Nunca é fácil

Jamais foi possível avançar no sentido da democracia e da transformação social sem uma ampla conjugação de forças. Aqui e mundo afora.

Mas juntar forças díspares em torno de objetivos imediatos comuns nunca é uma operação política fácil. Sempre se depara com resistências sectárias e exclusivistas, requer abordagem atenta e consequente da situação concreta.

Lênin, o líder genial da revolução socialista na Rússia, indicou que alma da política está na tática; e que a essência da tática brota da correlação de forças.

Em qualquer circunstância, sobretudo em conjunturas adversas, é necessário partir da unidade das forças mais avançadas, atrair para o nosso campo todas as forças suscetíveis de serem momentaneamente atraídas, neutralizar as que porventura não possam ou não queiram marchar temporariamente ao nosso lado e isolar, enfraquecer e derrotar o inimigo principal.

No Brasil, a reeleição da presidenta Dilma em 2018 — quarta vitória consecutiva do povo nas eleições presidenciais — foi lida de maneira distorcida por parte da coalizão vitoriosa, sobretudo pelo partido hegemônico.

Naquele pleito, vencemos as eleições presidenciais e perdemos por larga margem a composição da Câmara dos Deputados e do Senado.

Por não apreender este dado na devida conta, uma sequência de erros táticos se deu desde então, produzindo derrotas sucessivas — da eleição para presidência da Câmara ao impeachment da presidenta Dilma, desdobrando-se na vitória da extrema direita em outubro de 2018, que elegeu o capitão Bolsonaro.

Óbvio que enfrentamos uma hoje situação muita adversa, apesar do desgaste precoce do atual presidente e da perda relativamente acelerada de apoio do governo no conjunto da sociedade.

Nessas condições, a insistência de parte das nossas forças em seguir carreira solo na busca de autoafirmação visando o próximo pleito presidencial, subestimando a dimensão da convergência na luta, se constitui na principal debilidade da oposição.

E este é um fenômeno recorrente em nossa história.

Na resistência à ditadura militar implantada em 1964, que durou vinte e um anos, por exemplo, só na reta final é que se explorou devidamente as contradições do campo governista e se costurou uma coligação ampla, que tomou a forma da Aliança Democrática e elegeu, em pleito indireto, Tancredo Neves presidente, derrotando o candidato do regime Paulo Maluf.

Frente ampla nunca se dá como “ponto de partida”. Requer amadurecimento e acúmulo de forças. Implica combinar a resistência na base da sociedade, no parlamento e demais instâncias institucionais com o debate persistente destinado a vencer incompreensões – até um almejado “ponto de chegada” onde se possa inverter a correlação de forças e voltar a vencer.

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