É a correlação de forças, Fernández

Vitorioso mas urnas, o novo presidente da Argentina, Alberto Fernández, terá que governar sobre os escombros do desastre ultraliberal de Maurício Macri.

Na sociedade argentina há um misto de grande expectativa positiva por parte da população sofrida e de apreensão por aqueles que se beneficiam da produção e da renda e da usura.

O novo presidente anuncia como uma de suas primeiras medidas o controle rigoroso do câmbio — uma das frestas pelas quais a elite e as forças que lhe fazem oposição tentarão fragilizar o novo governo.

Algo parecido com os primeiros momentos do governo Lula, que teve que enfrentar uma economia em frangalhos como herança de Fernando Henrique Cardoso.

Antes da posse, em um almoço na Prefeitura do Recife, a uma certa altura ele se incluiu numa conversa que mantínhamos a um canto da mesa, o ex-ministro da Agricultura Armando Monteiro Filho, o então futuro ministro da Educação Cristóvão Buarque e eu, justamente sobre os desafios na área econômica.

Lula então nos disse que concordava com a análise cruenta que fazíamos, mas que recusava-se a considerar o Brasil quebrado uma vez que até pouco antes nós éramos considerados a oitava economia do mundo.  E que agiria com cautela, preferindo até ser acusado de lento e conservador, mas que não se prestaria a ser um novo Fernando de la Rúa — referindo-se ao ex-presidente argentino que, bem intencionado mas desatento quanto à real correlação de forças, tentou dar passos além da tamanho das pernas e caiu em meio a um tremendo panelaço promovido por multidões insatisfeitas.

A maioria dos senadores e deputados federais eleitos, na ocasião, havia marchado com Serra, e não com Lula. Muitos acordos teriam que ser feitos pela governabilidade.

Eis, portanto, os dois elementos que haverão de caracterizar inicialmente a gestão de Fernández: a adoção de um programa destinado a superar os entraves e as mazelas do ultraliberalismo de Macri e o empenho para melhorar a correlação de forças.

Ele venceu o pleito, mas a oposição ainda é muito forte.

Dilma em seu segundo governo não entendeu isso. Oxalá Fernández entenda.

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