Déspota desastrado

A fórmula não é nova – nem aqui nem alhures. Governantes crentes na própria popularidade e pouco afeitos ao jogo democrático colidem abertamente com as instituições no intuito de fazer crer que seus lídimos propósitos não se realizam porque a engrenagem estatal não funciona.

Sendo assim, por que não plenos poderes conferidos pela sociedade?

E o governante eleito faz-se líder de golpe de Estado e se considera ungido pelo apoio popular.

O capitão reformado Jair Messias Bolsonaro certamente acredita ser mesmo um “mito”. E que as bênçãos divinas, frequentemente renovadas em atos religiosos de credibilidade mínima, haverão de protegê-lo em sua empreitada autoritária.

Não completou ainda o primeiro ano de governo e quase semanalmente gera crises políticas, de variadas montas, mediante atos e palavras.

De lambujem, segue dispensando aliados antes tidos como de sua íntima confiança. Sequer respeita os que envergam quatro estrelas na farda.

Num regime em que as relações entre o Executivo e o Legislativo em grande medida dão o conteúdo e o ritmo das ações de governo, desde o primeiro instante proclama sua recusa à negociação e se diz avesso às dinâmicas partidárias.

Mas no meio do caminho há algumas pedras.

O “mito” não passa de personagem primária, de um reducionismo precário em todos os temas, sem noção da dimensão do cargo que ocupa.

Incapaz de lidar com contradições próprias do processo democrático, busca agasalhar-se nos pouco mais de vinte por cento da população que acriticamente o segue, turbinada por concepções retrógradas, pelo preconceito e pela intolerância.

Mas a conta tende a não fechar. Vai perdendo apoios e a sua credibilidade (se já a teve) se esgarça a cada lance de seus impropérios.

Em perspectiva, tende a se isolar. Inclusive pela agenda econômica sob o comando quase imperial do ministro Paulo Guedes e seu grupo, empenhados na montagem de um quebra cabeças cujas peças não se ajustam. Políticas ultraliberais em país periférico, carente de dinamismo estatal e estancado por empecilhos estruturais, não dialogam com o crescimento econômico nem com as necessidades e expectativas da maioria social.

O lance mais recente do capitão mira a legenda pela qual se elegeu, o PSL, sugerindo que pode dispensá-la e fundar outra para chamar de sua. Isso enquanto o País afunda em crise.

Do lado de cá da equação – o campo oposicionista -, um mínimo de espírito patriótico haveria de conduzir ao ajuntamento de forças no intuito de isolar, enfraquecer e derrotar o desastrado adversário. Mas aí também fluem contradições e disputas inconsequentes que também fazem parte do drama atual da brava gente brasileira.

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