Movimentos importantes

Frente ampla é uma necessidade política em tempos sombrios. Partidos de esquerda se movimentam em busca de diálogo e amplitude para se formar uma frente de oposição concreta ao governo Bolsonaro e seus ataques contra a democracia e a Constituição.

Mais do que adversários os partidos que fundaram o pacto político-social da Constituição de 1988, optaram pela democracia como forma inequívoca de sistema político. Foi a segunda tentativa de uma democracia representativa em um país assolado por colonização, impérios e ditaduras.

O esforço de se controlar o ímpeto autoritário, a janela de oportunidades com o clamor popular desejando participação política, o sufrágio universal, a abertura partidária, tudo isso assegurou uma Constituição avançada em direitos civis, políticos e sociais que iria conduzir o Brasil rumo a um novo modelo de desenvolvimento. Parecia que tínhamos finalmente chegado a um grande acordo entre as elites, os setores médios da população e os pobres, que ainda carregando o peso histórico de 380 anos de escravidão, começariam a integrar a sociedade e exercer a cidadania de fato.

Governos seguintes, de centro-direita à centro-esquerda, respeitaram os limites das instituições democráticas ressalvadas uma ou outra crítica em relação aos seus métodos. Nossa Constituição apesar de ser relativamente fácil de ser emendada, sofreu modificações que, devido as transformações da sociedade, as conjunturas econômicas e as vontades políticas não a desfiguraram por completo a ponto de se pensar em um novo pacto político-social.

Duas visões macro de Estado sempre se confrontaram dentro dos limites do jogo após a redemocratização: Um Estado mais gerencialista focado em problemas específicos interferindo o mínimo na economia; e um Estado mais desenvolvimentista impulsionando a economia com investimentos públicos e uma forte rede de proteção social. Em síntese o neoliberalismo x nacional desenvolvimentismo.

Toda essa dinâmica que estruturou a democracia e o sistema político brasileiro até então, se encontra ameaçada com a volta de um governo autoritário ao poder. Em um processo sistemático a extrema-direita que havia adormecido após o fim da Ditadura Militar, se insurge contra tudo e contra todos se aproveitando de uma crise política aguda, aonde partidos políticos estabelecidos desacreditaram da própria democracia que ajudaram a construir.

Esse erro de cálculo da direita liberal talvez não tenha sido percebido no momento pelo calor das paixões, mas hoje faz refletir aqueles que tem ainda algum compromisso com a democracia. A esquerda, maior prejudicada com a atual conjuntura, pois sofreu os ataques das elites, da mídia, e dos partidos de direita até ser retirada do poder, se encontra isolada e acumula suscetivas derrotas. Porém segue no seu papel intransigente de denunciar o regime fascista que ascendeu ao poder e o erro da aliança da direita com o fascismo como meio de implementar a agenda neoliberal. A legitimação do autoritarismo pode ser um caminho sem volta.

Bolsonaro não está somente minando a democracia dia a dia, está também em um esforço descomunal para alterar as bases do pacto político-social estabelecido pela Constituição. A descontinuidade de políticas sociais, o ataque contra a educação pública, a interferência política em instituições autônomas, o aparelhamento do Estado por interesses particulares, o nepotismo, a diplomacia subserviente aos EUA, tudo isso são práticas que jogam contra o Brasil e a sua Constituição, além de prejudicar a economia nacional.

Por conta desses choques contra o sistema político e contra as instituições, mesmo avançando em algumas pautas econômicas ultraliberais, o governo é uma fábrica de crises. Os resultados iniciais são péssimos, o desemprego não diminui, a previsão do PIB semana após semana cai alguns décimos sendo inversamente proporcional ao Dólar que sobe até atingir a sua maior alta em tempos de Real, os investidores internacionais nunca retiraram tanto dinheiro do país.

Vendo que não tem como esperar mais por alguma reação do governo que solucione os graves problemas nacionais, partidos de diversos espectros políticos começam a dialogar em busca de um projeto em comum mínimo, que possa garantir ao país a superação da crise. A esquerda já vem em um esforço gradativo de união e atuação coesa do seu campo político e agora busca amplitude para a oposição ao governo. Com o aprofundamento dos rompantes antidemocráticos de Bolsonaro, surgem movimentos políticos talvez impensáveis em outros tempos.

Desta forma a frente ampla não será algo estanque, imóvel, mas sim que se organizará em determinadas pautas aonde se acumule o máximo de forças necessárias para conter os danos, que já são muitos em 8 meses de governo, e isole o bolsonarismo em sua redoma radical e obscurantista.

Um indicativo do que pode ser uma ampla aliança de oposição ao bolsonarismo foi o lançamento na noite de segunda-feira (2/9), do Fórum Pela Democracia Direitos Já! Iniciativa que reuniu representantes de partidos como PT, PSDB, PCdoB, PSB, PDT, PV Solidariedade, Podemos, Cidadania, além de organizações da sociedade civil como OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), UNE (União Nacional dos Estudantes), e centrais sindicais como Força Sindical, CUT e UGT.

Os debates que foram iniciados tem foco central na defesa da democracia e dos direitos garantidos pela Constituição, porém é urgente transportar tais debates para ações políticas efetivas, como por exemplo, uma ampla coalizão de defesa no parlamento e alianças estratégicas para conter o avanço do bolsonarismo nas eleições municipais de 2020. Em tempos sombrios inimigo do meu inimigo é meu amigo, primeiro recuperamos a democracia e a política, depois que vença o melhor no debate esclarecido de projetos de país.

A violência política não pode mais cimentar o debate público. Contra o fascismo, frente ampla pela democracia!

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