A falsa simetria dos canalhas

Alguns setores da elite descobriram, somente agora, que não gostam de Jair Bolsonaro, porém para atacar o atual Presidente da República insistem na falsa comparação do regime fascista que se desenha de maneira mais clara, aos governos democráticos e populares da esquerda com Lula e Dilma, tudo isso para fazer nascer uma terceira via “moderada” para levar a frente a agenda neoliberal.

Canalhas, canalhas, canalhas!!! Assim, o ex-Senador Roberto Requião começou o seu discurso na sessão do Senado que votou o golpe parlamentar que depôs Dilma Rousseff. O medebista fazia referência a Tancredo Neves que em 1964 chamou de canalhas os militares que declararam vaga a Presidência da República mesmo com João Goulart ainda estando em solo brasileiro.

Lembrando de Tancredo, Requião disse para a Câmara Alta do parlamento brasileiro que o golpe em Dilma, era mais uma vez, um golpe de canalhas com um único objetivo: destruir o estado de bem-estar social, vender o Brasil com tudo dentro para o capital vadio e especulativo, ou seja, passar a agenda neoliberal que não passava pelas urnas haviam 4 eleições.

Os canalhas golpistas que feriram de morte a democracia agora querem se livrar da responsabilidade. Se assustam com Bolsonaro mas não podem admitir o erro do ataque violento contra a esquerda que levou todos para o mesmo buraco, fazendo crescer o sentimento da antipolítica e fertilizando o solo para o florescimento do fascismo. A estratégia para se livrarem de Bolsonaro é tentar colocá-lo como uma possível antítese do PT, ou o seu espelho perfeito, plantando no imaginário popular a falsa ideia de que os governos petistas eram autoritários e antidemocráticos.

Com esse malabarismo retórico a elite consegue manter vivo ainda um inimigo comum da sociedade, criado la atrás no ataque sistemático para derrubar Dilma. O que se quer é criminalizar somente um partido ou uma força política que a desagrada, para continuar sequestrando o poder político que restar sem que os interesses da agenda neoliberal sejam incomodados. Esse imaginário perfeito adentra os corações e as mentes da classe média.

Fico imaginando se os governos do PT tivessem feito a metade, somente a metade do aparelhamento das instituições como vem fazendo o regime fascista de Bolsonaro em menos de um ano. Como seria a reação da mídia e da oposição? O republicanismo petista talvez tenha sido um erro, e ainda insistem na falsa simetria de comparar Lula e o PT com Bolsonaro.

O que se pretende apagar da memória junto a essa falsa simetria dos canalhas, é na verdade, um projeto de desenvolvimento com inclusão social. Se criminaliza a ideia de solidariedade na política, se criminaliza um projeto coletivo que encampou diversas forças, e abre-se espaço para o individualismo, a separação e a segregação política. Através de um debate moral, sequestra-se o debate econômico, qual seria a melhor forma do neoliberalismo passar despercebido? Esconder-se, não dar as caras no debate público, não dizer com todas as letras que vai esfolar o trabalhador em troca de lucros cada vez maiores dos especuladores do mercado.

Só que a direita “liberal” não pode continuar se escondendo por muito tempo, o projeto neoliberal é o responsável pelo fracasso da nossa economia, que segundo o mainstream econômico está em recessão técnica, e principalmente pela volta da miséria do nosso povo. O neoliberalismo daqui é igual ao da Argentina, é a agenda imperialista e do capital financeiro que não muda, só se aliou ao fascismo porque a elite brasileira nunca teve escrúpulos.

A esquerda tem que focar na agenda e não em Bolsonaro. É um erro achar que esse governo é louco e não tem agenda, estamos perdidos no diversionismo ainda dos absurdos e da idiotização do debate público promovidos por Bolsonaro, mas o que interessa mesmo é a agenda neoliberal passando a todo vapor no parlamento. O que a elite quer é isso, jogar Bolsonaro e PT no mesmo balaio pra surgir uma terceira via que leve a frente a sua agenda neoliberal.

É urgente retomar o debate econômico e de projeto de desenvolvimento da nação. Temos que jogar luz nesse debate para mostrar o que estão fazendo com o Brasil, destruindo o tímido estado de bem-estar social e a nossa soberania nacional, desmatando a amazônia, destruindo os recursos naturais. Tudo a serviço do capital financeiro, essa economia vadia que destrói a indústria e os empregos.

Os canalhas para tirar Dilma prometeram crescimento, para passar a Emenda Constitucional do congelamento do orçamento de investimentos em políticas sociais prometeram equilíbrio fiscal, para passar a reforma trabalhista e a terceirização prometeram empregos, e agora aonde estão todas as promessas??? Quem vai se responsabilizar pelo desastre econômico, o desemprego e o endividamento público crescente??? Tiveram tudo o que queriam e não entregaram nada.

Venderam parte do pré-sal, entregaram a Embraer pra Boing, estão privatizando a Previdência Social, essa sanha entreguista vai nos levar de volta a vassalagem, vai nos submeter ao neocolonialismo e a dependência dos países chamados desenvolvidos. O Brasil, antes protagonista na geopolítica global, volta a ser um verdadeiro anão diplomático reduzido ao gueto do terceiro mundo, servindo de chacota em noticiários europeus.

O Ministro da Economia todo poderoso Paulo Guedes, em sua primeira entrevista após a eleição, falou que enterraria o projeto econômico social-democrata, nada mais simbólico. Bolsonaro será um Temer piorado, só que com legitimidade das urnas e uma arma apontada para cada um que fizer oposição, além de trazer o conservadorismo reacionário extremo nas questões de direitos humanos e incitar nas suas milícias fanáticas práticas de violência.

Se para conter essa barbárie é necessário continuar mentindo, a elite pagará o preço mais uma vez. Quem irá cobrar, como sempre, será a história!

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