Amazônia: Ciência e Tecnologia contra o obscurantismo

Ao longo dos tempos tenho sustentado que não é possível desenvolvimento sem sustentabilidade e nem sustentabilidade sem desenvolvimento, na medida em que toda atividade econômica predatória levará, inevitavelmente, à rápida exaustão dos recursos naturais e, por outro lado, impedir que se use os recursos naturais significa condicionar a sociedade a uma vida de fome e privações. É a expressão do produtivismo x santuarismo.

É contra essa dicotomia metafisica, anticientífica, que se ergue a teoria da sustentabilidade reconhecendo, a um só tempo, que todo recurso natural é finito e que não há atividade sobre a face da terra, seja antrópica ou natural, que não provoque impacto ambiental. A extensão e o alcance desse impacto dependem diretamente do tipo de manejo que se aplica nessas atividades.

Quanto maior for nível de ciência e tecnologia, bem como de envolvimento consciente da população local menor será o impacto, maior será o tempo de uso dos recursos e, em especial, melhor será o padrão de vida da sociedade amazônica, especialmente as populações indígenas, ribeirinhas, extrativistas e agricultores de base familiar.

Embora a ciência esteja permanentemente em evolução e nem sempre tenha respostas acabadas para todos os desafios que a sociedade lhe apresenta, ela já dispõe de um cabedal razoável de técnicas para enfrentar adequadamente esses desafios, a depender da vontade e do compromisso dos gestores públicos em tornar esses conhecimentos acessíveis.

Como Secretário de Estado da Produção Rural do Amazonas, em dois períodos distintos, nos anos 2007-2009 e 2011-2013 conseguimos praticamente dobrar o PIB do setor primário amazonense e ao mesmo tempo reduzir o desmatamento e as queimadas da Amazônia recorrendo fundamentalmente a ciência, a tecnologia e ao envolvimento popular.

Contra as queimadas oferecemos a política de mecanização que, além de evitar o fogo, ainda dobra a produtividade do agricultor. Mas fomos além: criamos o primeiro programa de agricultura indígena, estimulando que as comunidades indígenas produzissem seu próprio alimento, além de comercializar o excedente nos “feirões da SEPROR”, espaços criados para atender a todo e qualquer produtor rural do Amazonas.

Criamos uma rede agroindústrias com o objetivo de verticalizar a produção e agregar valor a matéria prima regional, sem o que o trabalhador rural se torna um eterno fornecedor de matéria prima barata enquanto perdura a miséria que o cerca. O exemplo mais notável dessa experiencia foi exatamente a construção da primeira fábrica de bacalhau da Amazônia, feito a partir do pirarucu de lagos manejados.

Respondendo a ineficiência da pecuária extensiva, que cria um boi por hectare de área, desenvolvendo experiencias de pastejo rotacionado que permite ao produtor criar até 05 cabeça de gado no mesmo espaço. Aplicado em cada nacional, o rebanho pode quintuplicar sem que haja necessidade de retirar uma única árvore sequer.
Aumentamos a autoestima do produtor com programas de cultura no campo, que ia do teatro a música, passando pela edição de livros com poemas e contos do campo. Mas, principalmente, criamos os ETAF – encontro de trabalhadores da agricultura familiar – onde os trabalhadores não apenas apresentavam suas demandas, mas onde, coletivamente, buscavam as soluções.

E, em parceria com o exército brasileiro, criamos o projeto Sargento Agrário, destinado a produzir alimento diretamente aos pelotões de fronteira e, ao mesmo tempo, envolver a comunidade do entorno na atividade agrícola produtiva.

Foi dessa forma que praticamente dobramos o PIB do setor sem agredir o ambiente.

Mas, agora, nos tempos de obscurantismo a importância da Ciência e da Tecnologia é ainda maior, assim como é imprescindível a organização e a mobilização popular, razão pela qual saudamos com entusiasmo o EXITOSO relançamento do Movimento de Defesa da Amazônia, ocorrido no dia 30 de setembro no espaço do Centro de Ciências do Ambiente (CCA) da Universidade Federal do Amazonas.

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