Diplomacia traz parente

Mesmo nos períodos mais duros da sua história, o Brasil conseguiu manter uma postura de autonomia e retidão na sua área diplomática. Agora, contudo, o presidente da República quebra essa tradição dos governos brasileiros e promete indicar um filho seu ao cargo de embaixador do país nos Estados Unidos, inaugurando o nepotismo também nesse ramo de atividade.

Com isso, vão pro espaço todas as promessas de campanha do chefe do governo sobre ocupação de cargos públicos. E isto numa área sensível, que expõem ao mundo sua forma medieval de governar e joga por terra, de uma vez por todas, qualquer pretensão do país de voltar a desfrutar de respeito internacional pela sua diplomacia.

O seu filho Eduardo Bolsonaro, que virou deputado federal por São Paulo na última onda eleitoral, em entrevista na TV se ofereceu ao cargo com argumentos infantis – e o pai, fingindo desentendimento, deu trela ao assunto e pôs nepotismo no caldo. O filho disse que havia morado nos Estados Unidos e ganhado experiência vendendo hambúrgueres na rua.

O pai valorizou a experiência e qualificou o filho ao cargo, ignorando outras injunções que a função suscita. Justamente ele que, na campanha eleitoral cansou de repetir que precisava ser eleito pra “acabar com essas mamatas” que seriam praticadas pelo PT e seus aliados. Foi severamente criticado por isso, inclusive por fiéis correligionários, mas disse que se a medida está sendo criticada “é porque é boa”.

Com afirmações soltas no ar, no entanto, ele acabou mexendo ainda mais profundamente na política externa de seu governo, expondo negativamente uma de suas fraquezas. Um setor que forma seus profissionais, que se enquadram em um plano de carreira e seguem uma política externa que era apartidária até recentemente, podia se considerar autônomo e exemplar. Mas, a farsa é maior do que se imagina, cada vez fica mais claro.

O chefe do governo se orgulha de poder indicar os embaixadores, mas se esquece de que não se trata de indicação pessoal, pois os membros do corpo diplomático não representam o governo e, sim, a nação. Tanto que os indicados precisam ter seus nomes referendados pelo Senado Federal.
Mesmo durante a ditadura militar o país manteve linha autônoma na sua diplomacia, criando a chamada política externa independente. Vale lembrar, por exemplo, que o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência da Angola, em 1975, quando esse novo país se libertava do jugo de Portugal, com o qual também mantinha boas relações.

O fato é eu o atual governo mostra sua real natureza, em que a farta distribuição de cargos a amigos e parentes se apresenta como forte característica. As mamatas, em verdade, mal começaram.

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