capaz de barrar-lhes o caminho.

O Brasil, nesta conjuntura sob todos os ângulos surreal, necessita de uma Frente Ampla Democrática, não de uma frente de esquerda, mesmo que venha esta disfarçada de frente progressista, como melifluamente certos espertinhos a querem nomear. E porque, mesmo progressista, não basta? Porque a Frente deve ser mais do que ampla: deve ser amplíssima. Deve envolver todos e todas que tenham o mínimo de contradição com o governo bolsonarista. Uma Frente assim, de amplo espectro político e social, somente prospera se articulada em torno da Democracia, pomo da concórdia entre correntes e organizações diferentes e, em certos casos, opostas.

E por que deve ser ela assim, Frente Amplíssima Democrática? Porque é uma necessidade do Brasil. E por que tem ela assim foros de necessidade? Porque o inimigo é bem mais forte: ele tem uma base de sustentação política e social coesa, o apoio do capital estrangeiro monopolista, dos bancos milhardários, dos grandes donos de terras, de importante setor da grande mídia, das milícias e do crime organizado, e possui uma rede virtual bem estruturada e muito influente. Toda esta sustentação política traduz-se em sustentação material, financeira, capaz de comprar mais apoio, mais mídia, mais cadeiras nos parlamentos e comandos de governos.

Por outro lado, há uma enorme parcela da sociedade neutralizada, que não se enxerga nem na extrema direita, nem na direita liberal, nem na centro-esquerda, e nem na esquerda. É um contingente à espera de um projeto e de uma alternativa política capaz de compor uma nova maioria. Há ainda os que embarcaram no comboio de Bolsonaro em 2018, mas que vão verificando que os seus bilhetes não são para a viagem toda. Por fim, há aqueles 30% que se opõem ao governo e suas mazelas, mas ainda não enxergam um ponto de encontro, não reconhecem uma ordem unida, e marcham dispersos, juntando-se pontualmente em torno de bandeiras específicas, de resistências setoriais.

A união é do campo democrático, não apenas do progressista, muito menos do de esquerda. É a união das forças que firmaram, em 1988, numa Constituição Cidadã, o regime de democracia política que até bem pouco regulou a relação e a luta entre as partes em contenda no território nacional. Não foi somente o ciclo Lula-Dilma o golpeado em 2016. Foi o ciclo democrático iniciado com a derrubada, em 1985, da Ditadura Militar de 64. É este que vem sendo desmontado pela matilha bolsonarista.

A hora é de ter juízo. Ciro, Dino, Lula, Maia, tucanos, socialistas, liberais, comunistas, democratas de diferentes matizes e graus, as inúmeras entidades sociais e populares, artistas e intelectuais de variadas correntes e projeções, religiosos de diversas crenças, trabalhadores e trabalhadoras, jovens, mulheres, negros, as incontáveis nações ameríndias, lideranças das diferentes orientações sexuais: a hora é de união de amplas forças democráticas contra o avanço da extrema-direita fascista. Foto em instituto sob o mando de um só homem, a essa altura do campeonato, só atrapalha, e nada ajuda.

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